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A Pasárgada de cada um
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Quando está cansado, irritado e insatisfeito com o andar da carruagem da vida, Tainha, amigo do Beronha, sintetiza o seu protesto numa pequena frase:
– Ai meu Paraguai…
Outros recorrem a um lugar imaginário, seu paraíso pessoal, como Manuel Bandeira no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, porque “lá sou amigo do rei”. E mais:
Lá tenho a mulher que eu quero/
Na cama que escolherei
Já Natureza Morta prefere outro destino: o Egito do tempo dos faraós. Afinal, considera-se provável cupincha de Chnemhotep.
– Quem? – reagiram Beronha, nosso anti-herói de plantão, e o professor Afronsius, o vizinho de cerca (viva). Quem?
– Chnemhotep, não conhecem? Mas bah, tchê, que lastimável – provocou o solitário da Vila Piroquinha, tentando disfarçar o sorriso maroto.

Entre peixes e aves aquáticas

Agora para voltar falando sério, Natureza foi ao anexo 2 da biblioteca da mansão da Vila Piroquinha e voltou com um livrão. Livrão em todos os sentidos.
– Chnemhotep era o cara da época. Vejam só o seu cartão de visita, ou papiro:
Chnemhotep – Administrador do Deserto Oriental, Príncipe de Menat Chufu, Amigo Confidencial do Faraó, Conviva Real, Superintendente dos Sacerdotes, Sacerdote de Horo, Sacerdote de Anúbis, Chefe de Todos os Segredos Divinos e – o mais impressionante dos títulos – Mestre de Todas as Túnicas.
– Uau! O rei da cocada preta! – comentou Beronha, agora entusiasmado.
Está lá, no livro História da Arte, de E. H. Gombrich, Círculo do Livro, 1972, que nosso herói, Chnemhotep, era cognominado “grande em peixe, rico em aves selvagens, amante da deusa da caça”. Em um desenho, ele transpassa um peixe com uma lança. Noutro, apanha aves aquáticas numa rede.
Além disso, tinha a esposa Cheti, a concubina Jat e um dos filhos (o primogênito Nacht) era Superintendente das Fronteiras.
– Mesmo com tudo em cima, nem ele escapou do nepotismo – cutucou o professor Afronsius.
– De fato. E, segundo Gombrich, era um big boss do velho Egito.

Patrão grande

Gombrich explica o big boss: em seus “retratos” do cotidiano, os egípcios desenhavam o patrão maior do que seus criados, ou maior até do que sua esposa. É que a preservação do corpo – com a mumificação – não seria suficiente para assegurar a eternidade.
Assim, entendiam que, se a “fiel imagem do rei também fosse preservada, ele continuaria vivendo para sempre”. Daí, igualmente, as cabeças esculpidas em granito.
Não era para menos que, em 1900 a.C., escultor significava “aquele que mantém vivo”.
Beronha, para fechar a conversa – ou o sarcófago:
– Taí, gostei desse tal de Chenopep, Xerife do Deserto Oriental e Gerente da Chapelaria de Todas as Capas, Sombrinhas, Túnicas e Guarda-chuvas

ENQUANTO ISSO…


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