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O pó líquido
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Não se trata de mania de perseguição. Em nenhum grau ou esfera. É que sempre ocorre algo inesperado e desconcertante com o professor Afronsius. Ocorrência mais recente. Escalado pela patroa, foi ao supermercado mais próximo. Normalmente, num domingão de Sol, pela manhã, não toparia com filas imensas. Ledo engano.

– Parecia que a torcida do Atlético mais a torcida do Flamengo resolveram marcar presença.

E o pesadelo parecia não ter fim. As filas. Antes, porém, foi obrigado a ouvir, de um cabôco ao lado, entre as prateleiras, o diálogo que travava com uma diligente funcionária, que, no momento, repunha os estoques.

– Onde eu encontro sabão em pó líquido?

– Desculpe, o senhor procura sabão em pó ou sabão líquido?

– Não. Sabão em pó líquido. Foi ordem da patroa, o general comandante-em-chefe

– Desculpe. Ou é sabão em pó ou sabão líquido. Não temos sabão líquido em pó nem sabão em pó líquido.

Alguns segundos de silêncio acachapante. Na moleira. Pelo menos na moleira de quem ouvia.

O freguês bateu retirada. Bufando:

– Há um complô para complicar minha vida.

Esse está pior do que eu, pensou o professor Afronsius. Passos seguintes, depois de vencer a fila e ficar retido no caixa agora por falta de troco, não dele, mas do caixa, deparou-se com a prova irrefutável de que alguém ou alguma coisa insistem em mexer com ele, quando não, provocá-lo.

Chovia torrencialmente. Ele, sempre um incauto, sem o guarda-chuva.

Chegou, ou conseguiu chegar em casa, e eis que ouve:

– Você não passa mesmo de um pamonha.

Quase foi dormir com o lombo quente. Pior: foi tentar dormir pensando “o que será o que o amanhã me reserva, amanhã, já às 6 horas?”

Guimarães Rosa sempre teve razão: viver é perigoso. E, ultimamente, mais ainda.

ENQUANTO ISSO…

17 marco (1)

 

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