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O achismo – e a sábia preguiça
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O episódio já foi devidamente registrado, mas vale a pena voltar à cena, um encontro de bons amigos. Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro e um índio, que acompanhava o professor. Os dois primeiros conversam longamente sobre os mais variados assuntos, enquanto o índio acompanha tudo, quieto, caladão.
Lá pelas tantas, Darcy quer saber por que o amigo ao lado nada diz:
– Estou com preguiça.
A reunião dos três é descrita em texto que consta de painel no Museu Oscar Niemeyer, o do Olho. Ao mesmo tempo, pelo Brasil afora, o que se falava – sobre qualquer tema ou assunto – caberia no livro dos recordes. E olha que mereceria registro, segundo Natureza Morta, que recordou o caso do amigo índio de Darcy ao comentar o achismo que grassa pelo país.

Necessidade imperiosa

O solitário da Vila Piroquinha, nesse ponto, mas só nesse ponto, dá um voto de louvor a Jânio Quadros, quando o ex-presidente mandava bilhetinhos (hoje seriam torpedos? Quis saber Beronha) aos subordinados. É que o brasileiro também é imbatível quando se trata de “achar” alguma coisa até mesmo sobre coisa nenhuma. Uma necessidade irrefreável, algo fora de controle, mesmo quando o cidadão é completa e reconhecidamente jejuno no assunto.
Natureza ficou imaginando algumas cenas com os eternos críticos, donos da verdade e especuladores. Noé conclui a arca. Um brasileiro que lá estivesse comentaria com o parceiro ao lado: “Acho que não vai dar certo. Navegar nunca foi com ele. Acho que vai entrar água no negócio”…
Um outro completaria: “E eu acho que vai ser só uma chuvinha”…
Diante da Torre de Pisa: “Acho que vai cair a qualquer momento”.
Torre de Babel, outro brasileiro: “Sabe, eu acho que vai ser possível entregar a obra na data aprazada”…
Sobre o jovem Pelé:”Ele tem miopia. Acho que não vai emplacar não”.
Foguete em direção à Lua: “Acho um desperdício, uma tremenda mancada… Acho que os gringos vão passar longe do alvo”…
Einstein e a Teoria da Relatividade: “Acho esse cabra inteligente, mas acredito que não vai chegar a lugar nenhum.”
Pênalti a favor do próprio time: “Xi! Acho que o goleiro vai defender ou a bola vai bater na trave”…

Do cinto ao capacete

Natureza pegou coisas mais recentes. Lei que tornou obrigatório o uso do cinto de segurança: “Acho que não vai pegar. Sempre achei o brasileiro um indisciplinado. Com certeza, acho eu, é mais uma lei para não ser cumprida”…
E o mesmo aconteceu com a obrigatoriedade do uso de capacete ao pilotar uma moto.
Hoje, no entanto, a despeito de todo o achismo, é coisa raríssima encontrar um motorista sem cinto ou um motoqueiro sem capacete.
Beronha quis mais exemplos. Natureza pediu desculpa ao amigo por ter falado (e achado) demais e invocou o amigo índio de Darcy:
– Estou com preguiça…

ENQUANTO ISSO…


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