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A bola e o toque miscigenado
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Deixando de lado as mordidas de Luis Suárez, professor Afronsius preferiu comentar o futebol jogado com os pés – e a cabeça, sem usar os dentes. De imediato, ou de primeira, recomendou a leitura da Revista de História da Biblioteca Nacional, edição deste mês, e, em especial, o artigo No tempo do futebol-arte, do professor Bernardo Buarque de Hollanda, da Escola de Ciências Sociais da FGV e organizador dos livros Hooliganismo e Copa de 2014 e A Voz da Arquibancada, Coleção Visão de Campo, Editora 7letras.

Gilberto Freyre (1900-1987), como ressalta o professor Bernardo, era entusiasta da miscigenação e “ajudou a criar a ideia de um modo tipicamente brasileiro de dar espetáculo com a bola nos pés”. Afinal, “seria de estranhar que um pensador dedicado a esses temas não incluísse em suas análises os significados do futebol para o país”.

Em Casa-Grande & Senzala (1933), o Solitário de Apipucos, ele mesmo, já menciona jogos com bola praticados por índios. “Três anos depois, dá sequência às suas teses em Sobrados & Mocambos (1036) e não deixa de pontuar os esportes como vias de acesso do mulato à ascensão social”.

Apolo x Dioniso

No contraponto mitológico entre Apolo e Dioniso, Freyre acentua: “O pé caracteristicamente brasileiro pode-se dizer que continua, em largos trechos do país, o pé pequeno que o mulato tem certo garbo em contrastar com o grandalhão, do português, do inglês, do negro, do alemão. O pé ágil, mas delicado do capoeira, do dançarino de samba, do jogador de futebol pela técnica brasileira antes de dança dionisíaca do que de jogo britanicamente apolíneo”.

Conclui o professor Bernardo Buarque de Hollanda:

– Vistas em ordem cronológica, as observações de Freyre sobre os futebolistas-estilistas da Seleção evidenciam as etapas de construção de um ideário coletivo. Ao erigir em ícone os termos “futebol mulato” e “futebol arte”, a linguagem freyriana contribuiu para cristalizar uma autoimagem, hoje tão arraigada e compartilhada pelos brasileiros como uma espécie de segunda natureza.

Nota 10, craque é craque.

ENQUANTO ISSO…

27 junho

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