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Aqui tem café no bule
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Há guerras e guerras. Como havia água quente, pó e coador. E, depois, Nescafé e água quente. Ou leite. Como chegamos a isso? Da campanha “o petróleo é nosso”, que fez surgir a Petrobras, à guerra do pente, há uma que praticamente caiu no esquecimento. A guerra do café solúvel, contada em detalhes por Hélio Duque em livro que leva o mesmo nome.
Pela imperiosa necessidade de industrializar a nossa principal matéria-prima de exportação, garantindo o café no bule, a briga envolveu até um certo Richard Nixon e outros que tais, a serviço da National Coffee Association.

Pela base econômica

De posse do livro, lançado em 1970 pela Editora Leitura, Natureza Morta pinçou algumas passagens. “Os passos para a industrialização do café foram seguros, mas interceptados aqui e ali pela voragem dos grupos norte-americanos, cuja atuação chegou ao cúmulo de exigir do próprio Departamento de Estado atitudes comprometedoras”.

Robusta x arábica

A indústria nacional de café solúvel nasceu com atraso (só em 1959 o IBC promoveria estudos para a instalação de fábricas). Logo, porém, ganhou novos mercados, já que o café tipo robusta não atraía o consumidor norte-americano. Mas, como “industrialização de subdesenvolvido é sinônimo de comércio desleal”, vieram medidas para destruir a nascente indústria de solúvel do Brasil. Tanto que a Declaração de Punta del Este (1967), da OEA, assinada inclusive pelo então presidente Lyndon Johnson, visando “estimular a industrialização dos subdesenvolvidos latino-americanos”, não saiu do papel.
E o solúvel brasileiro acabaria denunciado na Organização Internacional do Comércio (OIC), e, mesmo com decisão favorável de uma junta arbitral da OIC, continuaria sofrendo muita pressão. Em abril de 1969, por exemplo, viria a taxação por parte do governo norte-americano.

Na Suíça, o caminho das pedras

Entre 1929 e 1935, relata Hélio Duque, a produção brasileira de café já andava pela base de 29 milhões de sacas por ano. Foi nessa época que o país se viu obrigado a queimar os excedentes. Luz no fim do túnel: na década de 1950, um funcionário do antigo Departamento Nacional do Café “teve a brilhante ideia de transportar o café na sua forma concentrada”.
Laboratórios de uma indústria de alimentos na Suíça tornaram isso possível, em 1957: o extrato de solúvel de boa qualidade, com a estabilização do aroma. Passo seguinte: dispensar os hidratos de carbono como catalizadores de aroma.

A conquista da América

O Brasil entrou na fase do café industrializado em 1965, com a inauguração da Dominium S/A, em São Paulo. A Cacique, de Londrina, surgiria no ano seguinte. As exportações dispararam. “A grande aceitação do produto, notadamente nos Estados Unidos, diante da sua qualidade superior por ser feito com o café arábica, incomodou os industriais americanos de solúvel, que sempre utilizaram o café robusta, de procedência africana e centro-americana, na obtenção do instant coffee norte-americano”.

A situação, hoje

Os Estados Unidos continuam encabeçando a lista de compradores de café solúvel do Brasil. De janeiro a julho de 2011, os norte-americanos representaram 18,2% de todas as vendas do solúvel brasileiro.
Foram importadas do Brasil 7.752 toneladas, 2% a mais em relação a igual período do ano anterior. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Em segundo lugar no ranking de compradores, no acumulado de 2011, ficou a Rússia, representando 10,9% do mercado, tendo comprado 4.655 toneladas, 9% menos que em igual período de 2010. Argentina em terceiro, com 9,3%; e a Ucrânia, em quarto, com 6,0%.
Mas, como é preciso continuar alerta, firme e forte, até para garantir o café no bule, Natureza citou John Foster Dulles, bem lembrado na abertura do livro de Duque:
– Uma nação não tem amigos: tem interesses.

ENQUANTO ISSO…


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