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Mario entre as estrelas
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Mário em ação: jogabilidade é uma forma de narrativa

Dez milhões de dólares conseguem, na maioria das vezes, produzir jogos modestos. Com a importância comercial da indústria dos videogames hoje em dia, os gastos com desenvolvimento chegaram ao patamar de Holy­wood. Entre os mais caros en­­contramos projetos que passaram da casa dos U$ 100 milhões, como Grand Theft Auto IV. US$ 10 milhões, no entanto, foram o suficiente para a Nintendo mostrar que, independentemente do volume de dinheiro empregado, o coração dos jogos continua sendo uma boa ideia bem executada. Super Mario Galaxy 2, lançado para o Wii na última semana, é melhor exemplo que se poderia dar.

Por se tratar do maior personagem dos games até hoje, a Nintendo não poupou esforços para que a nova aventura do encanador bigodudo se colocasse entre os melhores jogos da geração. É um discurso um pouco óbvio, mas é também inegável reconhecer que, mesmo após quase três décadas, Mario ainda é referência quando se fala em um bom jogo. E não se pode desprezar a comoção que gera a cada nova aventura. A fórmula, por mais batida que seja, funciona de forma sensacional.

Quais os fatores que levam uma crítica a classificar se um jo­­go é bom ou ruim? De uma ma­­neira mais simplista, pode-se dizer que parte dos críticos adota um tom mais técnico e avalia as qualidades gráfica, sonora, resposta de comandos e afins. Faz-se uma média e a nota final vai pra um ranking, se conseguir uma média de análises acima de 9 é considerado um produto indispensável. Já outra parte da crítica, bem menor, foca na experiência. Não importam se os gráficos apresentam serrilhados, vale mais analisar co­­mo o mecanismo de controle é usado no universo criado pe­­los desenvolvedores. Até notas são dei­­xadas de lado. Co­­mo ser tão exato nu­­ma narrativa que nem sequer foi estudada? Fica a questão.

Até o fechamento desta coluna, Super Mario Galaxy 2 mantinha uma média de 9,8 pontos no site Metacric, que faz uma média com as notas das principais publicações. Isto quer dizer que, segundo os críticos mais técnicos, o jogo é quase perfeito e um dos melhores já feitos em toda a história. Exagero? Talvez.

Comecemos pela história. Assim como em quase to­­das versões anteriores, o arqui-inimigo Bowser sequestra a princesa Peach e ameaça destruir todo o universo. Mario tem que apenas salvar o mundo e a princesa. Quem daria nota 10 para este roteiro? Partamos agora para a movimentação. SMG2 é um jogo em 3D e em terceira pessoa, como vários antecessores. A movimentação entre fases é idêntica a que era feita na década de 80. É quase 100% igual à primeira versão lançada para o Wii, em 2007. Quem daria nota 10? Já os gráficos, limitados por um hardware defasado do Wii, são po­­bres. Dez? Nem de longe.

Existe algo de especial em Super Mario Galaxy 2 e em outras grandes aparições do mas­­cote da Nintendo, co­­mo Super Mario Bros. 3 (NES) e Super Mario 64 (N64), marcos da indústria. A experiência de controlar o personagem é tão calibrada que, de certa forma, deturpa as avaliações mais técnicas. A sensação de realização em cumprir etapas, desvendar pequenos que­­bra-cabeças, coletar itens – todas ideias velhas – gera a deturpação. Mario é a melhor imagem para explicar o termo “jogabilidade”, única qualidade que realmente diferencia os videogames de qualquer outra forma narrativa. O termo ainda é confuso para a maioria das pessoas, que prefere insinuar que é “coisa de criança”. O fato, porém, é que “jogabilidade” é a mais moderna forma narrativa. Hoje pareceria estranho um crítico de cinema, por exemplo, avaliar um filme dando notas para en­­quadramento, trilha sonora ou interpretação. Mas foi preciso que o russo Sergei Eisenstein teorizasse para que ficasse óbvio que a linguagem do cinema era a edição (ou montagem), um re­­curso artístico para aflorar os signos do espectador.

Nos videogames ainda não apareceu nenhum Eisenstein para mostrar como a “jogabilidade”, o ato de conduzir algo em um ambiente controlado, é definitivamente a base da narrativa dos videogames. Shigeru Miya­moto, mente por trás dos melhores jogos do Mario, torna isso mais claro, mas não explica. Su­­per Mario Galaxy 2 só poderia levar uma nota 10 na categoria “jogabilidade”. As outras qualidades, neste caso, pouco importam. Que fiquem para os jogos de U$ 100 milhões.

– Manja o Twitter? Estou por lá provisoriamnete

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