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Belinati: “Eu sempre me pautei pela ciência e,  para salvar vidas, mantenho as escolas fechadas”
| Foto: Emerson Dias-N-Com

Fechando a série de entrevistas com os prefeitos das principais cidades paranaenses, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), destacou as ações da cidade no combate à pandemia do novo coronavírus. Lembrando que adotou medidas de restrição mesmo no período eleitoral, Belinati disse que sempre se pautou pela ciência e que, por isso, decretou que as atividades educacionais presenciais seguem proibidas na cidade até o final de fevereiro.

Na entrevista, o prefeito também fez uma avaliação de seu primeiro mandato e do resultado da eleição do ano passado, em que conseguiu a vitória no primeiro turno com 68,6% dos votos válidos, enfrentando outros nove candidatos, entre eles, deputados e ex-prefeitos. Belinati reconhece ainda ter muito a fazer nas áreas de saúde, educação e habitação e ainda explica o papel do ex-deputado Alex Canziani em sua secretaria de governo. Confira:

Que balanço o senhor faz do primeiro mandato. Lá do plano de governo registrado em 2016, o que foi feito e o que faltou fazer?

Eu creio que a maior conquista desses últimos quatro anos foi a gente devolver o orgulho para o cidadão londrinense. Em algum momento da nossa história, em razão das coisas que aconteciam na cidade, o cidadão tinha praticamente perdido essa relação com a cidade. Quando eu assumi a prefeitura em 2017, as pessoas estavam tristes, estavam desanimadas, estavam desacreditadas com o futuro de Londrina. Eu vi que a maior conquista desses quatro anos foi exatamente a cidade ter reencontrado o seu caminho. E, principalmente, o cidadão, o londrinense, se reencontrou com a sua autoestima, se reencontrou com o orgulho de ser londrinense. Nós temos aqui a melhor cidade do Brasil para se viver, sem demérito nenhum a outras cidades. Isso foi fruto de todo um planejamento de trabalho durante quatro anos.

Quando nós assumimos, nós tínhamos uma cidade que vinha de 10 anos sem investimentos de recursos da prefeitura, nós tínhamos um déficit anual de R$ 120 milhões, nós tínhamos uma empresa de telecomunicações, que é a Sercomtel, que tinha um patrimônio de R$ 51 milhões e uma dívida de R$ 700 milhões. Foi feito amplo planejamento, nós tivemos um choque de gestão, mexendo com temas que os prefeitos não queriam debater em razão de serem temas polêmicos e impopulares. Nós fizemos a revisão da planta de valores do IPTU, fizemos a privatização da Sercomtel, fizemos a reforma da Previdência, fizemos a licitação do transporte coletivo, acabando com aquele contrato absurdo que existia. Paralelamente a isso, fizemos os projetos que a cidade precisava e fomos atrás de captação de recursos. Então nós reequilibramos as finanças do município, fizemos projetos, captamos recursos e, hoje, quando você vem a Londrina, você sente essa mudança de perspectiva. Hoje, por exemplo, Londrina é a cidade mais transparente do Brasil no ranking da CGU; temos as contas mais equilibradas do Paraná; fechamos 2020 com o maior superavit da história de Londrina; todos os compromissos da prefeitura pagos rigorosamente em dia; obras por toda Londrina. Foram muitas conquistas e a somatória disso tudo, a grande conquista, é o cidadão londrinense ter se reencontrado com o orgulho de ser londrinense.

Nessa questão do resgate do orgulho do londrinense. A cidade teve prefeito cassado, teve prefeito eleito que não tomou posse por conta da lei da ficha limpa. Qual é o papel do gestor público para o londrinense ter ficado com esse orgulho ferido?

É um papel de protagonismo da própria prefeitura. Isso que eu falei que ao longo dos anos houve essa perda exatamente em razão dos acontecidos todos com a classe política, mas também, tão importante, com a falta da prefeitura e do sentimento que as pessoas tinham de que a prefeitura não chegava até elas. Então, o cidadão não se apercebia da presença da prefeitura de Londrina. Vou dar um exemplo muito prático pra você: quando eu assumi a prefeitura, a prefeitura não tinha motosserra para podar as árvores havia 10 anos. Então, nós resgatamos desde aqueles serviços tidos como pequenos, que muitas vezes passam despercebidos pelos cidadãos, voltamos podar árvores, a desentupir bueiro. Ano a ano fomos resolvendo pequenos problemas que causavam grandes transtornos. No momento em que o cidadão vê isso, ele começa a perceber que o dinheiro pago em tributos e impostos está retornando para ele mesmo para melhorar a qualidade de vida da população. Então eu creio que essas ações foram fundamentais no sentido de resgatar a qualidade de vida da população e o orgulho. É claro que as situações que você colocou também existe uma distinção das pessoas, da população, e é aquilo que sempre digo cada um responde pela parte que lhe cabe.

Além de resgatar o orgulho do londrinense, o senhor se sente com a missão de resgatar a história do seu sobrenome, por tudo que seu tio Antônio Belinati representou para a política da cidade e pela forma como ele encerrou a carreira política?

Essa questão do resgate do orgulho do cidadão londrinense eu creio que tem muito mais relação com os cuidados com a cidade. Particularmente, em relação ao que você perguntou e sendo objetivo, o Belinati foi eleito quatro vezes prefeito da cidade, teve grandes conquistas nas administrações dele, todos os prefeitos que passaram, e eu não sou diferente, nós somos seres humanos, vai ter erros e acertos, e eu poderia enumerar de todos os que passaram ao longo dos anos. O que eu procuro me inspirar é nos acertos de todos os que passaram pela prefeitura, observando sempre os erros e equívocos para não cometê-los novamente. Porque Londrina merece o momento especial que está vivendo hoje.

Voltando ao plano de governo, o que o senhor não conseguiu fazer nos primeiros quatro anos?

É um processo de construção, se a gente for pegar cada área, vou dar um exemplo para você, Londrina é uma cidade que tem uma prestação de serviços públicos muito grande. Curitiba tem 110 unidades de saúde, Londrina tem 58, só que nós somos 3,5 vezes menores que Curitiba em população, isso significa dizer que temos mais postos de saúde, mas a estrutura física apenas não basta, temos que ter enfermeiros, médicos, equipamentos. Então, foi-se construindo toda uma estrutura e a prefeitura foi perdendo a capacidade de suprir essa estrutura para que ela desse atendimento à população. Quando nós assumimos tinham postos de saúde que não tinham médico. Então, estamos num trabalho contínuo, ainda não conseguimos atender todas as 58 unidades, mas fizemos a reforma completa, eu diria até uma reconstrução, porque a estrutura era muito antiga, de 30 unidades de saúde, contratamos profissionais para todas as demais unidades que não tinham médicos, então esse é um trabalho que continua. Estamos reformando nesse momento mais quatro e estou dando ordem de serviço de mais 14. Na educação, a mesma coisa. Voltamos a fornecer uniformes escolares que a prefeitura não fornecia há 10 anos; melhoramos a qualidade da merenda; construímos 15 creches e escolas, há anos Londrina não construía creches. É assim em todas as áreas, é um trabalho contínuo. Como ficou sem a manutenção adequada por muitos anos, é um trabalho de reconstrução, que leva bastante tempo para que se possa concluir. O maior exemplo disso é que, depois de 20 anos, grandes empresas, grandes indústrias, voltaram a vir para cidade de Londrina. Nós recebemos a Kato, por meio da PCS que é o braço tecnológico da empresa, segunda maior empresa de tecnologia do mundo, vai chegar a 8 mil empregos. Recebemos aqui a Perdigão, a distribuição do Magazine Luiza, a Jota Macedo está construindo um grande complexo de cinco indústrias e empresas que vai ter o investimento de R$ 1 bilhão, gerar mais de seis mil empregos diretos e indiretos, a construção da cidade industrial que está caminhando, enfim, é um conjunto de ações. Respondendo objetivamente, é um trabalho que começou e continua de reestruturar todas as áreas da prefeitura de Londrina. Muito foi feito, mas tem muita coisa a se fazer.

Daí vem a eleição do ano passado e, mesmo enfrentando nomes importantes da política local, o senhor foi reeleito no primeiro turno. A que o senhor atribui esse resultado? Todas as grandes cidades do estado em que o prefeito foi candidato, ele se reelegeu. Há um sentimento de manutenção do paranaense em geral?

Londrina é uma cidade sui generis em relação a isso. Diferente de outras cidades, as eleições aqui sempre foram definidas no olho clínico e no segundo turno. Então ia para o segundo turno sempre e a eleição acabava 51% a 49%, existia uma grande divisão da cidade. Eu creio, sem falsa modéstia, que os principais fatores que ajudaram, que contribuíram, para que a gente pudesse fazer todas essas conquistas que eu coloquei, foi no sentido de promover a união da cidade, dos setores, dos segmentos, das entidades, das instituições. Eu fui o primeiro prefeito eleito em um primeiro turno, isso em 2016. E, em 2020, aconteceu uma coisa que nunca tinha acontecido na história de Londrina. Eu agradeço muito as pessoas e isso me dá uma responsabilidade muito maior, que é com 10 candidatos a prefeito, que é um número alto de candidatos, ser reeleito com 70% dos votos. É muita responsabilidade.

O senhor foi o único prefeito eleito das grandes cidades sem o apoio formal do governador Ratinho Junior (PSD), que fez uma vitória eleitoral significativa elegendo mais de 120 prefeitos. Isso dá mais destaque a sua vitória? Como fica a relação com o governador diante disso?

Eu tenho uma relação muito boa com o governador Ratinho Junior, entendo inclusive o apoio dado a outro candidato em razão de questões partidárias. Diria que tenho até um carinho muito grande pelo Ratinho, gosto dele como pessoa, e principalmente por haver essa distinção, desde que eu assumi o primeiro mandato e quando ele ganhou para governador ele manteve as parcerias com a cidade, em tudo o que ele pode ajudar, ele ajuda, então só tenho palavras de gratidão ao governador Ratinho Junior. Estamos trabalhando com diversos projetos futuros em conjunto, para que a gente possa, prefeitura e governo do Estado, trabalhar em conjunto a favor da população. Só tenho gratidão, agradeço ao governador por tudo o que tem feito por Londrina.

Uma das grandes mudanças da sua gestão do primeiro para o segundo mandato foi a angariação do ex-deputado Alex Canziani. Qual vai ser o papel do Canziani no seu Governo? Já é uma preparação para sucessão?

Não, não tem nada a ver, nós vamos trabalhar. É importante dizer isso, na eleição, eu falava pra minha equipe, uns até diziam “poxa, você não está fazendo campanha”, eu dizia vamos trabalhar pela cidade, vamos mostrar que o povo de Londrina vai reconhecer esse trabalho. Para você ter uma ideia, na eleição eu não fiz nenhuma reunião, não fui a nenhum evento, não fiz nenhuma caminhada, eu continuei trabalhando na prefeitura e, claro, gravando os programas eleitorais para rádio e televisão. O grande foco da minha administração é o desenvolvimento econômico que vai gerar também o desenvolvimento social da cidade. Nós estamos criando políticas públicas no sentido de trabalhar de forma universal com todas as secretarias para ampliar esse trabalho, que já vem sendo executado, para que elas trabalhem em conjunto e possam chegar aos pontos mais longínquos da cidade. Exemplo, a área do esporte tem uma capacidade muito grande de você incluir pessoas, seja através do esporte, seja em atividade cultural, Londrina é uma cidade rica nessa área, e fazer o desenvolvimento social com o desenvolvimento econômico. O deputado Alex Canziani é uma pessoa capacitada, tem muita experiência e vai nos ajudar muito na questão do desenvolvimento econômico, da articulação com empresas, entidades e capacitação de recursos tanto em Brasília como em Curitiba. Quanto a sucessão, não vamos nem pensar nisso, pelo amor de Deus, daqui a quatro anos ainda é chão.

Quais são as perspectivas da cidade para os próximos quatro anos e as demandas urgentes que o senhor precisa resolver?

As perspectivas é concluir aquilo que já começou. Concluir as melhorias na saúde, na educação, ampliar o serviço social. Hoje nós assinamos um termo com uma entidade que atende pessoas com deficiência para que a gente tenha acolhimento das pessoas com deficiência, que as famílias não têm condições de dar o cuidado a essas pessoas. Mas não só acolher, é promover a inclusão, no trabalho se for possível, no estudo se for possível. A perspectiva é ampliar cada vez mais esse trabalho. Além disso, as obras estruturantes, os corredores de saída para São Paulo e Curitiba, nós estamos aí na discussão de renovação do contrato do pedágio. Nós precisamos ter nossas saídas para São Paulo por Assis e Ourinhos duplicadas.  O caminho até Curitiba também duplicado, isso vai ajudar e muito o desenvolvimento econômico da cidade. A ideia é casar o desenvolvimento econômico com o social. Quanto às demandas mais urgentes eu diria que a cidade está caminhando bem. Se você fosse me perguntar uma coisa muito urgente, eu teria como primeira urgente é que nós tenhamos a vacina para acabar com esse tormento, para acabar com a pandemia. Essa é a minha maior preocupação, a minha maior urgência, para que a gente possa defender a saúde das pessoas, mas também possa retomar todos os setores da economia de forma tranquila, sabendo que mesmo que a gente retome as atividades estaremos fazendo isso de forma segura e preservando as pessoas.

O déficit habitacional é um problema que incomoda, como a prefeitura está resolvendo a questão da Cohab por exemplo?

A Cohab na verdade hoje mudou muito o modelo. Antigamente as próprias prefeituras recebiam o financiamento da Caixa Econômica Federal, hoje mudou muito a perspectiva. Na verdade é uma parceria que existe entre a Cohab e acaba sendo uma gente do município, a Caixa Econômica fazendo o financiamento e alguma empresa do setor privado fazendo as moradias. Nós recebemos na última semana o comunicado de mil novas unidades na região de Londrina, aí também com a parceria do governo do Estado e a Cohapar. E é esse modelo que estamos seguindo aqui. São milhares de unidades sendo construídas, prestação de até R$ 500. O que facilita que as pessoas de baixa renda, que facilita que as pessoas possam adquirir o seu imóvel e saiam do pesado fardo do aluguel. Estamos enviando um projeto de lei, estabelecendo para várias áreas de Londrina um termo com áreas de zoneamento de interesse social, no sentido de que a gente possa ter parâmetros de construção que beneficie aquelas pessoas mais humildes. Apartamentos na faixa dois da Caixa Federal, nós temos milhares em construção em Londrina.

E a geração de emprego. Mesmo sendo a segunda maior cidade do estado, Londrina não ficou entre as 10 cidades paranaenses que mais geraram empregos em 2020. Como lidar com o déficit de empregos?

Na verdade, se fizer uma análise, quando se olha para o contexto geral, se vê esse resultado que você colocou. Mas quando se olha especificamente para os números da cidade de Londrina, se não me falha a memória, em 2016 tivemos um saldo negativo de 3,8 mil empregos. Esse saldo foi mudando, mas o dado mais importante que me chama a atenção é que, mesmo durante a pandemia, nós tivemos um saldo positivo de abertura de mais de 5 mil empresas em Londrina. E grandes empresas e indústrias vindo e, o mais importante, o empresário de Londrina voltando a querer investir na cidade. Um dos focos de 2017 foi criar um grupo de trabalho, de desburocratização dentro da prefeitura. Para se ter uma ideia isso reduziu o estoque de pedidos de alvará de 70 dias para uma semana. Quando eu assumi a prefeitura, nós tínhamos 26,6 mil processos parados, hoje nós não temos, nós zeramos esse estoque e só estamos com o estoque da semana. Para se ter ideia, em 2016, nós liberamos aqui na prefeitura 800 mil metros quadrados de construção de alvarás de obras. Em 2019, foram 1,7 milhão de metros quadrados de obras. Dentro desse trabalho de desburocratização, nós temos um grande desafio, que é o maior desafio para 2021, que é a revisão do Plano Diretor. O Plano Diretor nosso de 2015 foi muito danoso, no sentido de praticamente travar a cidade de Londrina, houve um foco muito grande em 2015 no setor da construção civil, que é um setor importantíssimo, mas se esqueceu dos outros setores. Agora em 2021 faremos a discussão e precisamos resolver. E, aí sim, será a conclusão do trabalho de desburocratização. O que vai acontecer com tudo isso? Vai criar todo um ambiente favorável ao empreendedorismo. O pequeno, o médio, vai ter facilidade para abrir o seu negócio, então nós estamos plantando.

O ano de 2020 pegou todo mundo, principalmente os gestores, de surpresa com a pandemia. Voltando lá para março do ano passado, gostaria que o senhor fizesse uma avaliação das medidas tomadas pelo município até agora...

É um drama que o mundo está vivendo, parece até um filme de terror. O que eu posso te dizer é que se nós pegarmos indicadores de cidades, do Paraná ou não, Londrina hoje tem os menores índices de letalidade, de número de casos. Agora, era todo mundo, lá no início, trabalhando no escuro. Nós montamos grupos de trabalho, pautados pelos estatísticos aqui na Universidade Estadual de Londrina, que nos permitiam enxergar o cenário da pandemia para os próximos 15 dias e que fazia com que nós tivéssemos muita segurança no sentido das tomadas de decisões. A condução da pandemia acaba sendo um drama, porque você tem poucas medidas que se pode tomar, além do distanciamento social e do uso de máscara. Londrina, por exemplo, foi pioneira, foi uma das primeiras cidades do país a exigir o uso de máscara, a lavagem das mãos com álcool em gel e todas essas ações. Eu, desde o início da pandemia, me baseei na medicina e na ciência. Quando, em setembro e outubro desse ano, no meio do processo eleitoral, as cidades do Paraná estavam abrindo todos os segmentos da economia, eu decretei em Londrina o fechamento dos bares e estabelecemos a lei seca que derrubou a pandemia aqui em Londrina lá embaixo. Porque, naquele momento, os dados técnicos nos mostravam que 50% dos contaminados tinha média de 20 a 29 anos. Isso nos permitiu entender que as pessoas estavam pegando em festas clandestinas, bares, boates, nesses locais, aí voltavam pra sua casa. Temos que tomar medidas para salvar a vida das pessoas, para preservar a vida das pessoas.

Agora vivemos o pior momento da pandemia, o Brasil vive o pior momento. No mês de setembro nós tivemos em torno de 4 mil casos de Covid, mas com uma letalidade muito grande, em dezembro chegamos a mais de 6 mil casos, mas com uma gravidade menor. Mas eu não tenho uma explicação técnica para você, estamos estudando. Em janeiro, nós vamos passar dezembro. Esse processo está acontecendo no Brasil inteiro. Então, eu vou continuar, até que tenhamos a vacina para todos, ou até que tenhamos para aqueles grupos de risco com comorbidade, que são a grande maioria que acabam tendo problemas mais graves, vou continuar me guiando pela ciência, inclusive com o decreto proibindo a abertura das escolas até 28 de fevereiro.

Como o senhor avalia o Plano Nacional de Imunização. O Paraná, que é um estado privilegiado, e Londrina, que é uma cidade privilegiada dentro do Paraná, podem ficar reféns desse Plano ou teria que buscar uma vacinação complementar? Como fazer isso? E a questão da politização da vacina?

Esse é um lado muito triste, a classe política acabou politizando a pandemia que na verdade é uma questão de absoluta saúde pública, nada além disso. É fato que o governo federal não se preparou, não foi atrás da vacina, não sei por qual razão, mas graças a Deus nós temos institutos como o Butantan e a Fiocruz, que foram atrás da vacina. Mas, da mesma maneira que o governo federal se equivocou, ele acertou ao comprar todos os estoques depois do Butantan e da Fiocruz para que tivéssemos um Plano Nacional de Imunização. Por que eu digo isso? Seria inaceitável de todos os pontos de vista que eu, por exemplo, em Londrina, a prefeitura que tem condições financeiras de fazer, vacinar a minha população e talvez uma cidade pequena aqui da nossa região metropolitana que não tivesse essa condição financeira não vacinasse. Então, do ponto de vista de saúde pública, o correto é que se faça a vacinação como estratégia nacional. O Brasil tem uma expertise que poucos países no mundo têm. Você vê que tem países que possuem a vacina, mas não estão conseguindo vacinar na velocidade em que deveria, como os Estados Unidos. Aqui no Brasil é o contrário, nós não temos a vacina, porque se tivéssemos a vacina, nós vacinaríamos muito rapidamente a nossa população. O lado positivo nesse momento é que a própria população brasileira está pressionando muito as nossas autoridades governamentais no sentido de agilizar as questões para que nós tenhamos a vacina mais rapidamente. O que nós precisamos é vacinar mais rapidamente a nossa população. Infelizmente está num ritmo lento. Mas temos que dar graças a Deus que já começou. Eu, quando chegou a vacina, disse que é o primeiro dia do começo do fim da pandemia. A gente precisa vacinar rapidamente os grupos de risco, os profissionais de saúde, que só com isso vamos resolver a pandemia.

Mas a sua movimentação de procurar o Butantan foi por causa daquele momento que o governo federal sinalizava que a Coronavac poderia não estar no Plano Nacional de Imunização? Agora na situação como está, com o governo se comprometendo em comprar toda e qualquer vacina, dá para deixar na mão do governo federal?

Na verdade, é assim, o governo federal requisitou todas as doses do Butantan e da Fiocruz, mas permanece o nosso termo junto ao Butantan e, existindo a possibilidade, em caso de demora no fornecimento das vacinas pelo governo federal, não tenha dúvida que nós vamos comprar. Eu fui ao Butantan, fui gentilmente recebido pela diretoria, e a capacidade de produção deles, da Fiocruz também, de 500 mil a 1 milhão de vacinas por dia, então nós temos a capacidade. O que precisa é o governo federal fazer a parte dele no sentido de conseguir os insumos necessários para que os nossos laboratórios, que são respeitados no mundo, tenham a condição de fornecer a vacina. No caso de o governo federal não o fazendo, por isso fizemos o termo de compromisso. Claro que nós aqui em Londrina vamos o mais rapidamente atrás para vacinar a nossa população, é um trâmite demorado, esse processo de compra pela prefeituras é complexo assim como os dos próprios governos do estado, porque são tratativas com empresas internacionais, existe a necessidade de aprovação da Anvisa para lotes determinados da vacina, é um processo complexo. Então eu creio que vai acabar sendo mais rápido, apesar de não estar na velocidade que a gente queria, a vacinação pelo Plano Nacional. Até porque está uma briga no mundo inteiro, quem chegou antes bebeu água limpa, e aí está o grande equívoco do governo federal, ele deveria estar fazendo o que fez agora lá atrás.

E qual foi o impacto econômico da pandemia na arrecadação do município e na vida do londrinense e quais são as propostas e perspectivas de retomada?

O impacto foi muito grande. Tivemos uma perda de receita muito grande em março e abril, quando promovemos o fechamento das atividades produtivas para organizar o sistema de saúde, criando 116 leitos de UTI. A partir de maio, começou a haver uma recuperação da receita e, em junho, já se estabeleceu nos níveis previstos antes da pandemia. Mas é fato que muita gente sofreu, muita gente perdeu emprego, empresas perderam faturamento. No intuito de ajudar, a prefeitura fez um gesto inédito no Brasil: disponibilizamos R$ 5 milhões para uma cooperativa de crédito, o que gerou R$ 50 milhões em crédito para pequenas empresas. Trabalhamos em projeto junto com o Sebrae e a Associação Comercial, fazendo um estudo dos setores que mais sofreram e um plano de recuperação para cada um deles. Estou bastante otimista que, com isso, com a atração de indústrias e a desburocratização, a nossa economia pode retomar com toda a força, a partir do momento que vacinarmos todos os grupos de risco.

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