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Não porque é  sábado
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Aproveitando o dia, Natureza Morta mergulhou em recortes que se acumulam no anexo 2 da biblioteca da mansão da Vila Piroquinha. E lavou a alma. Não porque, como diz o Poetinha em O dia da criação, “neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios”. Ou porque hoje é sábado e amanhã será domingo. Talvez porque prefira a máxima do Beronha, que diz que “beber só no fim de semana é coisa de amador”.
Mas, voltando à papelada, o solitário da Vila Piroquinha localizou um texto de Otto Maria Carpeaux. Artigo publicado em 1964, jornal Correio da Manhã, sob o título “O gládio e o Direito”.

O tema do sermão

Natureza releu o artigo de Carpeaux, onde uma parte está sublinhada a lápis:
– Domingo, a obrigação de um bom cristão protestante é ir à igreja e ouvir o sermão do pastor, interpretando um trecho da Bíblia. Os puritanos anglo-americanos também gostam de discutir, depois, os conceitos emitidos pelo sermonista. Nem todos têm capacidade para tanto. O presidente Coolidge, dos Estados Unidos, por exemplo, costuma esconder as limitações de sua inteligência quase castrense. Perguntaram-no, certo domingo, quanto ao tema do sermão que tinha ouvido, e o presidente respondeu simplesmente “o pecado”. E então, perguntaram, que tinha dito sobre o pecado o pastor. Responde Coolidge:
– Disse que é contra.
Beronha, que apareceu inesperadamente, quis saber quem era o gajo.
– John Calvin Coolidge, o 30.º presidente dos Estados Unidos. Isso entre 1923 e 1929, devido à morte de Warren G. Harding. Aliás, é o único presidente nascido no Dia da Independência.

Um grande talento

Uma das marcas de Coolidge, segundo o jornalista e escritor Walter Lippmann…
– Quem é o gajo? – interveio outra vez o nosso anti-herói de plantão.
– Lippmann escrevia no World (1921-1931), Herald Tribune (1931-1962) e Washington Post (1962-1967) e tem um livro seu, indispensável, o Opinião Pública, lançado no Brasil.
Voltando a Coolidge de Lippmann: uma de suas características era “o talento para não fazer nada”. Em 1928, chegou a declarar: “Eu não escolho concorrer à presidência em 1928”.
Quando da Grande Depressão, Coolidge estava fora da política. Pouco antes de morrer, em janeiro de 1933, segredou a um amigo:
– Eu sinto que não mais me enquadro nestes tempos.

Pacto com a coincidência

Para encerrar – afinal hoje é sábado -, Natureza voltou a Lippmann. Para ele, a sociedade não se funda na comunhão. O homem tem um pacto com a coincidência. Assim, contava a história de quatro homens sob um poste. Um lá estava para realizar trabalho de pintura. Outro para ler um livro com boa iluminação. Outro “para abraçá-lo com ardor acidental e entusiasmo alcoólico”. O último “para ver no poste o rendez-vous com a sua namorada”.
Diz Lippmann que “os quatro homens no poste luminoso representam os governos, os partidos, as corporações, as sociedades, as universidades, as seitas e as nacionalidades do mundo”. E que tal “riqueza e diversidade humana foram, de fato, captadas eficientemente” por Coolidge.

ENQUANTO ISSO…


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