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A bola e as forças ocultas
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Houve de tudo na rodada do longo fim de semana, tanto na Série A como na B. Exemplo: Joinville x Indústria e Comércio de Algodão SA (Icasa), de Juazeiro do Norte, teve um gol mandrake. Cobrança de falta, a bola bate na barreira e passa a carimbar, a esmo, jogadores enfileirados, como se o jogo fosse uma partida de pebolim, até vencer o goleiro Dionantan. Coisa do Jael (o Cruel). Gol do time da casa.

Sobre forças ocultas no futebol, não foram poucos os que recordaram uma crônica do mestre Armando Nogueira. Para quem não leu Na Grande Área, Edições Bloch, 1966: depois de citar Jean Giraudoux (“a bola não admite truques – só efeitos sublimes”), o jornalista conta a história do Zé do Efeito. Ele jogava no Sapiranga FC, interior do Rio Grande.

Segundo o jornalista, não se tratava de um craque, “mas tinha um segredo que o tornava irresistível em certos momentos”.

Os mais variados efeitos

O Zé “sabia como ninguém chutar de efeito. Seu pé esquerdo, um pezinho de nada, continha a sabedoria de um taco de bilhar francês: quando tocava na bola, aplicava-lhe os mais variados efeitos”. A saber:

– Efeito contra, efeito de curva aberta, efeito de curva fechada, efeito a favor, o diabo.

Armando Nogueira prossegue, ressaltando que passa história como lhe foi contada: jogo contra o Sapucaia, “o temível rival”. O juiz marca um pênalti para o Sapiranga, que perdia por 1 a 0.

Chance do empate. Quem vai bater? Diante do Himalaia de responsabilidade, Marajó, o chutador oficial, saiu de fininho. “Se perdesse o pênalti poderia perder o lugar no time, o emprego na fábrica ou até a própria vida”.

Pressão da torcida

A torcida começa a gritar, sugerindo Zé do Efeito. Como sabidamente chutava fraco, qualquer um poderia ser escolhido, menos o Zé do Efeito. Até o capitão do time desaconselhou o treinador a indicar o Zé. Mas, diante da pressão dos torcedores, coube a ele efetuar a cobrança. E eis que ajeita a bola. Silêncio profundo.

O goleiro era “um gato de agilidade”. Zé do Efeito parte para a bola. Sai um chutinho. “O goleiro encaixa à altura do peito sem o menor sacrifício. A torcida explode em ódios”. O goleiro, “glorioso, dá dois passos à frente para rebater a bola de acordo com a regra. Mas nem chegou a concluir o lance. Ao quicar, a bola possuída de estranho efeito, fugiu-lhe do controle e rolou, zarolha, para dentro das redes: gol do Sapiranga. Zé do Efeito voltou ao centro do campo, em silêncio”.

O futebol continua “uma caixinha de surpresas”. Pena que, do lado de fora, rareia o time de observadores com o talento de um Armando Nogueira.

ENQUANTO ISSO…

6 maio (1)

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