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Maratona no mundo sombrio
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Cena de Silent Hill: a lanterna, controlada pelo wiimote, é quase uma extensão do jogador

Os jogos de terror (ou horror de sobrevivência, como preferem os especialistas) trazem consigo uma contradição digna de estudo sociológico. Num filme do gênero, o êxtase sempre se dá na extensão cirúrgica entre o espaço iminente do susto sugerido com a ação consumada. É quase matemático, como sugeria o diretor Alfred Hitchcock. Nos jogos é um pouco mais difícil entender esta relação, pois a ação pode nunca acontecer, caso o jogador seja bom, ou pode acon­­tecer segundos após a história começar, se o jogador for ruim. Por algum momento a sensação seria de perigo real, pois só depende de você a própria sobrevivência.

Este colunista assiste tranquilamente a filmes de suspense e afins, mas sempre pensa duas vezes antes de se aventurar num jogo do mesmo estilo. É pior quan­­do é preciso um esforço para que se evite uma morte sangrenta. A contradição é: vale a pena se dedicar ao máximo para evitar sustos ou o objetivo é justamente buscar um confronto inevitável e alguns pulos no sofá? Difícil é fazer este tipo de conjectura quando se está jogando Silent Hill: Shattered Memories, lançado no fim do ano passado. Prenda a respiração e aperte “start”.

O jogo conta a história de Har­­ry Mason, que se vê envolto com o desparecimento da filha após um acidente de carro durante uma nevasca. O cenário é a cidade aterrorizante de Silent Hill. Deserta, escura e habitada por seres pouco amigáveis. Junto da filha, Mason também perdeu parte da memória, que será recuperada aos poucos durante sessões de psicanálise.

Tudo começa com o preenchimento de alguns relatórios sobre a personalidade do jogador. Com isso, as ações que vão se desenvolvendo no decorrer da trama são levemente alteradas. Conse­quentemente, há diversos finais possíveis, que vão se alinhavando conforme são respondidas as perguntas no divã. De alguma forma, o protagonista assume um perfil que vai se parecendo com o do jogador, o que leva a uma imersão maior na história.

O lançamento é uma releitura do primeiro jogo da séria, lançado em 1999 para o primeiro Playstation. A jogabilidade e a estrutura narrativa, no entanto, sofreram grandes alterações. O criativo uso do sensor de movimento do controle do Wii é, sem dúvida, um dos pontos positivos desta versão. A lanterna, uma dos poucos itens disponíveis, se move pela tela conforme o movimento do wiimote. Aos poucos, a impressão que se tem é que realmente o foco de luz está partido das mãos do jogador. O controle também poderá ser usado como um telefone (o jogador de­­verá escutar as mensagens pelo autofalante do acessório) e uma máquina fotográfica.

Não adianta ser valente no mundo de Silent Hill, pois não há meios de se matar as criaturas demoníacas que habitam a cidade. A melhor forma de tentar achar a filha é se mover de ma­­neira silenciosa e correr, e muito, quando se deparar com um mons­­tro. Caso algum agarre o protagonista, é preciso tentar se livrar dele mexendo rapidamente o controle. Os golpes afastam o inimigo. Então é preciso correr mais um pouco.

Silent Hill: Shattered Memories é competente no que se propõe. Mes­­mo assim, a produtora Ko­­nami poderia ter tido um maior cuidado com o resultado final. A duração é curta, cerca de cinco ho­­ras, e os quebra-cabeças são demasiadamente fáceis. Por outro lado, o fato de o jogo utilizar respostas para montar a história dá a possibilidade de se jogar novamente e obter finais diferentes. Para este amedrontado colunista, uma vez já está de bom tamanho.

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