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Sem guerra, por favor
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O governo do Estado acaba de lançar o programa Nota Fiscal Paranaense. Para estimular o consumidor a exigir nota fiscal. Uma espécie de delação premiada? Haverá prêmios que chegam a R$ 100 mil por trimestre e R$ 10 mil por semana.

Ao ler a notícia, professor Afronsius deixou de cofiar o bigode para cruzar os dedos, fazendo figa. É que lhe veio à lembrança a campanha Seu talão vale um milhão – e, por supuesto, a guerra do pente.

A tal nota fiscal e o pente

Foi no dia 8 de dezembro de 1959, quando da venda – ou da compra – de um pente, numa lojinha da Praça Tiradentes. O consumidor pediu a nota fiscal. Diante da negativa do comerciante, exigiu a nota. Outra negativa. Acabaram indo, como dizia e acentuava o noticiário policial da época, às vias de fato. E que fato, sem falar das vias.

Beronha quis saber se era pente Flamengo. Foi olimpicamente ignorado.

Voltando à briga. Ela foi aumentando e Curitiba parou. Inclusive por conta de quem usava peruca. A ordem só foi restabelecida, dois dias (e noites) depois, com a intervenção do Exército. Intervenção, no caso, legal, sem violentar a Constituição Federal, posto que solicitada pelas autoridades policiais, já que a Polícia Civil e a PM não conseguiam resolver a parada.

Uma febre nacional

Mas, voltando à campanha Seu talão vale um milhão, há um excelente artigo da Revista de História da Biblioteca Nacional, edição de 2 de maio de 2011, de autoria do professor Elson Oliveira Souza, pesquisador do Projeto Pró-História Institucional da PUCPR e autor do livro A CEU Ontem e Hoje (Protexto, 2009), que abre o leque quanto ao episódio.

Breves trechos:

– A campanha do talão “virou uma febre nacional a partir do final dos anos 1950 e chegou a inspirar uma marchinha de Carnaval no ano seguinte. O objetivo do governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976) era incentivar o consumidor a pedir a nota fiscal sempre que fizesse uma compra. Cada três mil cruzeiros em notas poderiam ser trocados por um cupom que daria ao cidadão o direito de participar do sorteio de um milhão de cruzeiros. Mas o que aconteceu em Curitiba ultrapassou todas as expectativas. Quem poderia imaginar que, por conta da promoção, a simples venda de um pente daria início a um embate que teria consequências catastróficas para a cidade?”

Ainda transcrevendo o texto do professor Elson:

– Quando o governador do estado, Moysés Lupion (1908-1991), resolveu promover a campanha no Paraná, não imaginava até que ponto certo consumidor estava disposto a lutar pelos seus direitos em um estabelecimento conhecido como Bazar Centenário. Ali, após lhe terem negado a nota fiscal pela compra de um pente, o subtenente da Polícia Militar Antônio Haroldo Tavares, indignado, insultou com palavrões de baixo calão o comerciante que o havia atendido, dando início a uma séria discussão.

Pois é, espera-se que os tempos tenham mudado.

Ou seja, que o pente  de ontem não tenha virado Smartphone e, a nota fiscal, cupom eletrônico.

ENQUANTO ISSO…

18 abril (1)

 

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