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As estacas do estamento
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Na sabidamente vã tentativa de fazer Beronha pegar no tranco e ficar ligado, professor Afronsius, que chegou a admitir um pequeno toque de maldade na iniciativa, presenteou o nosso anti-herói de plantão com um livro.
– Muito mais do que um livro – atalhou Natureza Morta.
O monumental “Os Donos do Poder – Formação do Patronato Político Brasileiro”, Raymundo Faoro, Biblioteca Azul, 5.ª edição, prefácio Gabriel Cohn. A primeira edição, aliás, em 1 volume, saiu em 1958.
Professor Afronsius já tinha lido a obra, mas não resistiu:
– Entre ir à biblioteca caseira, uma balbúrdia, foi mais cômodo ir a uma livraria.

Um livro de peso

Ao fazer a entrega do presente, aproveitou para um puxão de orelha.
– Já que você se dedica ao nem sempre salutar esporte de só falar mal do Brasil, que tal conhecê-lo um pouco mais, indo a suas origens? Obter algum respaldo para suas críticas?
Algum tempo depois – não muito -, quando esperava que Beronha reaparecesse referindo-se pelo menos ao estamento, eis que ele surge. E, de modo fulminante, sentencia.
– Não li e não gostei. É muito pesado – 930 páginas. Quase dá um quilo. E cheio de letras miudinhas…
Professor Afronsius, inabalável como sempre, aproveitou para, citando Faoro, lembrar que estamento é a “organização político-administrativa, corporação de poder, estruturada numa comunidade, em suma, nas palavras do autor, o ‘estado maior da autoridade pública’. Já desde antes do ‘achamento’ do Brasil, da Colônia ao império e deste à República, o estamento sempre encontrou formas de manter em suas mãos o controle da sociedade”.
Primariamente uma camada social e não econômica, “seus membros pensam e agem conscientes de pertencer a um mesmo grupo, a um círculo elevado, qualificado para o exercício do poder”, página 61. Os donos do poder.
– Estamento? Eu pensava que era estaqueamento – reagiu Beronha, ensaiando um bocejo.
– E não deixa de sê-lo – encerrou Natureza Morta.

ENQUANTO ISSO…


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