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A profundidade rasa de um jogo de tiro
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O que mais impressionou em Bulletstorm até o momento foi o trailer de lançamento. Uma espirituosa paródia da série Halo e outros títulos “sérios”. Nas imagens, uma ode irônica à tentativa vã dos desenvolvedores atuais em tentar dar uma carga dramática para os jogos de tiros. Uma crítica já reiterada por diversas vezes neste espaço. Cada dia parece mais patética essa busca por profundidade narrativa. Até hoje, pode se dizer que todos FPSs (First-Person Shooter) que passaram na mão deste colunista conseguiram no máximo se igualar ao roteiro de um filme como Avatar. Vejam, caros leitores, que o objetivo de aprofundamento ficcional não está sendo alcançado.

Os motivos reais para esta obsessão por uma história comovente não são muito claros. Talvez os desenvolvedores busquem um certo reconhecimento e estão tentando, por vias erradas, encontrar o caminho para conseguir se igualar ao cinema ou à literatura. Não percebem que a história é o que menos importa num jogo. Principalmente quando está se falando em jogos de tiros. Poucas pessoas com mais de 12 anos de idade estão conectadas no enredo farsesco de Halo, por exemplo. Aquela velha história de nação alienígenas agressora em expansão imperial caiu no clichê há décadas. Soldados protagonistas musculosos e heroicos também não só lá um sopro de criatividade desde Rambo (só para manter o nível lá embaixo).

Então por que Killzones e afins vendem tanto e são tão reverenciados? Na opinião deste colunista, pelo simples fato de que são um mergulho viciante numa jogabilidade balanceada. Por mais que não seja notado num primeiro momento, o que mais conquista em Halo não são as histórias das vidas dos protagonistas sem expressão. É o atraso de resposta dos comandos em 0,2 segundo. Melhor explicando: em dado momento, os programadores acharam por bem aumentar o tempo de resposta entre a ação do jogador e o que acontece na tela. Ao dilatar este tempo acabaram criando uma sensação mais realística. No mundo real, os armamentos ainda são mecânicos e muito mais lentos que a velocidades de transmissão de uma carga elétrica (joystick). Com isso, inconscientemente os jogadores tiveram acesso a uma experiência mais imersiva, mesmo tendo que aturar as rasas linhas de roteiro.

Videogames são uma experiência muito mais física do que intelectual. O tato é muito mais importante que a audição. O conjunto visual perde para a lógica da movimentação e do fluxo de acontecimentos. Fórmulas empregadas para descrever as artes visuais não conseguem explicar os games. Neste contexto, pode-se afirmar que as histórias tão parecidas, e rasas, acabam se tornando apenas um conjunto de regras. Nada mais que isso. As diferenças entre um Call of Duty e Tetris são mínimas. Isso é o que pode gabaritar os videogames a encabeçarem a próxima revolução cultural e artística. Nenhum outro meio conseguiu despertar emoções reais através apenas da interação motora.

Mas, afinal, o que mostram as imagens de Bulletstorm? Basicamente, é uma sátira. O trailer contém cenas em câmera lenta, com música incidental e dramática, para valorizar os detalhes de uma batalha, algo como o encontrado em O Resgate do Soldado Ryan e em vídeos dos jogos que se consideram sérios. Balas varando capacetes, inimigos tombando lentamente. Da parte de Bulletstorm, foram acrescentados vômitos, carrinhos de cachorro-quente e heróis sendo atingidos em partes íntimas. Ou seja, será que os jogadores realmente estão atrás da pieguice das histórias ou querem apenas a experiência?

O jogo, no fim das contas, não tem nada de engraçado – só o trailer mesmo. Usa e abusa de todos os clichês do gênero também. A história central gira em torno de um pirata espacial do século 26. O diferencial é que estes itens estão lá de forma superficial, para dar sentido à jogabilidade. Muito bem calibrado, se sobressai dos demais por trazer o sistema “Skillshot”, que dá vantagens aos jogadores que utilizarem mais crueldade para aniquilar os inimigos. Além disso, não faltam sangue e gosma nos cenários, que vêm recheados de armadilhas. Como se pode notar, não é o melhor jogo do estilo. Destaca-se, no entanto, pela sinceridade.

Divulgação
Imagem de Bulletstorm: o trailler de lançamento, irônico e espirituoso, foi o que mais impressionou

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