
Ouça este conteúdo
Quando Trump foi eleito, pronunciei-me no sentido de que havia aspectos positivos para o Brasil, mas que igualmente existiam pontos de preocupação. Os aspectos positivos consistiriam no contraponto necessário aos excessos da cultura woke e o retorno a um discurso e a uma postura mais firmes de lei e ordem. Os pontos de preocupação residiriam na ameaça da guerra tarifária e da revisão do apoio à Ucrânia na guerra promovida pela Rússia. Infelizmente, os principais temores se concretizaram.
Trato nesta coluna apenas das tarifas. Trump anunciou que, a partir de primeiro de agosto, os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos sofreriam uma tarifa adicional de 50%. Relacionou a medida aos abusos processuais contra o ex-presidente Bolsonaro, às decisões tomadas pelo STF contra as plataformas digitais norte-americanas e a um inexistente déficit dos EUA na balança comercial com o Brasil.
A tarifa extra, se efetivada, não será um golpe de morte contra a economia brasileira, já que os EUA já não são nosso principal parceiro comercial, mas será desastrosa para alguns segmentos da atividade econômica do Brasil que exportam aos Estados Unidos e que teriam dificuldades, no curto ou médio prazo, para encontrar mercados alternativos.
Nem mesmo o Paraná sairá incólume. Por exemplo, nos últimos dias, reuni-me com o setor madeireiro, que tem o mercado norte-americano como um destino relevante, e que terá prejuízos severos com a nova tarifa.
O Governo Lula, até o momento, reagiu da pior maneira e buscou explorar politicamente o episódio, atribuindo a responsabilidade do ocorrido ao ex-presidente Bolsonaro ou buscando caracterizar Trump como um inimigo externo do Brasil.
Ocorre que o momento não é de bravataria ufanista ou de cavar ganhos eleitorais. Afinal, no detalhe, a culpa pelo ocorrido também pode ser atribuída à postura hostil de Lula contra Trump e ao antiamericanismo infantil do PT. Lembremos que Lula ofendeu Trump durante as eleições e manifestou sua preferência eleitoral pela concorrente.
Lula se aproximou, globalmente, de ditadores e de regimes hostis aos EUA, como o Irã, e ainda, no BRICS, defende medidas que contrariam os interesses dos EUA, como o abandono do dólar como moeda em transações comerciais internacionais. Lula, desde a posse de Trump, não se preocupou em estabelecer pontes com o novo Governo norte-americano e que seriam essenciais, no atual momento, para debelar a crise.
Veja-se a diferença de tratamento concedido pelos EUA à Argentina do presidente Milei, com quem Trump tem excelentes relações, e que logrou celebrar um acordo comercial de redução de tarifas para os produtos argentinos.
VEJA TAMBÉM:
De todo modo, o momento não é de encontrar culpados, mas de achar saídas e soluções que passam pela negociação diplomática firme e serena
O Brasil não tem condições de romper com os EUA ou ingressar em uma espiral de retaliação comercial que seria danosa a ambas as economias, mas em especial para a nossa.
O melhor caminho é sentar-se à mesa de negociação e verificar se a ameaça tarifária pode ser afastada com melhores acordos comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos, quem sabe reduzindo tarifas e barreiras comerciais entre ambos os países.
Já quanto aos excessos e erros nos processos conduzidos sobre o 8/1, essa é uma questão que já vinha sendo discutida no Brasil e que tem que ser resolvida internamente. O Brasil precisa buscar alternativas e evitar o pior cenário possível que seria ingressar em uma guerra tarifária com os Estados Unidos.
Os receios nesse caso de que nos afastemos ainda mais das democracias ocidentais, nossos naturais aliados, e nos aproximemos dos regimes autoritários, serão cada vez maiores. As tarifas são inaceitáveis, mas soluções e não ganhos eleitorais precisam ser buscadas pelo atual Governo.
Conteúdo editado por: Aline Menezes




