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Saber tudo ou saber bem?
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Uma das coisas mais lidas nas velhas Seleções do Reader’s Digest era a seção Meu Tipo Inesquecível. Sobre isso, o professor Afronsius comentou que pode haver pelo menos dois tipos de pessoas. Pelo menos dois:
– O chato e o sujeito que, só pela presença, já faz você se sentir bem.
Sobre tipos inesquecíveis, Natureza Morta engrenou uma primeira e citou três, só para início de conversa: Graciliano Ramos, Otto Maria Carpeaux e A. da Silva Mello.
A respeito desses ilustres brasileiros, o solitário da Vila Piroquinha confessou ter ficado com uma pontinha de inveja do jornalista Benício Medeiros: conheceu pessoalmente Graciliano e Carpeaux.

Um duelo de respeito

Benício foi testemunha, por exemplo, de um encontro do Velho Graça e Carpeaux. Conta a cena em seu livro “A Rotativa Parou! – Os últimos dias da Última Hora de Samuel Wainer”, 2009, Editora Civilização Brasileira. Estava ele no Correio da Manhã, em busca de emprego. O autor de “Memórias do Cárcere” e Carpeaux “costumavam duelar para ver qual deles era o mais pessimista”. Brasil dos anos 1960, Jango no poder.
“Graciliano: Do jeito que as coisas estão, vamos acabar tendo de pedir esmolas.
Carpeaux: Mas a quem, Seu Graça, a quem?”

Vituperar o sol é desassisado

Professor Afronsius citou Antônio da Silva Mello, o A. da Silva Mello, autor de “Religião: Prós e Contras”, Civilização Brasileira, 1963, onde inova Carlyle, para quem “pensamento sem ação é doença”.
Ainda Carlyle, no segundo volume: “É desassisado vituperar o sol porque não nos acende o cigarro”.
Natureza viu-se obrigado a confessar:
– Desassisado? O que é exatamente?
– Fui ao dicionário: que não tem siso, desatinado, que não tem juízo.
Médico sanitarista e cientista, Silva Mello fez uma opção: renunciou ao “saber tudo” e procurou o “saber bem”.
E, na questão sanitária, até hoje um problema no Brasil, Silva Mello chegou a publicar estudo sobre a atitude física da defecação. Foi além, inventando uma nova privada, mais apropriada para o brasileiro. Mandou patenteá-la na Inglaterra, Estados Unidos, Argentina, Itália, Portugal e Espanha. Sem sucesso. Somente em 1964 o Ministério da Saúde libera o uso do “artefato”, com a garantia de que não continha nenhum defeito técnico e apresentava vantagem entre as outras latrinas “por não permitir o respingo provocado pela queda das fezes na água”.
Do ponto de vista higiênico, o sanitarista apontava como mais aconselhável a descarga pelo pedal, evitando o risco de contaminação pelas mãos. Já o manejo do papel com resíduo fecal provocaria poliomielite, advertia.
Um crítico intransigente da privada que dominou o mercado no Ocidente, nosso atento pesquisador criticava que, no Brasil, os vasos eram excessivamente altos, “considerada a estatura baixa da maioria da população”. Essa desproporção de altura dificultava o natural ato fisiológico. A altura adequada do vaso sanitário deveria ser de 20 a 30 centímetros, assegurava.
Beronha, nosso anti-herói de plantão, que ouvia atentamente, disse concordar com tudo, muito embora não tenha entendido nada.

ENQUANTO ISSO…


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