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Do mar e de marinheiros
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Ao passar os olhos pelo noticiário do dia, da briosa, brava e indormida imprensa, Natureza Morta ficou sabendo que, para a empresa proprietária do navio Costa Concordia, a prioridade agora é prestar assistência aos passageiros e monitorar os riscos ambientais na costa de Itália.
E que o navio de cruzeiro passou por testes de segurança em 2011. Já o comandante, Francesco Schettino, terá todo o apoio jurídico. Mas “é impossível descartar os indícios de erro humano”. Uma alteração de rota (não autorizada) antecedeu a colisão com as rochas.
Independentemente do resultado da investigação, o solitário da Vila Piroquinha tem uma certeza.
– Aboliram até a velha lei do mar segundo a qual o comandante é o último a abandonar o barco.

Velhos homens do mar

Mais tarde, conversando com Beronha, citou, com o devido respeito às vítimas da tragédia, “um certo Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso”.
– Quem? Ele também estava no navio? – indagou nosso anti-herói de plantão.
Foi preciso explicar, então, que se trata de personagem de Jorge Amado, no livro “Os Velhos Marinheiros”, publicado em 1961. O tal Vasco Moscoso vive contando histórias. Alguém levanta a suspeita: é um tremendo engazopador. Um comerciante que, para obter um diploma e impressionar os amigos, teria comprado um – de capitão de longo curso.
Crescem as dúvidas em torno da figura quando Vasco Moscoso é convocado para comandar um Ita em viagem da Bahia ao Pará.
Antes da partida, em Salvador, o imediato e o homem da Costeira decidem colocar à prova o tal capitão de longo curso. Segue-se uma série de provocações, na hora de atracar o navio.
– Comandante, com quantas amarras vamos amarrar o navio?
Depois de patinar mentalmente, Moscoso dá a ordem:
– Com todas!
Continua o bombardeio: quantos ferros, comandante? Todos! Quantas manilhas, comandante? Todas! Quantas espias, comandante? Todas! Quantos espringues, comandante? Todos! O ancorete também, comandante? Também. Ligado por amarra ou cabo de aço, comandante? Pelos dois.
Os velhos lobos do mar se divertiam. O navio estava mais do que amarrado, embora o tempo fosse bom e não houvesse previsão de tempestade, furacões ou coisas do gênero.
Alvo de pilhéria em todo o porto, Vasco Moscoso toma umas e outras e vai dormir. Mas, à noite, o tempo enlouquece, vira completamente, de maneira aterradora. O capitão de longo curso pode dormir tranquilo.
O único navio a suportar a fúria do mar será o dele. Virou uma espécie de fortaleza de Gibraltar. Inabalável.

ENQUANTO ISSO…


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