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Kenji Goto, japonés executado pelo Estado Islâmico.

Kenji Goto, japonês executado pelo Estado Islâmico.

O Estado Islâmico é realmente uma ameaça, mas talvez a melhor forma de combatê-lo não esteja no campo do conflito bélico. O enfrentamento bélico direto envolveria, além de custos altíssimos, debates quanto a soberania dos Estados onde o Estado Islâmico instalou suas forças, o deslocamento de tropas para regiões instáveis que engendraria um conflito sangrento e custoso em uma região de difícil acesso, onde a morte de mais civis seria inevitável.

Nas relações internacionais não há como negar que a economia configura um instrumental de poder que viabiliza tanto a paz como o conflito e que pode sim ser o elemento que engendra o começo e o fim de um conflito ou de uma ação terrorista.

O Estado Islâmico, e suas incursões espetacularizadas a partir de uma propagação rápida da informação em uma era informacional sem precedentes, tem dado sinais de enfraquecimento. Qualquer guerra, ou incursão jihadista como é o caso, custa, e custa muito caro, pois para atingir a amplitude que as ações do Estado Islâmico atingiram não basta uma lança e uma interpretação radical (e aquivocada) de preceitos religiosos, mas sim a mobilização de exércitos, combatentes, suprimentos e todo e qualquer aparato que permita subjugar inimigos, o que demanda uma arrecadação volumosa, consistente e permanente.

Para se ter uma ideia, de acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos o Estado Islâmico possui ativos (que estão sendo também alvos das forças de coalizão) aproximadamente de 500 milhões de dólares e o seu custo mensal tem ultrapassado 10 milhões de dólares.

O Estado Islâmico já tem dado alguns sinais de que a crise econômica bate à sua porta. A tentativa de união com o grupo terrorista nigeriano Boko Haram, o qual não comunga de todos os preceitos do próprio Estado Islâmico, a tentativa de negociar corpos de combatentes curdos mortos em conflitos contra o Estado Islâmico por cerca de 20 mil dólares cada, a diminuição do recrutamento (com exceção de estrangeiros que buscam alistamento por simples morbidez e insanidade) de combatentes e o corte nos salários dos próprios combatentes do Estado Islâmico em até dois terços, o que tem causado uma série de deserções, são exemplos claros de que até mesmo os jihadistas sofrem com o fluxo de caixa.

A manutenção de um conflito gera custos, o que gera a necessidade de fontes de arrecadação crescentes, sem elas os fundos mínguam juntamente com o poder de fogo e a possibilidade de causar impacto em grandes proporções, fazendo com que grandes exércitos voltem a ser grupos organizados com ataques isolados em incursões mais baratas e não tão amplas como as que temos visto até o momento. Este enfraquecimento econômico facilitaria a atuação de forças de combate em direção à desmobilização desse grupo que espalha o terror não só na região, mas em todo o mundo a partir da universalização da barbárie graças à força e o poder da propagação imediata de imagens e informação.

A estratégia das forças de coalizão em bombardear refinarias controladas pelo grupo terroristas tem gerado resultados interessantes, vez que houve uma sensível diminuição na capacidade arrecadatória do grupo, pois este não mais pode depender da comercialização de petróleo refinado, o qual construiu a riqueza do Estado Islâmico e que já foi vendido a 140 dólares o barril. Atualmente, a sua arrecadação depende exclusivamente da comercialização, muitas vezes no mercado negro, de óleo cru, o qual não chega a alcançar o valor de 20 dólares o barril.

O Estado Islâmico aos poucos perde a sua capacidade financeira por não mais poder contar com uma fonte de renda lucrativa e estável, o que o coloca em uma posição deficitária, algo que mina sua capacidade de combate e o enfraquece, facilitando a atuação de forças de coalizão financiadas por Estados.

A economia pode ser o golpe fatal necessário ao enfraquecimento do Estado Islâmico, o que não faria com que este desaparecesse, mas sim que perdesse consideravelmente a sua capacidade de mobilização para uma ação ampla de terror.

 

 

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