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VIVA A NARA-RA-RA
| Foto:
Divulgação/Universal Music/ autoria não informada
PROJETO COMPILA CANÇÕES GRAVADAS POR NARA LEÃO SOB VIBRAÇÃO DO TROPICALISMO, QUE SE ESTENDEU A ALGUNS DISCOS SOLOS: INTÉRPRETE COM RARA INTELIGÊNCIA MUSICAL

Foi assim: maravilhada com “Lindonéia – a Gioconda do subúrbio”, Nara Leão (1942 -1989) pediu a Caetano Veloso e Gilberto Gil uma canção remetendo às sensações que a tela do artista Rubens Gerchman lhe proporcionaram. Dito e feita, “Lindóneia” foi parar em “Panis et circensis”, disco-manifesto-coletivo do Tropicalismo, movimento que Nara Leão endossou.

Na capa do emblemático álbum, de 1968, cuja capa foi criada – vejam só – por Gerchman (1942 -2008), Caetano Veloso aparece segurando um porta-retrato com foto em preto-e-branco de Nara. “Me picharam na época, mas não me importei porque se acho bom, se vejo que é renovador, não tenho preconceito”, rebateu ela.

A declaração está no encarte de “Nara Tropicália” (Universal Music), álbum duplo, embalagem digipack, que reúne canções registradas entre 1966 e 1972 por uma das mais versáteis intérpretes da música brasileira.

A seleção do repertório e texto ficou a cargo do pesquisador Thiago Marques Luiz, que incluiu a inédita “Capricho”, música de Francis Hime sobre poema de Castro Alves, apartada da trilha sonora de “O Casarão”, novela de 1976. Total, 28 músicas.

“Nesta compilação, traçamos um panorama do que representou Nara Leão para o movimento (Tropicalismo) e os rumos que essa passagem deu ao seu trabalho”, escreveu o pesquisador. “Nara Tropicália” contém algumas canções essenciais do movimento como “Mamãe coragem” e “Deus vos salve esta casa santa” (ambas de Caetano- Torquato Neto), “Ladainha” (Gil- Capinan) e “Vento de maio” (Gil – Torquato Neto).

“A Tropicália era um punhado de coisas, todas elas importantes para aquele momento. E a Nara representava uma credibilidade, um certo prestígio, afinal, ela já era muito mais nome do que todos nós naquela altura”, comentou Gilberto Gil. “E não era só isso: a Nara era um outro lado, era a doçura que fazia contraste com o que nós talvez poderíamos chamar de agressividade musical dos tropicalistas”, complementou. Bacana, isso, né?

Com meia dúzia de discos gravados e gozando de boa popularidade depois da banda passar passar cantando coisas de amor, Nara conheceu os mentores da Tropicália, durante uma viagem a Salvador. Isso no começo da década de 60. E se entusiasmou com a efervescência da proposta musical de Caetano, Gil, Tom Zé, Gal Costa e, por tabela, Maria Bethânia, que a substituiu, em 1965, no espetáculo “Opinião”.

Inquietude estética – Como simpatizante e não militante – ela fazia questão de deixar bem claro-, Nara soube absorver a essência do movimento e fez o próprio caldeirão sonoro. Alguns de seus discos foram produzidos pelo maestro Rogério Duprat.

“Nara Tropicália” mostra a diversidade da intérprete que subiu no morro para buscar Cartola e Zé Ketti, consagrou João do Vale e releu Carmem Miranda (versão deliciosa e maliciosa de “Me dá… me dá”) Aracy de Almeida (“Fez bobagem” e “Camisa Amarela”).

A inquietude estética de Nara paira sobre Dorival Caymmi, Sidney Miller, Jayme Ovalle e até duas versões próprias: “La Colombe” (do francês Jacques Brel) e “Parabién de la paloma” (do chileno Rolando Alarcón), essa com contornos políticos.

Joelhos juntinhos, olhos de indisfarçável timidez. O violão era um escudo: ao mesmo tempo em que se defendia, atacava as mazelas políticas e sociais de uma época em que códigos eram escritos no ar. Aliás, os cavalos que detinham o poder relinchavam quando Nara deixava a doçura de lado para entoar canções de protesto. Brava!

Todo mundo sabe que Nara Leão foi musa da Bossa Nova, que muitas vezes viu o barquinho indo, a tardinha vindo e coisa e tal. É peça fundamental do mais generoso movimento musical brasileiro. No entanto, quem ainda acha que ela se bastou nessa praia, pode refazer os conceitos através de “Nara Tropicália”. É um bom começo.

DISCO 1

1.Lindonéia (Caetano Veloso – Gilberto Gil)
2. Mamãe Coragem (Torquato Neto – Caetano Veloso)
3. Pisa na Fulô (Ernesto Pires – Silvério J. – João do Vale)
4. Parabéns de la Paloma (Rolando Alarcón . Versão: Nara Leão)
5. Quem é? (Custódio Mesquita – Joracy Camargo)
6. Me Dá… Me Dá (Cícero Nunes- Portelo Juno)
7. Odeon (Ernesto Nazaré-Vinicius de Moraes – Ubaldo)
8. Infelizmente (Ary Pavão – Lamartine Babo)
9. O Circo (Sidney Miller)
10. Deus Vos Salve Esta Casa Santa (Caetano Veloso –Torquato Neto)
11. Minha História (ao vivo. João do Vale –Raymundo Evangelista)
12. Cabra Macho (Guto –Mariozinho Rocha)
13. Azulão (Jayme Ovalle – Manuel Bandeira)
14. Vento de Maio (Gilberto Gil – Torquato Neto)

Reprodução
“NARA TROPICÁLIA” CONTÉM 28 CANÇÕES, UMA DELAS “CAPRICHO, MÚSICA DE FRANCIS HIME SOBRE POEMA DE CASTRO ALVES: VERSATILIDADE A TODA PROVA

DISCO 2

1. Atrás do Trio Elétrico (Caetano Veloso)
2. Lancha Nova (João de Barro –Antonio Almeida)
3. O Tic-Tac do Meu Coração (Walfrido Pereira Silva – Alcyr Pires Vermelho)
4. Donzela, por Piedade Não Perturbes (J.S. Arvelos)
5. Mulher (Custódio Mesquita – Sady Cabral)
6. Ladainha (Gilberto Gil – Capinam)
7. Morena do Mar (Dorival Caymmi)
8. Fez Bobagem (Assis Valente)
9. Apanhei-te Cavaquinho (Ernesto Nazareth – Ubaldo)
10. La Colombe (Jacques Brel. Versão: Nara Leão)
11. Ta-Hi (Pra Você Gostar de Mim. Joubert de Carvalho)
12. Camisa Amarela (Ary Barroso)
13. Mais uma Estrela (Bonfiglio de Oliveira –Herivelto Martins)
14. Capricho (Francis Hime sobre poema de Castro Alves)

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