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Durma com um barulho desses
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Uma noite de sono tranquilo é fundamental, mas, embora uma coisa tão simples e natural, está se tornando missão impossível. Natureza Morta, que aproveita a luz do dia e boa parte da noite para ler, ficou sabendo que o ronco do parceiro rouba 23 dias de sono de um terço das pessoas, segundo pesquisa da British Lung Foundation. E a culpa também é dividida com as mulheres.
Mas, como dorme na parte superior do beliche, o solitário da Vila Piroquinha enfrenta outros tipos de problema. Pela manhã, é acordado pela sirene (ou sirena, como prefere) de uma fábrica próxima à mansão de Vila Piroquinha. Depois, com as tombeiras e caminhões de mistura de concreto de uma construção, também ao lado. Aí vem a guerra de latidos da cachorrada, os aviões e helicópteros em voos cada vez mais rasantes e, é claro, a gentil e pontual turma do telemarketing, que a cada dia mais fecha o cerco e parece um despertador da cidade. Começando pela manhã. Tem ainda os funcionários de prédios e condomínios que usam – e abusam – das maquininhas de cortar grama e lavar calçadas. Engenhocas diabólicas com seu ruído pequeno, mas torturante.

Sono? Não, sonho

Do tempo em que se dizia, com inteira procedência, que “quem dorme no ponto é chofer de praça”, Natureza tratou de inverter os horários de ir para o berço. Optou pela sesta da tarde, mas ainda é fulminado pelo carro que, em alto e bom som, anuncia: “É o sonho, é o sonho que está passando, freguesia!”
O carro do sono, ou melhor, do sonho, deu uma trégua, mas surgiu em seu lugar o carro do empadão e da torta, que insiste no mesmo bordão de que “está passando”. Mesmo quando parado.

Cinema, uma saída

As noites em claro deixam as pessoas cansadas e reduzem sua capacidade de concentração. Sendo assim, Natureza buscou refúgio no cinema.
De imediato, pensou em dois filmes, que viu e reviu: “O Homem Mau Dorme Bem” (Warui Yatsu Hodo Yoku Nemuru ou, nos EUA, The Bad Sleep Well), de Akira Kurosawa, 1960, com Takashi Shimura e Toshirô Mifune, e “O Dorminhoco” (Sleeper), de Woody Allen, 1973.
Recomendou os dois para Beronha, já que o nosso anti-herói de plantão também anda reclamando que não dorme à noite. À noite e nem de dia. Está pindurado no bar VIP da Vila Piroquinha, aquele botecão que ele diz não frequentar.
“O Homem Mau” é um tanto quanto shakespeariano, coisa bem de Akira. No Japão do pós-guerra, um jovem, funcionário de uma empresa corrupta, tenta punir os homens responsáveis pela morte de seu pai.
Woody Allen, por sua vez, é um saxofonista que foi congelado em 1973 e é trazido de volta 200 anos depois. Apesar dos pesares, insiste em conhecer o novo mundo, mas tromba com as profundas modificações ocorridas em dois séculos. Imaginem o resultado dessa receita nas mãos de Woody Allen.
– Dois séculos? Esse cara dormiu o sono que eu estou precisando – comentou Beronha.

ENQUANTO ISSO…


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