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Games deixam de ser filmes ruins e viram metáfora
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Rourke, se tivesse lutado só nos jogos a cara estaria mais bonitinha hoje

Discussão sobre se videogames são arte é antiga e chata. Uma notícia publicada hoje no G1, contudo, me levou a escrever este post. Antes de tudo leiam a boa reportagem de Diego Assis:

“A cena é uma das mais emblemáticas de “O lutador”, filme de Darren Aronofsky cuja história se mistura com a própria trajetória de vida do ator Mickey Rourke. Na pele de Randy “The Ram” Robinson, o ex-ídolo da luta livre convida um garoto da vizinhança para disputar uma partida de videogame em seu trailer. Enquanto dá uma surra virtual no garoto, em um jogo estrelado por ele mesmo e que lembra o visual dos games dos anos 1980, Randy recebe uma ducha de água fria:

“Então, você já ouviu falar de ‘Call of duty 4’?”, dispara o garoto, desinteressado no joguinho de luta. “O que?”, pergunta Randy, se atrapalhando com o nome do game do moderno console Xbox 360, um dos preferidos da geração atual: “Call it duty for?”. “Call of duty 4… É um jogo de guerra. A maioria dos outros ‘Call of duty’ é, tipo, baseada na Segunda Guerra Mundial, mas este é no Iraque… é bem legal!”, explica o garoto, impaciente, antes de cortar a brincadeira e se despedir do lutador veterano e seu Nintendo de 8-bits. “Esse jogo é tão velho…”” (Leia a reportagem completa)

Aronofsky é diretor idiossincrático. Assim como consegue fazer proezas estéticas com assuntos indigestos como em “PI” e “Réquiem por um Sonho”, comete bobagens presunçosas como “A Fonte”. Mas, registra-se, é um diretor que discute, sempre, a linguagem do seu meio.

Diego Assis nos explica a relação entre o personagem de Rourke com o jogo velho desenvolvido para o filme. “Criado especialmente para o filme, o jogo batizado de “Wrestle jam!” serve de metáfora para o deslocamento de Randy no mundo real”. Isso me lembrou um outro filme, que passou desapercebido pelo público: “Reine Sobre Mim”, de Mike Binder.

A história é basicamente sobre um sujeito (interpretado por Adam Sandler) que paralisa sua vida após uma tragédia pessoal: perde esposa e filhos no atentado de 11 de setembro. Ele simplesmente não consegue seguir em frente e vira um “freak”, deixa de trabalhar, reforma a cozinha uma vez por semana, só anda de walkmachine (o que para mim seria algo legal) e joga videogame o dia todo.

Igual ao filme de Aronofsky, Binder usa o videogame como metáfora. Só que de um modo ainda mais sensível, pois o jogo é real e só quem conhece a história poderia entender o ponto que o diretor tentou chegar. Sandler é viciado em Shadow Of Colossus. O jogo é a luta de um homem só que tentar vencer um monstro gigantesco. O mostro de Sandler é a perda da família e, como no game, ninguém pode ajudá-lo a vencer o inimigo. Talvez o criador do gameshark possa, mas vocês devem ter entendido o ponto.

É interessante que os jogos comecem a servir de referência para filmes mais sérios e que, com isso, se tornem também biblioteca para referências não só culturais (o que já são), mas artísticas. Jogos não podem ser apenas referência para filmes ruins.

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Imagem de “Wrestle jam!”, criado especialmente para o filme “O lutador”
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