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“Tenho tudo para ser feliz e não consigo”, dizem homens e mulheres. As sufocantes cobranças sociais por êxito tem tirado o sono de muita gente que quer se dar bem em todas as áreas – profissional – financeira – sentimental

Você conhece alguém que se queixa da falta de sentido na vida quando está feliz? Esse tipo de reclamação ocorre em momentos de depressão, desilusão amorosa, perda do emprego ou algum mal físico. Como num passe de mágica, alguns momentos depois, é possível encontrar a mesma pessoa cantarolando, de bem com a vida. Afinal, o que dá sentido à existência é uma vida bem sucedida ou uma vida bem desfrutada?

Nascer, viver e morrer. Essa é a trajetória de todos os seres. Cabe a cada um criar um sentido para a sua vida. Sonhar, escolher os próprios caminhos, enfim seguir a sua existência dentro daquilo em que acredita. Difícil, com certeza. Como chegar lá se a sociedade julga conveniente um determinado objetivo que nada tem a ver consigo?

Por isso, tanta gente alcança as metas, mas não a realização pessoal.
A felicidade é pessoal, intransferível e inalienável. Mas a dificuldade está em como chegar neste ponto. Impossível sem refletir sobre o sentido da vida e as transformações do conceito de felicidade ao longo da historia. Pensadores, filósofos, terapeutas, escritores e outros estudiosos tem se debruçado sobre o assunto. Ao entrar numa livraria e só prestar um mínimo de atenção nos títulos dos maiores best sellers. A grande maioria promete formulas mágicas para se alcançar o sucesso nos negócios, conquistar o par afetivo, como ficar rico. Um convite ao sucesso. As pessoas atingem os seus objetivos. Mas, muitas vezes, pagam um preço muito alto.

João Carlos, 53 anos, empresário, divorciado, três filhas, iniciou o seu negócio há 30 anos. Trabalhou muito, não viu as filhas crescerem, passou noites e noites em claro pensando em como arcar com as despesas da empresa. Muitas vezes, ficou sem retirada para que pudesse pagar os poucos funcionários. A noite, cursou Administração de Empresas, inglês, depois veio a especialização em Gestão de Negócios. E a empresa passou a exportar, a contratar os melhores executivos e, nos últimos anos, seu nome passou a constar no ranking dentre as 100 melhores e maiores empresas nacionais.

Hoje, ele olha para trás e não se envergonha em dizer que se pudesse recuar, faria tudo diferente.
A sua amada o deixou para ficar com o terapeuta. Ela vivia reclamando que ele não tinha tempo e nem ouvidos para ela.
Com a separação as filhas mudaram de cidade e cada uma foi cuidar da sua vida. Nenhuma delas se interessou pela empresa. Alegavam que ele era um pai muito autoritário e dono da verdade. Há dois anos a empregada o encontrou caído no banheiro, vitimado por um AVC (acidente vascular cerebral) que deixou sequelas bastante serias.

“Trabalhei tanto achando que imóveis, carros e riqueza deixariam a minha família unida e feliz. Tenho tudo o que o dinheiro pode comprar e, tardiamente, percebi que não preciso de tudo isso.
Não consegui comprar a felicidade do meu lar; isso dói demais… Deixei de dar atenção às pessoas próximas para correr atrás de bens materiais e de coisas sem importância.Esqueci do básico da vida. Um por do sol. Um sorvete na esquina. Uma caminhada à beira-mar. Nunca participei de alguma atividade no colégio das meninas. Hoje sinto que durmo com o meu inimigo. Durmo sozinho e o meu maior inimigo sou eu mesmo. Perdi as pessoas que mais amo, a minha saúde e a razão de viver”, diz.

Recentemente, li uma entrevista da Maitê Proença e numa das respostas ela expressa muito bem o nosso dia a dia: “As pessoas estão muito bobas, medíocres. Elas valorizam o que não interessa. Querem uma casa em vez de um lar, uma posição em vez de respeito, milagres artificiais em vez de saúde. Intimamente, as pessoas sentem que estão vazias. Elas se preocupam com o de fora para manter o que está fadado a perder o glamour. Uma velhinha autêntica tem muito mais graça do que uma mulher de 40 que acha que tem 18. Já chorei por injustiças, pela decepção com amigos, pela incompreensão do mundo. Atualmente choro pelo cansaço. A falta de pausas, a armadilha corrida em que a gente vai se colocando, isso me faz chorar. Ver a vida correr sem poder curti-la é uma baita falta de sabedoria. Chegar onde estou e perceber que fiz isso comigo é desesperador. Preciso de uma rede, de sombra e baldes de água fresca para me curar”.

Diante dos nossos olhos diariamente nos deparamos com um modelo a ser seguido, mesmo que inconscientemente. E lá estamos nós correndo atrás de uma vida bem sucedida e que, na maioria das vezes, não corresponde nem de longe às nossas expectativas íntimas.

Não adianta procurar fora de nós mesmos o rumo da existência. Não podemos pegar carona na vida de outras pessoas. Aqueles que depositam todo o valor da vida no sucesso social, no poder, no dinheiro, estão fadados, mais cedo ou mais tarde, a um vazio e à perda do sentido da vida. A vida é emocional. Somos aquilo que sentimos. E as nossas emoções é que nos dirão se estamos certos ou errados. Nunca é tarde para recomeçar.
O amor próprio e a aceitação de si mesmo é que nos fazem ter sintonia com nosso coração, intuição e desejos, que determinarão o nosso rumo de vida.

O acordo feito com o nosso corpo e com os nossos sentimentos deve ser o alicerce seguro para partilhar o amor também com o próximo. Faço referência a um amor despretensioso, genuino,leal. É triste, mas quem escolhe ser senhor do seu destino valorizando mais o humano do que o divino pode acabar colocando o sucesso acima do bem estar coletivo e individual. É preciso saber equilibrar, pois algumas coisas estão sob nosso controle e outras, não. Viver, como diz Guimarães Rosa, é muito perigoso. A vida é um mistério para ser vivido e não um enigma a ser decifrado. Enquanto nossa cabeça tenta explicar o mundo, de onde viemos e para onde vamos, perdemos o sol, as cores, o afeto, o gosto, o tato, os sons oferecidos ao nosso corpo. A vida é, apenas, para ser saboreada.

Você, caro leitor, tem pensado sobre o sentido da sua vida?

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