• Carregando...
Apenas mais um texto infame
| Foto:

Klon, o Cyborg


Meu nome é Klon, eu sou um cyborg. Sempre acreditei na ciência e nos avanços tecnológicos desenvolvidos pelo homem. Por isso me tornei um cyborg. Por isso permiti que cientistas implantassem em mim, a título de experiência, chips de conteúdo e conhecimento que me tornaram uma criatura única no mundo, metade homem, metade máquina.
Ao longo de uma década implantei em média 30 ou 50 chips por ano em todo o meu corpo. Não é ruim e nem perigoso. E quando você pega o gosto pela coisa, acredite, não quer parar mais. É como o cara que começa com uma tatoo e, quando vê, não tem um centímetro do corpo que não esteja coberto com algum desenho esverdeado.
Eu implantei em minhas mãos chips que me permitem apagar e acender luzes. Me permitem abrir portões automáticos com um simples gesto e me permitem mover cadeiras-de-rodas motorizadas, ligar e desligar aparelhos eletrônicos, mover peças de ferro, mover ponteiros de relógios, dar partidas em carros, vasculhar agendas eletrônicas, deletar músicas de i-pods e fazer mais umas 10 milhões de coisas que nem sei ao certo, sem ao menos tocar nos objetos. Só com um simples estalo de dedos.
Permiti que implantassem em meu cérebro chips que contém a gramática de todas as línguas do mundo, inclusive as extintas. Chips com conteúdos de geografia, história, biologia, medicina, direito, preceitos religiosos, filosofia, zoologia, psicanálise, geologia, eletrônica, astrologia, arquitetura, física, química, engenharia, tipografia. Eu posso lhe fazer uma neurocirurgia agora, se você quiser.
Imputei chips em meu cérebro que detém o conteúdo de toda a literatura do mundo. Por exemplo, Shakespeare em inglês, espanhol, português, bantu, esperanto, aramaico. Eu posso citar Shakespeare na língua que você pensar. Toda a literatura brasileira, claro, ficou num chip à parte da literatura mundial, porque me interessou o fato de eu poder atualizá-lo com os títulos recém-lançados, simplesmente acoplando um pen drive em minha bunda e fazendo o download.
Eu tenho um chip que me permite entender a linguagem dos sinais e matemática. Tenho um chip só de piadas. Tem todas, de português, de veado, de loira, de gaúcho e tem piadas sujas. Sei piadas de todos os povos, desde o humor judeu até o humor alemão, que se constitui de mais ou menos umas cinco piadas fracas.
Eu implantei chips que permitem me comunicar com golfinhos, macacos, pássaros. Posso encantar cavalos. Posso encantar baleias. Encantar serpentes. Implantei chips com informações sobre agricultura. Sei como se plantam rabanetes, sei como arar a terra, sei como descascar mandioca. Tem um chip na região do meu pescoço só com receitas culinárias, então eu poderei plantar rabanetes e prepará-los como o melhor chef jamais prepararia.
Implantei, em meus olhos, chips que me permitem ver o mundo de várias cores diferentes. Efeitos psicodélicos, mundo em preto e branco, olhar de iguana, visão de raio-x, tudo. Só falta soltar lasers. Tenho chip que me permite pintar como Van Gogh, desenhar como Rembrandt, e pensar como Picasso. Este último, é o chip da criatividade, que armazena zilhões de idéias diferentes para roteiros de cinema, cartuns, literatura. Uma combinação infinita de possibilidades. Precisam ver o solo de guitarra que tirei, tocando como Hendrix, pensando como Bird e compondo como Mozart. Alguém seria capaz disso sem os milagres da ciência tecnológica? Não, ninguém seria capaz disso.
Quero ver o primeiro filme do John Ford ou um episódio perdido de Columbo? Basta fechar os olhos que o chip videoteca passa num instante em minha cabeça. Dublado, porque eu só vejo filmes dublados!
Tenho chips que me fazem correr como Carl Lewis, nadar como Michael Phelps, jogar como Roger Federer, pilotar como Michael Schumacher, criar jogadas como Pelé. Sem suar, pois tenho um chip que inibe e trata o suor, transformando-o novamente em líquido potável e proteínas, regando as fibras dos meus músculos.
Eu implantei chips que transformam a cor da minha urina. Impantei chips que transformam meus flatos em notas musicais. Minhas nádegas têm chips desodorizantes. Chips que esculpem meus excrementos em formato de cavalinho, girafa, o que eu quiser. Unido ao chip da memória fotográfica, meu ânus esculpiu o retrato de meu pai em fezes, que eu dei de presente a ele, no dia de seu aniversário.
No meu pênis, chips que mantém ereções por tempo indeterminado. Mas o que eu mais gostei foi o chip bombinha, que aumentou em 4 centímetros minha genitália. Tenho chips com imagens de garotas nuas, todas as edições da Playboy. É a maior revolução já feita na masturbação desde o cara que descobriu a famosa técnica de deixar a mão formigando.
Eu sou Klon o cyborg, o homem-máquina, o ser que mais se aproximou de Deus, desde Funnes, o memorioso. Bem, agora tenho que ir. Se meu chefe me pega usando o computador para navegar na internet, ele vai ficar uma fera.

Alberto Benett

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]