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De Manaus a Paris
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Axioma de Honoré de Balzac: “Para o jornalista, tudo o que é provável é verdadeiro”. Vai daí que a imprensa é rica em histórias e casos paralelos à notícia. Como o “caudaloso” Rio Amazonas fora de curso para ter Manaus em suas margens e, no noticiário internacional, não haver nenhuma notícia em Paris. Como se verá.

Bola rolando

1973 – Campeonato Brasileiro. Rio Negro x Atlético, em Manaus. O locutor de uma rádio de Curitiba abre a transmissão, empolgado e confiante:
– Estamos aqui, às margens do caudaloso Rio Amazonas…
O rio que banha Manaus é o Rio Negro. O Amazonas (e seria preciso adjetivá-lo?) tem no Rio Negro um de seus afluentes.
Inter x Coritiba, no Gigante do Beira-Rio.
Locutor inicia a “jornada esportiva”. Uma dezena de minutos depois, o plantão esportivo interrompe a transmissão e anuncia:
– Gol!
– Gol onde?
– Aí mesmo, no Beira-Rio. Aliás, estádio José Pinheiro Borda…

Noticiário internacional

No (imbatível até hoje) Show de Jornal, TV Iguaçu, Canal 4, anos 1970: o noticiário é apresentado em pingue-pongue.
– Rio! – anuncia um apresentador, para o outro completar: no Rio, o governador…
Certo dia, ou bela noite (o jornal ia ao ar às 22 horas), Jamur Júnior, um eterno brincalhão, foge do script:
– Paris!
Osny Bermudes, diretor de TV, corta para Ivan Curi. Percebendo a cama de gato, ele devolve, solene, inabalável:
– Não há notícia em Paris.

A briga por dois canecos

O fotógrafo Orlando Kissner, em Curitiba mais conhecido como Polaco e, em São Paulo e no resto do mundo, como Alemão, tem muitas histórias.
Um dos grandes fotógrafos brasileiros, “quiçá do planeta”, segundo Beronha, seu amigão, Orlando cobriu para jornais e agências internacionais 4 Copas do Mundo e outras competições internacionais.
Eis que, em 1987, estava em Londres, acompanhado de um repórter do Estadão. A seleção brasileira, sob o comando de Parreira, disputaria a Copa Stanley Rous. E paparia o título, depois de empatar (1×1) com a Inglaterra. Dunga, capitão do time, ergueu o caneco.
Dias antes de Dunga, Orlando e o repórter tratavam de levantar um outro caneco. De uísque, of course
– Ah, ah, vamos tomar um autêntico Royal Salute – tinham comemorado.
Problema: o camareiro, um indiano, trajado a rigor, ainda não dominava plenamente o inglês. Trouxe o uísque, mas muito pouco gelo.
– A gente queria uma chuva de granizo, daquelas bem curitibanas, que deixavam branco o campo do Poty e do Olaria.
Mas, apesar dos apelos, reforçados com os recursos da mímica, não tinha jeito. O baldinho ia e voltava com poucos e mirrados cubos.

No estilo Titanic

Orlando tentou sair do impasse apelando para o seu inglês do Trumpete, o bar do Saul, onde entrava, altas horas, e determinava – “Saul, toca Summertime que a moça é de primeira”.
Agora, diante do pasmo camareiro, tascou, confiante:
– Ice! Big! Big ice!
O indiano continuava boiando.
– Ice, big! Iceberg! Iceberg!
Aí, sim, o indiano sinalizou com cabeça que, finalmente, tinha decifrado o enigma.
Demorou um pouco, mas ele voltou, sorridente. Bateu à porta. Nova surpresa para o outro lado: carregava uma barra de gelo de consideráveis proporções, pendurada num gancho, ou alicate, de ferro.
Depois de alojar a encomenda na banheira, o desafio foi encontrar algo semelhante a um martelo ou machadinha para esmigalhar a barra de gelo e coletar as preciosas pedrinhas.
– Mas valeu plenamente o esforço – assegura.

A pirâmide e o ossinho

Ainda do Orlando, que começou na Tribuna e O Estado do Paraná, tinha “parceria” com o Sotter. Lateral direito do Atlético nos anos 1980, virou amigo do Polaco. E quem não virou?
Conforme a circunstância do jogo, Sotter, quando entrava em campo, mandava o recado cifrado:
– No ossinho *.
Orlando preparava a máquina. Na primeira oportunidade, o lateral “abria a caixa de ferramenta” e juntava o adversário que vinha aprontando em cima da defesa.
Outro aviso:
– Pirâmide.
Quando o Furacão marcava um gol, todos corriam para comemorar perto do Polaco, formando a (então) famosa pirâmide.
Primeira página da Tribuna, em 8 colunas.
Sucesso total.
* Ossinho, do lado externo do pé, vem a ser também conhecido por fibula. Salvo correção de ortopedistas.

ENQUANTO ISSO…


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