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Paulo Martins
O deputado federal Paulo Martins (à esq.), candidato ao Senado no Paraná pelo PL em 2022.| Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo

O deputado federal Paulo Martins (PL) está certo em reclamar das pesquisas eleitorais que nunca o colocaram entre os dois principais concorrentes na disputa para a vaga ao Senado do Paraná nestas eleições de 2022. “As pessoas queriam renovar o senado no Paraná e perceberam que eu não ia chegar, porque assim diziam as pesquisas. Aí, migraram da minha candidatura para a candidatura do Sergio Moro. Então há uma distorção direta, causada por pesquisas eleitorais”, diz o parlamentar em declaração distribuída por sua assessoria de imprensa.

Não é possível afirmar categoricamente que o eleitorado paranaense elegeu Sergio Moro (União) apenas porque percebeu que Martins, segundo as pesquisas, não seria um candidato viável. Mas a interpretação está aberta e o deputado tem o direito de espernear. Não é preciso constatar a defasagem das metodologias aplicadas pelos institutos de pesquisa (recuso-me a acreditar em má fé) para saber que o voto útil é uma realidade no Brasil desde sempre. Ninguém gosta de “perder o voto”. Todos gostam de eleger seus candidatos. É justo presumir que alguma fatia do eleitorado de Moro poderia ter votado em Martins se o enxergasse em melhores condições de disputa.

Uma derrota nas urnas, no entanto, não significa necessariamente uma derrota política. Tome-se, por exemplo, o caso do maior vitorioso nessas eleições paranaenses, o governador Ratinho Junior (PSD). Antes de ser reeleito com quase 70% dos votos úteis no primeiro turno e mesmo antes e ser eleito pela primeira vez ao governo do estado, também em primeiro turno, em 2018, Ratinho foi derrotado na eleição para prefeito de Curitiba em 2012.

Apesar de ter perdido aquelas eleições, Ratinho acumulou um capital político significativo. O bom desempenho do então deputado com o eleitorado curitibano o cacifou para ser um candidato natural em eleições seguintes. Inteligentemente, Ratinho aguardou as eleições de 2014, no alto da popularidade de Beto Richa, e disputou o Palácio Iguaçu em 18, quando sua concorrente era a então ex-vice de Richa, Cida Borghetti.

As eleições de 2012 permitiram que Ratinho se tornasse conhecido por um eleitorado mais amplo e criasse uma base forte junto a um extrato particular deste conjunto. A partir disso, ganhou peso político suficiente para negociar uma secretaria estratégica no governo Richa e pavimentar a construção de seu próprio grupo de apoio. Tanto Ratinho quanto Cida, lembremos, eram da base de apoio de Richa.

O caminho de Martins ainda é longo se comparado com o de Ratinho. Mas uma coisa o deputado já tem em seu favor: a simpatia de um amplo eleitorado de direita, que reconhece a legitimidade do seu discurso. Enquanto Moro precisou modular sua fala nas últimas semanas de campanha, buscando diálogo com o eleitor de Jair Bolsonaro (PL) – trazendo para o debate público suas posições, por exemplo, sobre aborto e liberação de armas –, Martins consolidou-se como um nativo deste campo. “Quando falar em ‘direita’ era palavrão, eu estava assumindo essas posições”, disse o deputado no debate promovido pela Gazeta com candidatos ao Senado.

De fato, Martins nunca titubeou para se posicionar em críticas ao STF, contra o aborto ou na defesa vigorosa de Bolsonaro, até em seus pontos mais controversos, como o patrimônio da família. Para o eleitor do presidente, não há dúvida em relação ao que pensa e como se posiciona Paulo Martins. Restava a ele se tornar conhecido pelo paranaense menos interessado na política do dia a dia.

Independentemente do quão longe passaram as previsões das pesquisas do resultado obtido por Martins nas urnas e o quanto isso pode ter influenciado o voto útil em outro candidato, o deputado sem dúvida se beneficiou foi do empenho do governador em aparecer com ele nos últimos eventos de campanha. Essa mesma estratégia, aliás, foi utilizada por Ratinho em 2018, quando abraçou a candidatura de Oriovisto Guimarães (Podemos) ao Senado, então com sucesso.

Mesmo sem mandato, Martins sai das eleições de 2022 como peça relevante no tabuleiro eleitoral paranaense. Seu desempenho deve gabaritá-lo a reaparecer como figura relevante seja no novo governo de Ratinho, seja num eventual novo governo de Bolsonaro.

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