Culpa do incunábulo

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Talvez por ter acordado com o espírito do Enriqueça o seu vocabulário, da velha Seleções, professor Afronsius não deixou por menos ao iniciar o bate-papo com Natureza Morta. Desafiador:

– Responda se for capaz! O que vem a ser incunábulo?

Silêncio geral, ou quase, posto que Beronha arriscou:

– Incunábulo? Um baita palavrão, algo a ver com estábulo e cavalos.

Com um leve traço de sorriso maldoso estampado na face, professor Afronsius sacou do bolso do paletó o exemplar deste mês da Revista de História da Biblioteca Nacional. Está lá, nas páginas 86/87, de leitura obrigatória (como todas as demais), sob a rubrica Decifre de for capaz: “Um incunábulo muito ilustrado”. E, como os recomendavam os velhos jornalistas, foi ao introito:

– A Historia de Vespasiano, de 1496, é um dos primeiros incunábulos impressos em português, conforme Silvio de Almeida Toledo Neto, professor de Letras da USP, que dá a versão em linguagem atual do documento.

– Introito?

– É. Início, começo do texto jornalístico, a origem do lead e sublead. Aliás, ainda existem?

O berço da tipografia

Voltando ao incunábulo: livro impresso nos primeiros tempos dos tipos móveis. Tais obras imitavam os manuscritos. Só meio século depois o livro impresso passaria a ter suas próprias características, abandonando as do manuscrito.

A origem vem da expressão latina in cuna (no berço), referência ao berço da tipografia. O primeiro registro de uso do termo encontra-se num panfleto de Bernhard von Mallinckrodt, De ortu et progressu artis typographicae (Do sucesso e progresso das artes tipográficas), publicado na cidade de Colônia no ano de 1639, e que inclui a typographicae incunabula – primeira infância da impressão.

Sem mais nada a dizer, mas muito a aprender, o trio encerrou o dedo de prosa. Nosso anti-herói de plantão saiu com um ar satânico, rumo ao Bar VIP da Vila Pioquinha:

– Vou apelidar alguém de incunábulo.

ENQUANTO ISSO…