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No rastro do petróleo
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Existe um país árabe no Oriente Médio que seja decididamente a favor do Ocidente? Se há – ou houve algum dia -, por um bom tempo, quem diria, cabia ao Iraque loas como grande parceiro (ou aposta). E era saudado como “terra de esperança”. Por trás, ou no fundo, o petróleo. Ele mesmo, “amigo” ou “inimigo”. Tanto ontem como hoje.

Depois da Guerra do Iraque (2003/2011) e muitas otras cositas más, ler ou reler um artigo publicado pela (manjadíssima) revista Seleções do Reader’s Digest, edição de dezembro de 1957, não deixa de ser interessante. E, premonitoriamente, bastante ilustrativo.

Uma, e bela ilustração, aliás, leva ao corpo da matéria.

O texto é assinado por Edwin Muller e, mantida a grafia da época, começa assim, de modo impositivo:

– Há um país árabe no Oriente Médio que é decididamente a favor do Ocidente. É um país “subdesenvolvido”, mas está progredindo – graças a esforços e recursos próprios. Só pede ao Ocidente orientação e “assistência técnica”. Nêle, o comunismo não encontra onde firmar pé. Êsse país é o Iraque, a Terra Entre os Rios – o Tigre e o Eufrates.

– Orientado por um primeiro-ministro sagaz, esse reino é extraordinário na dura determinação de superar a pobreza pelos seus próprios esforços.

Seguem outros trechos do artigo:

– Hoje, o Iraque é uma terra de esperança. De um extremo a outro do país acha-se em andamento uma dezena de projetos de desenvolvimento no valor de muitos milhões.

Favelas de barro

– Em Bagdá, os bulldozers estão derrubando as favelas de cabanas de barro para abrir novas ruas. Para substituir as cabanas está quase concluído um projeto de construção de 1.250 casas. São casas modernas de tijolos, onde gente que nunca teve nem sequer instalações sanitárias está começando a viver decentemente.

“Um dos maiores estadistas do mundo”

E, na sequência, a Seleções enche a bola de Nuri as-Said, nomeado primeiro-ministro:

– É um dos maiores estadistas do mundo. Se não o fosse, a sua pequenina nação teria desaparecido há muito tempo, despedaçada como um coelho por uma matilha de cães.

Dos babilônios à luta pelo petróleo

– Nuri encontrou os meios de dar à nação aquilo de que ela precisava. O petróleo lá estava há muito tempo – já 5.000 anos antes os babibônios viram manar da rocha argilosa. Mas a sua exploração em grande escala é muito recente. Na azafamada luta pelo petróleo do Oriente Médio, o Irã, a Saudi-Arábia e Kuwait todos passaram à frente do Iraque na grande produção. A concessão do petróleo pertencia desde a década de 1920 à Cia. de Petróleo do Iraque, pertencente em partes iguais a interesses ingleses, franceses, holandeses e americanos. Mas durante muitos anos o petróleo foi apenas um fio.

– A situação se transformou, porém, quando após árdua luta Nuri as-Said obteve em 1952, da Companhia de Petróleo do Iraque, um novo contrato que dava a este 50% do lucro líquido do petróleo.

Deserto coalhado de “cadillacs”

– Iniciou-se então para Nuri as-Said uma batalha ainda mais áspera. Todo mundo no Iraque esperava seu quinhão do novo dinheiro abundante. Os xeques do Iraque olhavam para a fronteira da Saudi-Arábia e viam o deserto coalhado de Cadillacs dos xeques sauditas que recebiam generosos donativos do dinheiro do petróleo. Até o povo comum do Iraque achava que alguma parte dessa chuva de ouro devia molhar-lhe as mãos. Criou-se uma comissão de dez membros para empregar no desenvolvimento os 70% destinados a projetos a longo prazo –  30% eram destinados a despesas correntes do Govêrno. Dois membros eram estrangeiros: um norte-americano e o outro inglês.

– Tem havido reveses – um dos maiores ocorreu depois da crise de Suez, quando a Síria desligou os oleodutos que iam do Iraque para o Mediterrâneo.

– Sob o governo de Nuri as-Said, o Iraque tem vencido uma batalha na guerra mundial contra a pobreza, a ignorância e a doença – conclui Edwin Muller.

ENQUANTO ISSO…

 

 

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