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Oasis e o playback em Curitiba
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Antônio Costa/Gazeta do Povo
Oasis, banda comandada pelos irmãos Gallagher, subiu ao placo da Arena Expo Trade às 19h55

A minha tenra idade já me dá alertas necessários de que é bom me cuidar. As cerca de 10 horas que passo dentro de uma redação de jornal fizeram meus joelhos acusarem o golpe. Fico alguns minutos numa mesma posição e um deles já começa a doer. Shows, por exemplo, me dão uma dor no âmago se não me mexo muito. Daí criei a “escala patelar”. Avalio os eventos de acordo com as fisgadas na articulação. É a escala de Richter da minha vida cultural.

“Vocês pagaram R$ 80 reais por isso?”, perguntou-me uma funcionária da organização no fim do show do Oasis, que rolou em Curitiba neste domingo. Um tímido “sim” foi a resposta. Não que a tiazona fosse a pessoa mais recomendada para fazer uma análise aprofundada sobre a performance do grupo inglês. A sinceridade dela, no entanto, derrubou o lide que eu havia tramado minutos antes. Às vezes a ingenuidade da ignorância é mais contundente que um parágrafo pensado por horas. A pergunta dela me rendeu quatro fisgadas no joelho.

Poderia ter sido mal educado. “Quando eu for num show do Agnaldo Rayol te respondo”, deveria ter dito. Afinal ela estava ali para ajudar. E estava sendo paga. Mas a sacana bateu forte e dolorido em algo que não podia negar: o Oasis só bateu ponto em Curitiba. E nem fizeram hora-extra.

Não cronometrei, mas o show deve ter durado 1h30. Coisa rápida. Para mim foi um pouco menos, já que cheguei na terceira música. Atraso na medida para evitar pegar qualquer parte da apresentação do Cachorro Grande.

E o que não deveria ter dado certo deu. Sem filas, vagas disponíveis no estacionamento e cerveja gelada (!). Para as viúvas da Pedreira fica o alerta: a capital paranaense tem sim bom espaço para shows grandes, o que parece não ter é interesse mesmo.

O melhor de tudo: a qualidade do som estava incrível. As músicas pareciam faixas tocadas em um CD tal som cristalino que ecoava pelos alto-falantes. As músicas realmente pareciam estar sendo tocadas em um estúdio. Lá pela terceira, quando ainda pensava nisso, me dei conta como justamente essa “limpeza” estava avacalhando com o show. Hey, CD eu escuto em casa. Superhits tocados de forma perfeita, límpida e gélida. Os músicos, que pareciam estar no automático, estavam visivelmente cumprindo contrato. Nem as famosas tiradinhas com o público Liam parecia a fim de fazer. O máximo foi um “voltaremos”.

O público também parecia desconectado. Ou os fãs acompanham tanto a vida dos ingleses que já sabem o roteiro. Confesso que houve constrangimento de minha parte quando os irmãos Gallagher saíram do palco. Era aquele momento para trocar cabos, beber água e que, de praxe, a plateia pede a volta dos músicos. Nada aconteceu da parte dos pagantes. Nem um “volta”. Lógico que todos sabiam que eles iam voltar, só que não custava nada os 10 mil presentes seguirem o protocolo. Até o joelho reclamou.

Há um enigmático efeito potencializador nos shows. Quando a música é boa ela normalmente fica melhor ao vivo. Já quando é ruim fica intragável. Lembrei disso quando começou “Champagne Supernova” e seus intermináveis sete minutos. Hora de mexer as pernas e enganar o joelho.

É claro que o Oasis não precisa mais fazer shows empolgantes. Eles construíram a carreira de forma sólida e entupiram os bolsos com libras. Esperar uma apresentação catártica era querer muito. Houve até certa boa vontade do lado de lá. Nada, porém, que realmente empolgasse.

A escolha do set list é matemática. Mistura canções novas com as mais conhecidas, pausa para relaxar e rock até fechar com “I am The Walrus”. Não que eu seja fã dos Beatles. Agora que a versão dos irmãos ficou muito distante da original não tenho dúvidas. E isso é uma crítica.

Que o show foi bom não há dúvidas. Mas nada que fique muito acima do medíocre. Músicos desse calibre sabem muito bem como agradar a patuleia quando querem. Se tivesse rolado playback ninguém teria notado e, quem sabe, eu tivesse pensado menos nos meus joelhos.

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