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Camponês, origem: pé vermelho
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Enfurnado em casa nos últimos dias, por conta do frio avassalador – “frio de arder o couro”, segundo Beronha -, o professor Afronsius leu “Porecatu – A guerrilha que os comunistas esqueceram”, do jornalista Marcelo Oikawa, Expressão Popular, São Paulo, primeira edição, 2011 – agora revista e atualizada ortograficamente.
– Não li, propriamente, devorei numa sentada.
No breve dedo de prosa junto à cerca (viva) da Vila Piroquinha, já que o Sol deu as caras para um ligeiro “alô”, detalhou que o livro resgata episódios históricos pouco ou nada conhecidos. E revela, inclusive: foi lá, durante a mobilização (sete anos de luta, de 1944 a 1951), que a palavra camponês “foi usada pela primeira vez para designar o trabalhador rural sem terra, arrendatário, colono ou pequeno proprietário”.

Fagulha a incendiar o campo

Além de levar à criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais, a guerrilha no Norte do Paraná “motivou a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais”.
Depois de 20 anos de pesquisa, o jornalista monta a história (dos esquecidos) de como ocorreu a guerrilha de Porecatu e a relação entre posseiros e o Partido Comunista Brasileiro – PCB. Jogado para a ilegalidade, o PCB optou por tentar chegar ao poder “partindo do campo para as cidades”. Tal decisão “veio a calhar com as necessidades dos posseiros de Porecatu, que vinham resistindo como podiam contra os grileiros, jagunços e a polícia, desde 1944. Em 1948, a convite dos próprios posseiros, o PCB entra na luta para liderá-la, imaginando que ela seria ‘a fagulha que iria incendiar o campo’, como diziam os dirigentes comunistas da época”.

O silêncio e a desinformação

Das 3 mil famílias que buscaram a distribuição da terra, “apenas 380 foram assentadas. Dos participantes da chamada aliança operário-camponesa, apenas Manoel Jacinto era operário. Os demais comunistas, além dos trabalhadores rurais, eram ex-militares, médicos, advogados, engenheiros, professores, comerciantes etc”. Em entrevista à revista IHU- On-line (Instituto Humanitas Unisinos – Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, São Leopoldo, RS), Oikawa conta que, “apesar da luta ao lado dos camponeses da década de 1950, integrantes do PCB e das dissidências PCdoB e PCBR evitam comentar o tema”.
Para o jornalista, o silêncio justifica-se porque “boa parte do PCB considerou Porecatu um dos maiores erros da sua história. Uma outra parte simplesmente silenciou (…) Terminado o conflito, as autoridades disseminaram pela imprensa que Porecatu não tinha tido importância, que havia sido algo espontâneo, errático, pequeno. Também muito curiosamente, setores da esquerda assumiram essa postura”.

Ligas camponesas, aqui

Em 1948, a guerrilha chegou a controlar um perímetro de 40 km². Nesse período, os posseiros fundaram as duas primeiras associações de lavradores do Brasil. A de Porecatu, com 270 famílias, e a de Guaraci, com 268. Elas chegaram a 12 até o fim do conflito, já com o nome Ligas Camponesas.
– Ou seja, as temidas (até hoje) Ligas Camponesas não formam um “fenômeno” único e exclusivo de Pernambuco, com Francisco Julião à frente – atalhou Natureza Morta.
Como assinala Osvaldo Heller da Silva, professor de Sociologia da Universidade Federal do Paraná, na apresentação do livro, referindo-se à organização dos agricultores na luta pela terra, “Porecatu é um elo inicial de todo este gigantesco processo”.
– Vale a pena ler. A história escrita também pelos vencidos – encerrou o professor Afronsius. Sem esquecer que “a legitimação da posse da terra se dá pelo trabalho”.

ENQUANTO ISSO…


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