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Algo de novo atrás das grades?
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Acostumado a ver o carimbo “presos de alta periculosidade”, o professor Afronsius achou sensacional “Presos de alta escolaridade”, título da matéria (igualmente bem elaborada) de Juliana Gonçalves, publicada na Gazeta do Povo.
Levou o assunto para o dedo de prosa com Natureza Morta. Junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha, leu que, em cinco anos, mais do que duplicou o número de presos paranaenses com formação universitária.
Segundo o texto, “não há estudos sólidos a respeito, mas tudo indica que avanço se deve ao envolvimento dos mais escolarizados com o tráfico”.
Natureza não resistiu, instigou:
– Isso é bom ou é ruim?

Sem diploma de impunidade

Bom não é, mas demonstra que, pelo menos, personagens da Casa Grande (as ditas “pessoas de bem”) já não estão fora do alcance da lei. Se a justiça é para todos, que tenhamos, enfim, a democratização dos cubículos.
Ainda pela matéria, dados do Ministério da Justiça indicam que entre 2005 e 2010 aumentou em 113% a população carcerária do Paraná com diploma de ensino superior. No mesmo período, no Estado, o número de pessoas que conquistaram um diploma cresceu 48%, segundo o IBGE. Ainda nesse espaço de tempo, o total de presos no Paraná subiu 92%.
Mais: a tendência de crescimento de presos diplomados é nacional.
Beronha, que chegou atrasado para o bate-papo, certamente sem querer colocou o dedo noutra ferida:
– Mas já temos diplomados de outro tipo em cana? A turma que recebeu diploma de vereador, deputado estadual, deputado federal, senador, presidente, secretário, ministro de Estado…
– A conferir. Sem muita esperança de uma boa colheita – devolveu o professor Afronsius.

Aproveitando (bem) o tempo

De qualquer modo, o solitário da Vila Piroquinha, a propósito de escolaridade, aproveitou para citar o caso – e o exemplo – de Graciliano Ramos. Em 1936, acusado de atividades subversivas pela ditadura de Getúlio Vargas e de ter apoiado o levante comunista de 1935, acabou preso e enviado ao Rio. Encarcerado até 1937, sem acusação formal, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, à Sala da Capela de Correção.
Na Ilha Grande, como relata em Memórias do Cárcere (1953, obra póstuma), que viraria filme de Nelson Pereira dos Santos, em 1984, dedicou-se a uma velha prática, a alfabetização, agora de presidiários e funcionários do sistema penitenciário. E, com isso, deixou muita gente agradecida e fez muitos amigos.
Honrando, inclusive, sua condição de ex-diretor de instrução do Estado de Alagoas. E olha que não estava em dívida com o Estado. Muito pelo contrário.

ENQUANTO ISSO…


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