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Na falta de pastel…
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Primeiro dia, início de expediente, pânico indisfarçável perpassa o proprietário e os funcionários da Pastelaria Catavento, novo e simpático estabelecimento a se instalar na Vila Piroquinha.
Presente (“é preciso prestigiar o comércio local”), professor Afronsius divide a ansiedade com o pessoal, dos dois lados do balcão, até que vem a explicação quase chorosa do dono:
– Não entregaram o queijo. O açougueiro não apareceu com a carne…
Recorrendo à sabedoria popular, um freguês resume a situação e dá a real dimensão do problema:
– Só veio a capa da gaita.

Da gaita à sanfona

De mãos abanando, sem o pastel de queijo e o pastel de carne, professor Afronsius volta para casa. Conta o episódio a Natureza Morta e ao Beronha, junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha.
– Impressionantemente certeiro foi o comentário “só veio a capa da gaita”.
Natureza concorda e conta estar lendo “Gonzagão e Gonzaguinha – Uma História Brasileira”, de Regina Echeverria, Editora Leya, R$ 39,90, livro recheado (ao contrário dos pastéis da Catavento) de histórias, ditos populares e afins.
Nascido em Exu, Pernambuco, Gonzagão, embora filho de Januário José dos Santos, acabou batizado Luiz Gonzaga Nascimento. “Luiz em homenagem ao dia de Santa Luzia, o Gonzaga por sugestão do vigário, e o Nascimento por ser o mês de dezembro, o mesmo do nascimento de Cristo”. A devoção católica na cidadezinha era deveras forte.

Tango, bolero e valsa

Fica-se sabendo ainda que ele desempenhava bem em vários estilos – tango, bolero e valsa. Mas a fama veio quando decidiu superar o preconceito e assumir a cultura nordestina, tocando, nos cabarés da Lapa, composições como “Vira e Mexe” e “Pé de Serra”. Essas canções levaram Gonzagão a obter nota máxima em 1940, no show de calouros de Ari Barroso, na Rádio Tupi. Mais tarde, já Rei do Baião, comentaria:
– Tinha que levar minha música diretamente àqueles que ignoravam totalmente o Nordeste. O objetivo era cantar para os barrigas-verdes, os gaúchos, os caipiras, os cariocas.

Antes da Bossa Nova

Ainda do livro de Regina Echeverria: em 1941, Luiz Gonzaga, ou o velho Lua, apelido que veio por conta do formato redondo de seu rosto, já era chamado de “o maior sanfoneiro do Nordeste e até do Brasil”. A partir da década de 1950, o Rei do Baião passou a fazer viagens pelo Brasil e o mundo.
– Alcançou fama internacional muito antes de a Bossa Nova cair na graça dos estrangeiros – como garante Sérgio Deslandes, mestre e professor do Departamento de Música da Universidade Federal de Pernambuco.
– Vou comprar o livro. Na falta de pastel… – conformou-se o professor Afronsius.
– Agora até eu estou com vontade de traçar não um pastel, mas um baião de dois – arrematou nosso anti-herói de plantão.

ENQUANTO ISSO…


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