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É indiscutível o favoritismo de Marcelo Dourado no BBB 10. Dentre os cinco concorrentes, Lia e Fernanda são praticamente cartas fora do baralho. A primeira, aliás, deverá chegar até a final por méritos próprios, apesar de muitos acharem o contrário. Foi Lia uma das primeiras a entender a mecânica do jogo de aproximação e se cercou dos dois candidatos mais fortes. Conseguiu um dos maiores feitos na história do programa, chegar à última semana sendo detestada pelo público e passando por diversos paredões. É como se fosse um mal necessário.

Dicésar sobrevive apesar de sua ignorância dentro da casa. Como disse aqui há quase dois meses, a facilidade dele de trocar de amizades o levaria longe. O problema é que o londrinense se posicionou como o anti-Dourado, uma espécie de paladino da diversidade. A drag queen tomou tal decisão mesmo sabendo que o lutador foi escolhido pelo público para ter o poder supremo (quer prova maior de popularidade?), passar ileso por quatro paredões e ver todos que se opuseram ao suposto homofóbico (tese defendida unicamente por Dicesar) serem varridos da disputa. Um verdadeiro apagão cerebral. Poderia ser um contraponto ao conservadorismo. Poderia ter diminuído o personagem criado pelo concorrente com sabedoria. Poderia ter ridicularizado a posição machista dando um contraponto liberal, de direitos individuais. Perdeu a chance ao escolher a maledicência e cizânia.

Dourado, em compensação, nada de braçadas. Sabia desde o início que a sua autoexclusão dos grupos criaria uma empatia imediata com o público. As primeiras semanas foram fundamentais, muito difícil um telespectador trocar de personagem no meio do programa. Vive pregando coerência, coisa que está sabendo praticar com louvor. Dourado é plano, não mudou um centímetro desde que entrou na casa, ao contrário dos outros quatro concorrentes, como Cadu que, no finzinho, jogou Anamara aos leões e, pela primeira vez, passou por um enfrentamento.

Na décima edição, ainda é impossível entender o que faz um vencedor. Dourado às vezes solta uma frase emblemática que nos ajuda a tentar compreender a atual situação. Afirma que só está passando pelos paredões porque o público mudou. Há certa verdade nisso. Em nenhuma versão anterior um antiherói foi vencedor. Ou teria o lutador mudado? Quem acompanha mais assiduamente sabe que não, pois ele erra rotineiramente. Manda mulheres calarem a boca, não gosta da convivência com os gays (apesar de tolerar), é brucutu. Acredita que dar socos é um bom argumento. “Força e honra”, brada.

Há mais de um século, um alemão defendia que estávamos subjulgados pela cultura da compaixão, que não era inerente ao ser humano. Segundo ele, precisaríamos derrubar os dogmas da moral judaico-cristã que prega um mundo dividido entre bons e maus. Dogmas criado em um erro histórico que chamou de moral dos ressentidos. Friedrich Nietzsche tentou mostrar que o homem era mais animal que os filósofos tentavam afirmar. Seríamos como células, cuja nobreza (e não virtude) seria se multiplicar e acabar com células mais fracas. Criou a teoria do super-homem, cujo objetivo era mostrar que a evolução do pensamento e da espécie precisava passar por um olhar mais digno dos tempos modernos. Um homem não poderia se balizar por outros mais fracos. Não deveria ser um cordeiro à espera de uma salvação. A salvação, lógico que não usou este termo, era algo prático, buscado no dia a dia. O objetivo seria buscar a excelência acima de qualquer outra coisa.

Seria esse pensamento, muito contestado durante anos, se tornando uma espécie de nova moral? Não faço a mínima ideia. Mas, como mostrou Michael Haneke em A Fita Branca, a sociedade dá pequenos indícios antes de grandes mudanças. Dourado representa uma espécie de super-homem, do ponto de vista de Nietzsche. Pode passar por cima de sentimentos menos nobres, compaixão e tolerância, para chegar até a vitória. Tem uma tatuagem que nega a fé cristã. Teria uma segunda com um símbolo nazista, sociedade que pregou a eliminação dos fracos. Luta pra viver.

Uma possível vitória de Dourando seria um indício que hoje estamos mais propensos a aceitar entre nós uma pessoa que passa por cima de sentimentos considerados bons para chegar num nível mais elevado de humanidade. Evitando assim caírmos nas frequentes armadilhas do acoitadamento e do vitimizado. O melhor deve vencer, não necessariamente o que mais precisa.

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