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A(s) guerra(s) do pente
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No meio da semana, jornais britânicos publicaram, como matéria paga (meia página), uma carta da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, defendendo negociações sobre as Malvinas. Para ela, o controle britânico sobre as ilhas representa um “caso colonial anacrônico”. A guerra ocorreu há 30 anos.
O assunto veio à baila no dedo de prosa junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha. Para refrescar a memória, Natureza Morta comentou que a invasão do arquipélago foi ordenada pelo ditador Leopoldo Galtieri (1976-1983). Passados 74 dias, em 14 de junho de 1982 ocorria a rendição das tropas argentinas ao Reino Unido. Trágico balanço: morreram 655 argentinos e 255 britânicos.
Comentário do escritor Jorge Luis Borges, sobre a inutilidade de uma guerra “por um arquipélago árido”:
– Foi uma briga de dois carecas por um pente.

Mão de gato

Como atalhou o professor Afronsius, muito se falou e foi escrito a respeito do conflito, mas, uma informação da época, parece ter sido “esquecida”. O afundamento do cruzador General Belgrano, pelo submarino nuclear HMS Conqueror, com a morte de 400 marinheiros, no dia 2 de maio, contou com a ajuda (secreta) dos Estados Unidos.
– A posição do cruzador, fora da área de exclusão, foi fornecida ao almirantado britânico por um satélite-espião americano.
Mas, oficialmente, Washington não estava envolvido no conflito. Defendia uma saída negociada para a crise.

Batalha em Curitiba

Ainda sobre o pente disputado por dois (ou mais) carecas, Natureza lembrou a (curitibana) Guerra do Pente, que explodiu no dia 8 de dezembro de 1959. Para elevar a arrecadação do Estado, combatendo a sonegação, o governo tinha lançado a campanha “Seu Talão Vale um Milhão”.
Ou seja, reunindo comprovantes de compra no valor de 3 mil cruzeiros, o cidadão ganhava um cupom para participar do sorteio de um milhão de cruzeiros.
Na Praça Tiradentes, mais exatamente no Bazar Centenário, um subtenente da Polícia Militar adquiriu um pente por 15 cruzeiros. Exigiu o comprovante da compra. O comerciante, um libanês, que não quis fornecer a nota fiscal. A discussão terminou em briga. Quem passava, estava esperando ou saindo do ônibus – entrou em ação. Fogo no rastilho de pólvora. O caso iria virar assunto nacional.
A revista O Cruzeiro, por exemplo, registraria: “Por causa de um pente, Curitiba quase perde a cabeça”.

Quebra-quebra

Depois de dois dias de batalha, com dezenas de lojas depredadas e saqueadas, a guerra cessou. Intervenção do Exército. Manchete da Gazeta do Povo: “Tanques mantêm a ordem em Curitiba”. Comerciantes árabes, judeus, italianos e brasileiros, mas todos chamados de “turcos” pela turba, viraram alvo.
Mas, o quê havia por trás do pente, ou da nota fiscal? Para o cientista político Adriano Codato, em entrevista para a série de suplementos publicada em 2003, pela Gazeta, por ocasião dos 310 anos de Curitiba, há um preconceito racial difuso na sociedade brasileira.
– Nesse tipo de revolta, as características do indivíduo são esquecidas. Ele passa a ser visto como parte de um grupo que representa o mal na sociedade.
No caso do pente, era também uma revolta contra a ordem. Os ataques não ficaram restritos a casas de comércio administradas por “batrícios”.
– Sobrou pra todo mundo – concluiu Natureza.

ENQUANTO ISSO…


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