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Na trilha dos refugiados
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O número de setembro da revista Morasha (Herança Espiritual), editada pelo Instituto Morasha de Cultura, ligado à comunidade sefaradita de São Paulo, nos coloca “na trilha dos judeus refugiados do nazismo”. Trata-se de um artigo da pesquisadora e professora Maria Luiza Tucci Carneiro. Um artigo e uma convocação (“acordar o historiador que cada um traz dentro de si”).
Entre 1933 e 1935 pelo menos 78 mil judeus saíram da Alemanha e, em 1938, essa emigração atingiu um total de 150 mil, ou seja, uma parcela considerável da população judaica do país.
Para a pesquisadora, “rastrear as trilhas dos judeus perseguidos pelo nazismo entre 1933-1945 nos leva a múltiplos caminhos e encruzilhadas”.
– É impossível descobrirmos os paradeiros de todos, mas cabe a todos os cidadãos – de qualquer etnia, religião ou nacionalidade – envolver-se com a reconstrução dessas trilhas que dizem respeito aos valores universais de justiça, dignidade e direitos humanos.

Reconstrução da história

Desde a década de 1980, revela Maria Luiza, alguns poucos historiadores e arquivos históricos brasileiros começaram a buscar indícios que os ajudassem a reconstruir a postura do Brasil diante do Holocausto e dos judeus refugiados.
– Entre 1937-1948, o Brasil sustentou uma política de aparências, que acobertou as práticas antissemitas calcadas em circulares secretas.
Ainda no artigo, discorre sobre a omissão do governo brasileiro diante do Holocausto.
– Ainda que tais lembranças sejam cruéis, doloridas como cicatrizes que ainda sangram, ninguém tem o direito de se calar diante dos novos genocídios, do neonazismo e do negacionismo que hoje ganham espaço em pleno século XXI.
– O presente não é melhor que o passado, mas certamente poderemos aprender com os erros e os acertos desde que as dívidas assumidas com a verdade histórica sejam respeitadas. Não devemos renunciar à leitura de nossa história, pois dela depende a identidade e os valores das futuras gerações.

Nação “aberta”

O Brasil, apesar de se apresentar como uma nação “aberta” e adepta do espírito humanitário, instituiu cotas por nacionalidades e emitiu cerca de 27 circulares secretas antissemitas entre 1937-1948, dificultando a entrada dos judeus apátridas, “classificados” como de “raça semita”, indesejáveis, escreve a pesquisadora.
Alguns poucos diplomatas brasileiros em missão no exterior tiveram a coragem de emitir vistos, desrespeitando as normas secretas impostas pelo Itamaraty e, a partir de 1940, endossadas também pelo Ministério da Justiça.
Caso do embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, hoje reconhecido como “Justo entre as Nações”, ao lado de Aracy Moebius de Carvalho, então secretária e depois esposa do escritor Guimarães Rosa, cônsul em Hamburgo.

Trabalho incansável

Professora Livre Docente do Departamento de História da Universidade de São Paulo, Maria Luiza Tucci Carneiro é autora de “O Anti-semitismo na Era Vargas”; “O Veneno da Serpente. Reflexões sobre o Anti-semitismo no Brasil”; “Preconceito Racial em Portugal e Brasil Colônia”; “Cidadão do Mundo” e “O Brasil diante do Holocausto e dos judeus refugiados do Nazismo”, entre outras obras. Em coautoria com Celso Lafer, publicou “Judeus e Judaísmo na Obra de Lasar Segall”, pela Ateliê Editorial. Atualmente coordena junto ao LEER-USP o Arqshoah – Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo, cujo portal é www.arqshoah.com.br
O site da revista: www.morasha.com.br

ENQUANTO ISSO…


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