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A bomba e a resposta (honesta)
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1981. Tempos acentuadamente bicudos. Uma série de atentados encurralava o general João Batista Figueiredo e sua promessa de abertura política. Cavalariano, o presidente de plantão desafiava o que seu colega, general Ernesto Geisel, tinha classificado de “bolsões radicais mas sinceros”.
– Estamos dispostos a não nos desviarmos daquela linha que inicialmente traçamos, de levar o país à normalidade democrática a despeito de quatro, vinte ou mil bombas. Peço que joguem suas bombas contra mim, mas parem de matar inocentes.

Durante a festa, o imprevisto

Naquele ano ocorreria o atentado do Riocentro, quando do show do Dia do Trabalho.
Por conta do episódio, coronel Job Lorena de Sant’Anna, encarregado do IPM (Inquérito Policial Militar), teria outro tipo de bomba nas mãos: “provar” que se tratava de ataque perpetrado pela esquerda radical. Uma armadilha.
O artefato explodira no pátio do estacionamento (havia outro na central de energia). A bomba estava no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, que ocupava o banco do carona no Puma cinza metálico dirigido pelo capitão Wilson Luiz Carlos Chaves Machado, chefe de Operações do Destacamento de Operações Internas (DOI), do 1º Exército.
Bem que o coronel Job Lorena tentou: “Os militares, ao que tudo indica, teriam sido vítimas de uma armadilha ardilosamente colocada no carro do capitão”. Na divulgação do laudo, os jornalistas não puderam fazer perguntas – muito menos receberam cópias do relatório.

Um exemplo tenebroso

Bem longe do Rio, durante aula do Curso de Eletricista do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em Curitiba, o professor alertava sobre os cuidados necessários ao mexer com energia e redes de alta tensão.
Segundo um dos alunos, de prenome Donizete, no popular nosso amigo Negão, que até hoje trabalha como eletricista, o professor resolveu citar um exemplo dos riscos da profissão eletricista. Falou do Riocentro. Na hora, ninguém entendeu. Nunca tinham ouvido falar.
– Junto a fios de alta tensão, vocês devem trabalhar com total proteção, seguindo todas as normas e recomendações de segurança.
E detalhou: o militar parou o veículo embaixo de um fio de alta tensão. A carga elétrica desse fio, a energia que passava em cima do Puma, fechou o circuito da bomba. Daí a explosão. Matou a charada. Conhecia a matéria (não a matéria terrorismo, é claro) e, com base nas mínimas informações disponíveis na imprensa, chegou à conclusão lógica.
2012. O assunto ressurgiu em recente conversa, entre amigos. Um deles, o Negão, nosso amigo Donizete, o eletricista diplomado, olhando para um prédio próximo, lembrou que ali tinha ocorrido a morte de um operário, no início do ano. Ele trabalhava na marquise de uma loja e, de repente, foi eletrocutado. Ao mexer na entrada da instalação elétrica do prédio, não observou que estava junto a um poste com rede de alta tensão.
Ao contrário do grupo do Riocentro, trabalhava e trabalhava honestamente.

ENQUANTO ISSO…


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