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Papo sério de Natal
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– Papai Noel, você chegou!

– Oi, Carlinhos!

– Trouxe meu presente?

– Claro que trouxe, meu filho. Em algum Natal deixei você sem presente? Trouxe sim, fica calmo. Só que antes a gente precisa conversar. Senta aqui do meu lado, senta.

– Papai Noel, quero dizer pro senhor que fui um bom garoto o ano todo e que…

– Eu sei, eu sei, Carlinhos. Você sempre foi um bom menino, sempre se comportou direitinho. Por isso que em todo Natal sempre ganhou o que me pediu. Eu sei muito bem disso. Mas não é sobre isso que eu quero falar com você, não.

– Não?

– Não!

– Sobre o que é então?

– Bom, é que…

– Fala, Papai Noel, fala. Se o senhor sem querer entregou o meu presente pra outro garoto, não tem problema. Não fico brabo, não. O senhor pode ir lá destrocar sem pressa. Fico aqui esperando.

– Não, também não é isso… Teu presente está certo. É aquilo mesmo que você pediu na cartinha.

– Um videogame novo?

– Sim, sim, teu videogame novo…

– De última geração?

– Ultíssima geração…

– Oba! E cadê ele, Papai Noel?

– Deixei no trenó, já vamos lá pegar. Porque antes, como já te disse, vamos ter uma conversa muito séria, meu filho.

– Mas eu já falei pro senhor que eu me comportei o ano todo. Pode perguntar pra minha mãe…

– Mas que guri teimoso! Já falei que não é sobre isso que eu quero falar com você.

– Tudo bem, Papai Noel, tudo bem, eu roubei do meu avô no jogo de damas… Desculpa… Mas foi só isso que eu fiz de ruim esse ano. Só isso! E foi uma vez só. Ele estava dormindo, fiquei com raiva que ele não prestava atenção no jogo e tirei uma dama dele do tabuleiro. Foi uma só! Eu juro!

– Não, Carlinhos, não é nada disso. Isso de dar uma roubadinha no jogo de damas eu também faço de vez em quando lá na praça central da Lapônia quando jogo com a turma dos aposentados. Não é nada disso. O que eu quero dizer é que…

– O senhor não vai mais trazer presente pra mim? É isso o que o senhor quer dizer?

-…

– É isso?

– …É, Carlinhos, é isso sim… Desculpa…

– Por quê? Eu tenho me comportado tão bem… Não falo palavrão, não respondo minha mãe e nem meu pai, não brigo com meus amigos… Por que o senhor está brabo comigo?

– Eu sei, Carlinhos, eu sei disso tudo… E não estou brabo com você, não, meu filho. Você sempre foi um menino exemplar!

– Então por que o senhor não gosta mais de mim?

– Não falei nada disso. Em nenhum momento eu disse que deixei de gostar de você. Não bote palavras na minha boca, guri. Por favor!

– Então por quê, Papai Noel? Por que eu não vou mais ganhar presente de Natal do senhor?

– É que…

– Fala, Papai Noel!

– Tá bom, vou falar.

– Então fala!

– Carlinhos, com quase 30 anos na cara você já passou da idade de acreditar em Papai Noel. Larga esta merda de videogame e vai arranjar uma namorada, meu filho!

***
Crônicas de verão

Rapaziada gente boa, a partir deste sábado, dia 19, o Caderno Verão da Gazeta do Povo publicará crônicas assinadas pelo beque aqui até o fim da temporada, em fevereiro. Quem quiser acompanhar, será muito bem-vindo. Reforçando: todo sábado, na versão impressa da Gazeta.

Abraços
Marcos

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