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No mato. Com cachorro
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Professor Afronsius, um vizinho, aproxima-se da cerca viva que separa seu apê da mansão de Natureza Morta. Para um dedo de prosa, como diz, com o solitário da Vila Piroquinha.
O professor conta que esteve visitando um amigo, em um pujante bairro de Curitiba (pujante pelo menos em termos de boom, ou buumm, imobiliário) e ficou estarrecido com o problema que os moradores enfrentam.
– Mau desempenho do síndico? – arrisca o solitário da Vila Piroquinha.
– Nada disso. Aliás, ele, o síndico, está no mato sem cachorro. Literalmente.

Malthus versão canina

Contou o professor Afronsius que, depois de superada a crise automobilística, decorrente da desenfreada demanda por garagens, pipocou uma outra, muito mais grave: o transbordamento da população canina.
Segundo ele, na última reunião dos condôminos, o comportamento era, sem trocadilho, hidrofóbico.
Rapidamente os moradores se dividiram em três correntes: a mais radical defendia o banimento puro e simples da cachorrada. Exílio direto. A segunda, mais científica, recorria a Malthus.
– Thomas Malthus?
– O próprio. A imperiosa necessidade do controle de natalidade da cachorrada.
– Caso contrário, com o acelerado crescimento demográfico canino, em breve teremos a escassez de recursos alimentícios. A fome.
– Exatamente, senhor Natureza.
– E a terceira corrente?
– Ah, essa propôs novos empreendimentos. Começando pelo dogmínio.
– Dogmínio?
– Isso. Um condomínio dentro do condomínio, só para cachorros. Com direito a EstarDog.
– EstarDog?
– Precisamente. Vagas – com postes – para passeio de cães e eventuais paradas. Com cartão de controle do tempo de permanência, de modo a garantir rotatividade no uso das vagas. Servirá ainda para encher as burras da administração do dogmínio.
Para se recuperar do estado de estupefação, Natureza aproveitou a chegada do Beronha e levantou acampamento. Informado da conversa, nosso anti-herói de plantão comentou:
– Já que não existe mais a carrocinha, cachorro legal mesmo é aquele que não late no apartamento e detesta sair passear.

ENQUANTO ISSO…


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