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Beco sem saída?
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Segundo a prefeitura, o número de veículos nas ruas de Curitiba aumentou sete vezes nos últimos 40 anos, passando de pouco mais de 200 mil na década de 1970 para 1,4 milhão em 2014. No mesmo período, a população dobrou, pulando de 923 mil habitantes para 1,86 milhão.

Hoje, com 1,33 habitantes para cada veículo – na década de 1970 a relação era de 4,52 habitantes por veículo –, Curitiba virou a capital mais motorizada do país. E, nesse ritmo, em poucos anos a relação será de um veículo para cada curitibano.

– Isso é bom ou é ruim? – quis saber Natureza Morta.

Para as autoridades municipais, o aumento desmedido da frota particular significa “problema de saúde e meio ambiente”.

Mas, se tem gente preocupada com a saúde e meio ambiente, há também quem ache ótimo esse inchaço: os tais guardadores (“pode deixar que eu cuido do carrão, doutor!”), ou flanelinhas, como são chamados em outras capitais.

E não poucos motoristas se sentem coagidos – ou alvo de pura extorsão.

A experiência gaúcha

Porto Alegre tentou resolver o problema. Ficou na tentativa. Na edição de 14 de abril, um de seus colunistas, Juliano Rodrigues, escreveu o artigo “Pelo fim dos flanelinhas”. Trechos:

– Antes de expor os argumentos que justificam o título do artigo, faço um alerta ao leitor: este texto é escrito por alguém que não considera profissão a função de flanelinha, ou guardador de carro, ou seja lá como queiram ser chamados aqueles que ficam na espreita de motoristas para, em espaço público, achacá-los sem qualquer fiscalização das autoridades. Faço essa ressalva por reconhecer que a opinião que tenho sobre o assunto provavelmente está calcada na minha total incapacidade de observar qualquer resquício de atividade profissional no “trabalho” feito por essas pessoas.

Experiência em Porto Alegre

– Em 2009, a prefeitura de Porto Alegre, em acordo com o Ministério Público do Trabalho e a Brigada Militar, “regularizou” a função de flanelinha. Vou resumir o que dizem as regras sobre o trabalho dos guardadores de carro e peço a você que tente se recordar de uma situação em que elas tenham sido devidamente aplicadas:

– A contribuição pelo trabalho do guardador é espontânea, sem um valor fixo; é obrigatória a entrega de um tíquete ao motorista; o flanelinha deve se apresentar ao serviço em perfeitas condições de higiene e sóbrio; em eventos com horário marcado, ele deve permanecer até uma hora após o término.

– Seis meses depois da promulgação da lei, ninguém a cumpria. No papel, as regras são ótimas. A aplicação delas, porém, é risível. Salvo raríssimas exceções de guardadores honestos e cordiais, o que existe é intimidação aos motoristas. Alguém recebe tíquete quando deixa o carro aos cuidados de um flanelinha? A contribuição é mesmo espontânea? Bom, mais do que um gesto espontâneo, pagar pelo “serviço” dos guardadores é uma atitude compulsória e prudente, já que ajuda a evitar que o seu veículo sofra algum tipo de dano (por parte do próprio flanelinha, aliás).

Proibição em Caxias do Sul

O articulista cita o caso da prefeitura de Caxias do Sul, que, “em uma atitude corajosa”, proibiu em 2013 a função de flanelinha.

Para concluir:

– A de Porto Alegre poderia reconhecer o fracasso na ideia de regularizar essa “profissão” e reproduzir a iniciativa caxiense na capital. Sem ranço e sem culpar a Brigada Militar por não fiscalizar, já que a BM sequer dá conta de atender aos chamados de mais importância. Seria um gesto de humildade e de respeito com os porto-alegrenses que, afinal, são os verdadeiros donos dos espaços públicos da cidade.

ENQUANTO ISSO…

 

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