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Cascudo faz bem pra cabeça
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Não foi desta vez. Depois do breve lamento, o professor Afronsius contou que, por mais que tenha recorrido a crendices e superstições, não passou de dois pontos na Mega-Sena.
Um tanto surpreso, posto que não conhecer essa faceta do vizinho de cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha, Natureza Morta comentou que recorrer a mandingas faz parte do DNA do brasileiro.

Sabedores dos segredos

Na sequência do dedo de prosa, o solitário da Vila Piroquinha acionou a seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, que trouxe à baila o mais renomado estudioso do folclore e da etnografia no Brasil, Luís da Câmara Cascudo.
Em “Superstições no Brasil”, Editora Itatiaia, 1985, Cascudo confessa que pretendia “saber a história de todas as cousas do campo e da cidade”.
Buscou, então, a “convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios”.
E jamais abandonou o caminho que leva ao “encantamento do passado”, com pesquisas, indagações e “confidências que hoje não têm preço”.

Sete sementes de uva

Desvendando o universalismo no regional, Cascudo nos leva, por exemplo, à origem de uma antiga prática, na virada do ano: comer uvas brancas e guardar bem guardadinhas sete sementes, “para dar sorte e concretizar seus desejos”.
Com as devidas adaptações ao meio, temos Persefona e os 7 bagos da romã.
– Quem? – interrompe Beronha, nosso anti-herói de plantão.
– Era a única filha de Deméter e de Zeus.
– Quem?

Vassoura e ferradura

Ainda por conta de Cascudo, ficamos sabendo sobre o barrete do Saci, a tal pedra na cruz (já no Século XVI não era pecado atirar uma pequena pedra para o Cruzeiro, fazendo uma breve oração), as razões para não olhar para trás, a vassoura atrás da porta para apressar a despedida do visitante incômodo ou indesejável.
Na antiga Roma, a scope (vassoura deles) espantava faunos e silvanos, “o terror das crianças”. Mas é bom ir devagar, posto que “vassoura deitada é desgraça chamada”. Já a ferradura, sobre ou afixada na porta, garante sorte. Acreditando nisso, mesmo em pleno oceano, o almirante Horatio Nelson (1758-1805) mandou cravar uma ferradura no mastro real do Victory.

O replantio e a seiva

Em seus livros – são três reunidos em “Superstições no Brasil” -, Cascudo “expõe a vastidão e profundeza do mundo que acreditamos existir e é contemporâneo com o outro onde nasceu Adão”. O critério que adotou não foi o do puro registro, mas tentativa de elucidação das origens. Ensina o mestre potiguar: como “o replantio não altera a seiva, o processo modificador substituirá pela enxertia a primitiva organização conceitual, facilitando as sucessivas convicções complementares e provisórias que se tornam básicas”.
Vale a pena um mergulho no “encantamento do passado”, que, de um modo ou de outro, rege o presente e pauta o futuro.
– Cascudo não é oceanógrafo. Mas vai fundo – sentenciou o professor Afronsius.

ENQUANTO ISSO…


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