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Em seu quinto mandato na Câmara Municipal de Curitiba, Tico Kuzma (Pros) foi eleito por unanimidade presidente do Legislativo para os próximos dois anos. A eleição por unanimidade, no entanto, não demonstra a dificuldade da construção do bloco de apoio a sua candidatura (a indicação do candidato a presidente é feita pelo maior bloco partidário da Casa). Para desbancar o ex-presidente Sabino Picolo (DEM), que construía um bloco para reconduzi-lo ao comando da Mesa, Kuzma buscou os novos vereadores, o líder do governo e a líder da oposição - reuniu, numa mesma gestão, PT e PSL, por exemplo. Em entrevista à coluna, ele conta como foi essa construção e revela seus projetos para a condução da Câmara. “Quero uma gestão participativa em que a população volte a confiar na Câmara Municipal”.
O senhor está no quinto mandato, presenciou os anos Derosso (João Cláudio) e, daí a mudança de regimento da Casa e a alternância de poder que teve desde aquele caso, com vários outros vereadores passando pela presidência. O que o senhor tira de lição para os seus dois anos à frente da Câmara?
Essa questão da alternância de poder foi um dos grandes motes que a gente colocou entre os vereadores para formar o bloco, principalmente com os vereadores novos, que vieram de uma proposta de renovação, e a gente colocou para eles essa importância da alternância de poder. Acho que foi um dos grandes fatores que colocou a gente aqui na presidência. Essa renovação, essa alternância, essa conversa com os novos, mostram também a possibilidade de trazer alternativas diferentes para gestão da Câmara, trazer ideias desse pessoal novo, que se elegeu pela primeira vez, juntamente com os vereadores que estavam no nosso bloco e estão vereadores há alguns mandatos, para fazer uma junção dessas ideias para que a gente possa apresentar alternativas diferentes aqui na Câmara.
Desde o João do Suco, que foi quem sucedeu ao Derosso, (Paulo) Salamuni, depois Serginho do Posto e Sabino Picolo, o que o senhor tira de aprendizado dos últimos presidentes da casa?
Cada presidente pôde, de certa forma, trazer uma inovação para a Câmara, cada um se dedicou em uma área e com isso tentou aumentar a transparência, cada um buscando um lado diferente. Então, a gente vai tentar unir um pouquinho de cada um desses que passaram pela administração, podendo uniformizar, investir naquilo que for preciso, podendo trazer mais transparência. Queremos também colocar um perfil nosso também. Eu diria que não é uma gestão do Tico Kuzma, porque dentro da nossa composição todas as nossas decisões serão compartilhadas pela Mesa Diretora e por todos os diretores. Hoje nós fizemos uma reunião com os vereadores em que todos puderam participar e dar as suas ideias. Então, esse é o diferencial da nossa gestão, compartilhar as nossas decisões com os vereadores, ouvi-los para poder tomar as decisões em relação à administração da Casa e dos interesses da população.
E qual é a marca que o senhor quer deixar, quando terminar o seu mandato no ano que vem?
Minha característica é tentar fazer com que a população volte ou continue confiando na Câmara Municipal. Que a população acredite que a Câmara Municipal é um poder que está a favor da população. Então, a gente quer fazer um mandato que aproxime mais a Câmara da população, seja ela pelos vereadores, pelas comissões ou pela própria imprensa, que a imprensa possa divulgar matérias positivas sobre a Câmara, seja por projetos que estão tramitando, ou discussões que estamos fazendo aqui na Câmara. Minha grande marca será conquistada se a população aumentar a confiança na Câmara Municipal de Curitiba.
A sua eleição foi unanime, mas sabemos que nos bastidores existiu uma disputa até acirrada na formação dos blocos. O senhor, com ajuda dos vereadores novos e de reeleitos, conseguiu na negociação política, derrotar o partido do prefeito e do ex-presidente da Casa, que era quem se colocava também como aspirante à presidência? Como foi esse trato com o DEM, com o Sabino, a construção desses blocos, ficou alguma rusga nos bastidores?
Primeiro, é importante frisar que a gente não estava contra o partido do prefeito. É importante destacar, também, a forma democrática com que o prefeito e o vice-prefeito trataram a eleição na Câmara, sem nenhuma interferência. Os vereadores conversaram, tentaram formar os blocos e isso foi independente. Então, isso mostra respeito do prefeito, da prefeitura, com o Poder Legislativo. Tanto é que eles tinham o partido do prefeito, mas tínhamos, do nosso lado, o líder do prefeito, tinham partidos de esquerda e de direita dos dois lados. Foi uma discussão em torno da administração da Câmara, vários partidos, blocos pluripartidários, que estavam pensando nas melhores propostas para administração da Câmara. Realmente foi difícil a formação dos blocos, nós conseguimos trazer a maioria dos novos, de 18 conseguimos trazer 13; conseguimos que as oito mulheres viessem para o nosso bloco, acreditando que desde o início não tínhamos um nome, tínhamos a ideia de manter a renovação da Câmara. Com isso, fomos conversando com esquerda e direita, discutindo ideias que fossem aglutinadoras, para finalizar essa chapa e ir para votação.
O senhor citou a construção do bloco com partidos de esquerda e direita, com as oito mulheres. Das oito mulheres, tem duas na sua mesa que são uma do PT e uma do PSL. Como é juntar esses dois partidos que estão polarizando uma disputa nacional em uma mesma mesa diretora?
Na Tribuna da Câmara esse antagonismo vai continuar, essa discussão, cada um defendendo as suas bandeiras e a sua ideologia. A gente conseguiu essa união para administração da Câmara, que é o melhor para sociedade. Uma Câmara bem administrada é melhor para o eleitor e para sociedade. Foi difícil fazer isso, mas foi união de esquerda e direita para melhor administração da Casa. Teremos esse bom senso nas nossas reuniões, em que teremos as participações da primeira e da segunda secretárias, da Flávia Francischini (PSL) e da Professora Josete (PT), mas tentando convergir para aquilo que é melhor para a Câmara.
Estamos iniciando o novo mandato do prefeito, após reeleição, o que o senhor acredita que nesse primeiro ano será necessário os vereadores debaterem e aprovarem para melhorar a situação da cidade?
O primeiro ponto é continuar mantendo essa relação com a prefeitura, essa relação de independência, quanto a isso eu não vejo problemas, porque o prefeito já demonstrou nenhuma interferência, nem o prefeito, nem o vice-prefeito, nem o governador. Mas continuaremos trabalhando em conjunto com o Executivo, porque a gente não pode ser muito diferente do que o Executivo propõe, então vamos trabalhar em consonância para que os bons projetos que venham para cá sejam analisados pelas comissões, sejam debatidos pelos vereadores, sejam aprimorados, e aprovados ou reprovados, se os vereadores assim entenderem. O meu papel, como presidente, é dar condições de os vereadores trabalharem nas Comissões, no Plenário. Agora, o papel de discutir, cada parlamentar tem sua autonomia de aceitar ou não os projetos que estão tramitando. Eu também. Sou o presidente, mas terei autonomia de como vereador apresentar meus projetos, defender meus projetos e de me posicionar em relação aos projetos do prefeito quando for pertinente. Iremos seguir com essa relação, aprimorar os trabalhos, a Procuradoria da Mulher, a Escola do Legislativo, que ela se abra para a sociedade, faça parceria com as universidades e instituições para fazer com que as pessoas se interessem por política, acompanhem e fiscalizem os mandatos.
A Assembleia Legislativa aprovou um modelo híbrido das sessões para 2021, em que o Plenário estará aberto para os deputados que quiserem participar da sessão e a sessão virtual continuará aberta para quem optar. A Câmara tem uma decisão sobre como serão as sessões a partir de fevereiro?
Nós ainda estamos aqui em Curitiba na mesma bandeira do ano passado (bandeira laranja), é uma bandeira que a gente tem que ter cuidado, tem que ter respeito, porque os casos de Covid ainda estão aumentando e não sabemos como será essa relação por causa das festas de fim de ano, não sabemos como irá se comportar esse mês de janeiro. No entanto, a gente já marcou para amanhã a reunião da Comissão Executiva juntamente com o pessoal da Saúde para saber quais são os protocolos que estão vigentes, quais as atualizações que precisamos fazer, como devemos proceder daqui para frente. Então, pra dizer como iremos seguir em fevereiro ainda é cedo para eu falar.
Nesta aproximação da Câmara com o povo, que o senhor defende, há um grande obstáculo estrutural: o plenário da Casa. O prédio é antigo e pequeno, sem grandes possibilidades de ampliação e sem condições de receber um grande público para acompanhar as sessões e as votações mais importantes. Com mais ou menos entusiasmo, alguns ex-presidentes defenderam a construção de um novo prédio para a Câmara. Isso está nos seus planos?
Essa discussão iremos fazer com vereadores, com a comissão e os líderes, mas no primeiro momento eu vejo que sim, você está certo, é um Plenário pequeno, não tem como as pessoas participarem efetivamente, mas, nesse momento de crise, qualquer possibilidade de plenário novo só seria possível se houvesse uma tratativa de uma parceria público-privada, com instituições, com algo que não custasse ao Poder Público, então seria algo nesse sentido. Fora isso, investimento público nesse momento é difícil.
Nessa questão do uso dinheiro público o senhor anunciou o corte dos carros oficiais para os membros da mesa. O que mais dá para cortar?
Essa questão dos carros foi uma das pautas que uniu os partidos, tanto os de esquerda e de direita concordaram que esses carros extras para mesa diretora não eram necessários, em função dessa crise que estamos vivendo. Outras pautas teremos que conversas e analisar para ver onde mais podemos economizar, com redução de custos.