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Vamos rever o Estatuto?
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Fim de semana, uma ligação de Florianópolis. Um grande amigo.
– Fala, Hernani!, prazer em ouvi-lo – diz Natureza Morta, antes de o cidadão ter tempo de dizer um ai. Bastou o tradicional alô.
– Como você sabe que sou eu?
– Ora, pelo leve sotaque javanês em seu alô…
E começaram a conversar. O amigo do solitário da Vila Piroquinha buscava informações. Mais precisamente informações sobre o Estatuto do Idoso.
– Algum problema na fila do banco? Não conseguiu lugar sentado no ônibus urbano?
– Não. Muito pelo contrário, daí a consulta. Estou em Floripa…
E o papo foi rolando.

Direitos inalienáveis

Natureza fez um histórico do Estatuto do Idoso, que estabeleceu os direitos da velha guarda, “fazendo-os plenamente reconhecidos na sociedade contemporânea”. Trata-se da lei 10741, de 1.° de Outubro de 2003, sancionada e assinada pelo presidente Lula.
Mais abrangente do que a Política Nacional do Idoso, lei de 1994 que dava garantias à chamada terceira idade, o Estatuto instituiu penas severas para quem desrespeitar ou abandonar o cidadão que já chegou – ou cruzou – o disco dos 60.
– Aliás, eu tenho um outro amigo que, no mês passado, no aniversário, informou à vizinhança que a partir de então passara a ser um homem sexy – conrou Natureza.
– Sexy?
– Não exatamente, mas sexigenário, como diria o Malu.
– Quem?
– O Malu, Luiz Alfredo Malucelli.
– Ah, gosto muito dele e leio muito suas crônicas.

Atendimento preferencial

Depois sete anos tramitando no Congresso (Beronha acha que demorou tanto porque os velhinhos de lá não queriam dar o braço a torcer quanto à idade), o Estatuto saiu do papel.
Explicando ao Hernani (alô?) os avanços (“não avance muito que não vai sobrar ninguém para contar a história”, interveio Beronha outra vez) nas áreas de saúde, transportes coletivos e em outras esferas, Natureza frisou, como exemplo, que todo o idoso tem direito a 50% de desconto em atividades de cultura, esporte e lazer.
– Ah! É nesse ponto que eu queria chegar. Atendimento preferencial, inclusive com 50% de desconto no lazer.
E justificou:
– Estou num baita botecão aqui de Floripa, um calorzinho genial, mas está superlotado. Não tem uma mesa vazia sequer. Vou invocar o Estatuto do Idoso para conseguir uma… até abro mão dos 50% de desconto.
– Mas frequentar bar não é lazer…
– Como não? Querem que eu vá praticar skate ou surfe? Já imaginaram a Rainha Elizabeth II de minissaia, peruca vermelha, saindo para dar uma banda de patins? Um absurdo!
Diante da explosão de ira e indignação do amigo, Natureza ponderou que o Estatuto não previa tais “exercícios”, muito menos o atendimento preferencial em boteco quando da falta de mesa.
– É falho, não abrange o essencial. Tal estatuto necessita urgentemente de um adendo, um anexo, um apenso que seja – sugeriu o iracundo amigo, antes de dar tchau e desligar.
Natureza anotou o pedido.
Beronha jura que, ato contínuo, o solitário da Vila Piroquinha discou – ou melhor, teclou – para a bancada paranaense em Brasília.
– Que tal? Vamos trabalhar? – disparou. Um tanto enfático.

ENQUANTO ISSO…


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