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Um “asilo” muito louco
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No bar VIP da Vila Piroquinha, que é frequentado por Beronha – “não que eu faça muita questão disso”, segundo alega nosso anti-herói de plantão – cenas estranhas se repetem. Exemplo recentíssimo: entra um cidadão, pergunta quanto custa “meia dúzia de Brahmas da Antarctica”, anota e senta-se à mesa mais próxima ao balcão. Saca o talão de cheques e, enquanto é aberta a primeira garrafa, quer saber:
– Aceitam cheque?
– Sim.
– Perfeito – e começa a preencher a primeira folha.
– Por favor, que dia é hoje?
– 29.
– Mês?
– Outubro.
– Ano?
– 2011.
– Por favor, em qual cidade nós estamos?

Tem muito mais

Chega outro freguês. Sozinho. Pede uma mesa para oito.
– Oito? – o dono da bodega junta duas mesas e insiste na pergunta.
– Oito?
– Eu e meus sete amigos aqui, os anões.
– Não vejo ninguém…
– É claro, eles são invisíveis para estranhos.
Desembarca mais um cidadão.
– Tem bolinho de carne?
– Tem.
– Quero um. Dá para embrulhar pra presente?
– Ainda bem que ele não pediu, como costuma fazer um outro sujeito, “um bife acebolado sem cebola” – desabafa o botequineiro ao chegar à cozinha com o pedido.
Na volta, um outro frequentador pergunta pelo jornal do dia.
– Não, não chegou. Só tem da semana passada.
– Ótimo. Perfeito. Assim as palavras cruzadas já vêm prontas…
Na conversa à mesa ao lado, alguém solta um “que diabo!”, ao que retruca o parceiro:
– Não me envolva em seus problemas, lambanças e querelas pessoais…

E prossegue o baile

Aos poucos, a bodega está quase cheia. Muitas confissões. Uma delas: o cara promete que ainda vai realizar seu sonho, o de se tornar um “recolhedor” de carros.
– Você quis dizer guardador…
– Não, recolhedor de carros. Dirigir o guincho do Detran…
E há quem jure que nunca teve emprego porque leu, numa revista, que o trabalho “desertifica” o homem. Não seria dignifica? Não, “desertifica” mesmo.
Aí aparece o vendedor de muamba. Para provocar, alguém quer saber se é tudo original.
– Com certeza! Direto do fabricante. Retirei ontem mesmo da Ponte da Amizade.
Beronha, afofando o pelo (e tem coisa mais doida do que pêlo sem acento?):
– Fora isso, está tudo nos eixos, sob controle.
Ao saber das histórias, Natureza Morta lembrou do filme “Um Estranho no Ninho” (One Flew Over the Cuckoo’s Nest), de Milos Forman, 1975, com Jack Nicholson, Louise Fletcher, William Redfield e Michael Berryman.
Conta a história de Randle Patrick McMurphy (Nicholson), um prisioneiro que simula estar maluco para não trabalhar e vai parar numa instituição para doentes mentais, onde a clientela decide tomar o poder. Parece que eles conseguiram, pelo menos fora do filme.

ENQUANTO ISSO…


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