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Louco – e não é de hoje
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Promessa é dívida. Apesar dos políticos. Isto posto, e apesar dos políticos, cá estamos com “Trânsito Louco”, de Marcos Prado, conforme o prometido. O livro foi lançado em 1973 e já apontava não haver muita luz no fim do túnel em matéria de gargalos e otras cositas más… Pequenos trechos do trabalho do arquiteto que chegou a comandar o Departamento de Trânsito: “O liberalismo econômico, iniciado no final do século XVIII, faz com que escape do controle da comunidade ou da municipalidade a vida urbana, cuja instabilidade é marcante. A cidade passa a ser instrumento de lucro. (…) As pessoas servem-se da cidade. Esta deixa de ser realidade coletiva para ser realidade espacial apenas. A organização da cidade começa a depender da via férrea e das vias de acesso. Perde a autonomia, desaba sua estrutura, cria-se um tecido urbano desordenado”.

Prenúncio do caos

Outro trecho selecionado pela seção Achados&Perdidos, exclusiva da coluna: “Durante o ano de 1970, em Curitiba, mais de 100 pessoas não voltaram para casa, vítimas de acidentes de trânsito. Em 1971, 66 morreram nas suas ruas e 1.400 em todo o Paraná. O aumento do número de veículos é vertiginoso: São Paulo atinge quase 1.000.000 de veículos e Curitiba aumentou sua frota 200% em 10 anos. Este formidável aumento da frota, a falta de preparo da população para a entrada na era do automóvel, a falta de condições das ruas, a inexistência de uma consciência dos problemas criados pelo automóvel por parte das autoridades, levou às condições que hoje prevalecem nas grandes cidades”.

Objeto do desejo

“O tráfego, mais que um problema à espera de solução, é uma situação social que requer uma política rigorosa e paciente”, insiste Prado.
Falando do volume mensal de carros novos emplacados em 1973 (que seria superior a 2.000), diz que o crescimento é quase geométrico e que, pelas facilidades de compra, “vamos nos aproximando do atendimento do desejo de cada família ter seu próprio carro”.

Temendo 1985

“Isso mostra a necessidade de conscientizar o homem, o adulto, no momento atual, e a juventude e a infância para o Brasil de 1985, quando terá 25.000 veículos. Temos que evitar a ampliação do morticínio que presenciamos. (…) É necessário entender o tráfego como a presença de veículo na cidade, em movimento e parado. Vemos grande parte da inteligência sendo dedicada apenas à engenharia de fluxo de tráfego – medidas de volume, desenho de ruas e intersecções – mas raramente ouvimos alguém indagar por que os veículos se movem, ou se o tráfego poderia ser eliminado ou dirigido a outras direções pela manipulação das causas dos movimentos”.
No final, o arquiteto diz que, “na apreciação, à vol d’oiseau, abordamos os problemas mais importantes. As críticas, apesar de duras, refletem parcialmente a realidade, que chega a ser kafkaniana”.
À vol o quê? Indaga Beronha.
– Ele disse “olhando de cima, olhando de muito alto”, esclarece Natureza.
Concluindo: se não há luz no fim do túnel, não foi por falta de aviso e de diagnósticos. E nem de voos quase estratosféricos.

ENQUANTO ISSO…


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