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Da democracia ao Megatério
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A caminho da campanha para as eleições de outubro, quando, é inevitável, as denúncias de corrupção, chunchos e similares irão pautar a maioria dos ataques, é bom citar uma informação.
– Essa, sim, confiável – segundo o professor Afronsius.
“O Brasil já tem a quarta maior população carcerária do mundo – atrás, somente, dos EUA, China e Rússia. De 1995 a 2001, o número de pessoas atrás das grades saltou de aproximadamente 148 mil para 514 mil, aumento de 347%. A prisão provisória também tem crescido vertiginosamente: de 2005 a 2010, a ampliação de presos provisórios foi de 60%”, conforme a revista Caros Amigos, de maio.
– Ou seja, se lotar as cadeias significasse o fim do problema…

É melhor prevenir

Aproveitando a deixa, Natureza Morta citou, de cabeça, o mestre Cesare Beccaria, para quem a Justiça não existe para punir, mas evitar a injustiça. “É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los”.
E o dedo de prosa junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha seguiu em frente, apesar do protesto de Beronha:
– Prisão, cadeia… Vamos mudar de assunto ou eu vou recorrer a um habeas corpus. Preventivo. Ou não seria melhor um habeas data?

Todos a bordo

Refeitos do espanto provocado pelo nosso anti-herói de plantão, o professor Afronsius e Natureza decidiram voltar às eleições, mais precisamente à democracia. E entrou em cena a seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, com um texto publicado em 2008, na Gazeta do Povo, por um certo Francisco Camargo:
– Está lá, em Fantoches e Outros Contos e Artigos, de Erico Verissimo, Editôra (isso mesmo, com chapeuzinho no o) Globo – Rio, Porto Alegre e São Paulo, edição de 1956. O título do que o autor classifica de “pecinha”: A Bordo do Megatério. Uma farsa que expressa parabolicamente sua opinião sôbre (olha o velho chapeuzinho de novo aí, gente!) a democracia.
Estamos em uma grande aeronave – inspirada no Graf Zeppelin, que passava pelo Brasil, em “reide” transcontinental. A maioria dos passageiros decide mudar o curso. Diante da resistência do comandante, conspira e toma de assalto o controle. Festa. A seguir, o dirigível enfrenta uma tempestade. E agora?
Libertam o comandante, mas já é muito tarde. O imediato já tinha anunciado:
– O Megatério vai à gaita!
Ao que, comemorando, completa o comandante:
– Viva a democracia!
Erico Verissimo explica que a peça resultou de “um arrufo que tive com a democracia”, ao admitir seu individualismo, “a par de minha simpatia pelo socialismo”.
E não é que Natureza chegou da mansão da Vila Piroquinha sobraçando o livro do Erico e, junto, uma matéria da revista Pesquisa, da Fapesp?
Pois é, como diz o Beronha, Natureza mata a cobra e mostra a brochura, ou melhor, o livro.
– Democracia faz parte das coisas sacrossantas que só passam a ter a devida importância quando escasseiam ou nos são surrupiadas.

A desconfiança

A matéria, assinada por Carlos Haag, aborda o Projeto Temático “A desconfiança dos cidadãos nas instituições democráticas”, coordenado pelos cientistas políticos José Álvaro Moisés (USP) e Rachel Meneguello (Unicamp).
Transcrevo: “É cada vez mais raro encontrar quem suspire de saudades de um ‘governo militar forte’, mas é igualmente complexo ‘achar quem confie em políticos, juízes, policiais e outros representantes do Estado’”.
Moisés comenta que “a democracia brasileira está relativamente consolidada, mas ela enfrenta um paradoxo: apesar do apoio majoritário ao regime democrático, quase dois terços dos brasileiros não confiam em parlamentos, partidos, governos, tribunais de justiça, polícia e serviços de saúde e educação”.
Como ficamos? Rachel com a palavra. “Dados históricos sugerem que os brasileiros aceitam o modelo de democracia de Churchill: uma preferência crescente pelo regime democrático é acompanhada por uma desconfiança nas instituições representativas, o que leva a uma falta geral de interesse e a um engajamento reduzido na política convencional”.
Entre 1989, a primeira eleição direta, e 2006, a última, a valorização da democracia cresceu 21% (de 43,6% para 64,8%) entre a população, ao mesmo tempo em que caía em mais de 13% (de 38,6% para 25,5%) o total de cidadãos incapazes de definir o que é democracia.
“As pessoas aderem à democracia, mas não confiam, na prática, que suas instituições possam ou queiram mudar a vida delas”, ensina Moisés.
Para ele, “certa dose de desconfiança é aceitável e pode ser um sinal sadio de distanciamento dos cidadãos de uma dimensão da vida social sobre a qual eles têm pouco controle”.

ENQUANTO ISSO…


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