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Do uso ao desuso
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Como diz Beronha, cada macaco no seu galho. Qual seria o do professor Afronsius? Em busca da resposta, Natureza Morta fez uma sondagem. E ficou um tanto quanto espantado com o hobby do vizinho de cerca viva da mansão da Vila Piroquinha:
– Estou montando um dicionário.
– Sobre as mudanças acarretadas pela reforma ortográfica?
– Não. Um dicionário de palavras em desuso. Breve dicionário.

Um listão

Vai daí que o professor Afronsius começou a desfiar o carretel, começando por auê, forrobodó, fidusca…
– Fidusca? Essa eu conheço. Quando jogava bolinha de gude, sempre apelava: fidusca em pó, maria bodó… E o adversário errava… – interveio Beronha, nosso anti-herói de plantão.
O professor Afronsius seguiu em frente: escapes (não dou escapes), tudo azul (com bolinhas da mesma cor, interveio de novo Beronha, já se sentindo um membro da Academia Brasileira de Letras. Ou, pelo menos, um sério candidato).
Sentindo que tinha público, Afronsius foi citando coisas como azougue, melê (na área, como diziam os velhos locutores esportivos, acrescentou mentalmente Natureza), barba azul, pirata, dom Juan (eram os conquistadores de corações, antigamente), bacuri, sapo cururu, preboste, anspeçada, causídico, facultativo, friquique, caça-dotes, cabeça de vento, cabuloso, ampulheta, fricote, canhão (mulher feia), proscênio, prosélito, cábula e cabular, cacareco, calceteiro, cafuné, cafundó, canícula, mansarda, caipora, maria-fumaça, maria-mole, maricão, maricas, panapaná, footing, meeting, pândego, pechada, calandra, linotipo, linotipista, prócer, prestidigitador, afofar (o pêlo, inclusive), ágape, argentário, argoleiro, argolinha…
Aí, o vizinho pediu água.
Prontamente atendido pelo solitário da Vila Piroquinha (e Beronha tomou um copo de um só gole pensando que era a vodka Bakunin), Afronsius decidiu encerrar a leitura da lista.
– Ah! Ainda tem probo…
– Probo? Dizem que o último morreu faz muito, muito tempo – finalizou Natureza, estampando na face um leve ar satânico.

ENQUANTO ISSO…


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