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Gustavo Fruet, pré-candidato à prefeitura de Curitiba pelo PDT
Gustavo Fruet, pré-candidato à prefeitura de Curitiba pelo PDT| Foto: Divulgação/PDT

As movimentações políticas do prefeito Rafael Greca (DEM) foram determinantes para que ele tirasse da disputa dois fortes concorrentes que se apresentavam como pré-candidatos e conquistasse o apoio de seus partidos para a reeleição. Foi assim com o PSD, de Ney Leprevost, e o PSB, de Luciano Ducci. Mas o jogo político do período pré-eleitoral também impactou no grupo de oposição ao prefeito, culminando com a desistência do deputado federal e ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT). O partido lançou, com isso, o deputado estadual Goura à prefeitura. A coluna conversou com Fruet, que elencou seus motivos para abrir mão da candidatura.

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Dinheiro

A falta de garantias de que a direção nacional do PDT investiria uma parte considerável de seu fundo partidário e do fundo eleitoral na campanha em Curitiba foi um dos principais fatores. “Na última eleição, eu assumi a dívida de campanha, de R$ 1,8 milhão e estou pagando até agora. Neste ano, não teria como aportar mais recursos próprios e nesse sistema de financiamento, só agora os partidos estão começando a liberar o recurso. Não tem como planejar e o fundo é amaldiçoado”, argumenta. Até agora, a candidatura do Goura recebeu R$ 1,2 milhão em doações do PDT. “Mas nossas campanhas custaram R$ 5 milhões em 2012 e R$ 3,8 milhões em 2016. Hoje, não se faz uma campanha para valer com menos de R$ 5 milhões”, comenta. “Não se constrói campanha sem clareza de financiamento e orçamento. E uma das coisas mais humilhantes numa campanha é sair atrás de dinheiro”, lamenta.

Tempo de TV

Até a construção da grande aliança de Greca influenciou a decisão de Fruet. Com 10 partidos em sua coligação, o atual prefeito acumulou 3min16 de tempo em rádio e televisão na propaganda eleitoral obrigatória, enquanto que, isolado, com chapa pura, o PDT, tem 35 segundos. “O Greca usou a máquina para sufocar os adversários. Sem coligação na eleição proporcional, os partidos precisam lançar candidatos a prefeito para impulsionar a chapa de vereadores. Mas, mesmo assim, ele conseguiu reunir 10 partidos numa coligação que não foi em torno de programa, né? Assim, ele concentrou o tempo de rádio e TV e conseguiu evitar que seus adversários tivessem tempo suficiente para construir uma candidatura competitiva”.

Fruet soma a esse fator do tempo de TV a ausência de debates neste primeiro turno. “Não podemos normalizar cancelamento e a ausência de debates. Não há cobrança. O prefeito não precisa se explicar. Quando eu fechava uma Unidade de Saúde para reforma, eu era cobrado. Greca fechou 34 Unidades de Saúde no meio da pandemia e não houve reação. E, agora, na eleição, parece que ele não vai precisar explicar”, diz.

Risco à imagem

“Por já ter sido prefeito, preciso entrar em uma eleição para ganhar. Não dá para entrar improvisando. Não estou em fase de construção de imagem e não seria candidato para cumprir tabela”. O risco de um mau desempenho nas urnas, até por consequência da falta de recursos e estrutura para a campanha, também pesou, e muito, na decisão do deputado. Fruet tinha muito a perder. “Quem está na situação já tem estrutura, estratégia, pesquisa, produtora contratada. Quem está fora, para enfrentar isso, precisa vir muito bem estruturado. Não se improvisa em uma eleição majoritária”, comenta.

Para Fruet, a situação de Goura é bastante diferente da sua e a candidatura do deputado estadual torna-se interessante para ele e para o partido. “Eu não posso entrar para marcar posição, mas o Goura está na fase de construção de imagem. É uma figura nova. Eu coloquei pra ele todo o problema de estrutura, mas são estratégias e situações diferentes. Se consolidar a construção de sua imagem e desconstruir o Greca, com confiança e paciência, pode surpreender. Tem que forçar o segundo turno. Crescer e apostar no crescimento de outras candidaturas também. Se conseguir forçar o segundo turno, pode ganhar a eleição”, analisa.

Mas, para isso, avalia, é preciso partir para o ataque. “Não vou ser sombra, não vou ficar palpitando, mas como você me perguntou: tem que desconstruir o Greca. Apenas crescer não é suficiente, precisa diminuir as intenções de voto do prefeito. Se ficar apenas apresentando propostas e falando que vai fazer uma cidade mais humana, não muda o cenário. Precisa uma postura mais incisiva”.

Futuro da cidade

Com duras críticas a Greca, Fruet também vê muitas dificuldades para o próximo prefeito da capital, principalmente se ele derrotar a atual situação, que conta com a aliança entre prefeito e governador. “Como já fui prefeito, sei o que vem. Apesar de todo ufanismo, teremos um déficit brutal na previdência, na estrutura do serviço público e desequilíbrio na tarifa do transporte. Estamos como o maior subsídio da história de Curitiba”, lembra o prefeito que teve o subsídio estadual cortado pelo então governador Beto Richa (PSDB). “O Greca não reajustou ônibus para o usuário, mas reajustou a tarifa técnica 25 vezes para as empresas. Isso vai estourar ano que vem. São R$ 500 milhões de subsídios diretos e indiretos em quatro anos”, cita, torcendo para que o governador Ratinho Junior (PSD) mantenha o subsídio seja qual for o prefeito eleito. “O Beto Richa pagou o preço do subsídio cortado. Eu posso, hoje, sair às ruas, conversar com o povo. Se algum governador quiser repetir isso, vai pagar o preço. Foi a maior estupidez que vivi na política: ter o subsídio cortado pelo governador e ele ser retomado no dia da posse do Greca. Nunca teremos no Brasil alinhamento de prefeito, governador e presidente. A coisa menos republicana que ouço é que tem que ter aliança para ter dinheiro”.

Fruet afirma que “Curitiba tem oito donos”, que seriam os empresários do transporte, do serviço de alimentação, de limpeza urbana, da gestão dos contratos terceirizados da prefeitura e da iluminação pública e prevê dificuldade para o prefeito que quiser romper esse laço. “A cidade gira em torno destes contratos. O prefeito virou o mordomo destes contratos. Se estiver bem com esses empresários, não tem marola. Se fiscalizar e questionar, vem reação. Eles criaram uma plataforma de negócio em 30 anos, que deixa a cidade cada vez mais pesada para inovar. Fui prefeito, procurei fiscalizar esses contratos e sofri retaliação. Mas isso é passado”, finaliza.

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