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Quebrando a cabeça contra o tempo
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Arte de Ecoshift: um mundo onde tudo pode mudar, repleto de ilusões de ótica e ede perspectivas enganadoras

Os jogos de quebra-cabeça talvez sejam os mais po­­pulares no mundo. Te­­tris, a obra-prima do gê­­nero, está entre os mais vendidos de todos os tempos. Somente uma das milhares de versões existentes do jogo desenvolvido pelos russos Alexey Pajitnov e Dmitry Pavlovs­ky, há 25 anos, chegou a marca de 100 milhões de cópias vendidas apenas em telefones celulares. Seria impossível chegar a um balanço exato que contemplasse o sucesso de Tetris nos videogames, computadores, minigames, televisores e outras tantas bugigangas tecnológicas.

Identificar objetivamente as causas que transformaram Tetris em um marco na indústria não é das tarefas mais fáceis, pois o game apresenta um mecanismo fechado, sem enredo, história ou personagens. A narrativa nasce e morre nela mesma, já que não há signos reconhecíveis em outros meios. São formas geométricas coloridas que devem ser amontoadas numa lógica exata em um determinado tempo. No fundo, pode representar o núcleo de qualquer jogo existente. Um objetivo a ser alcançado respeitando as regras criadas em um ambiente controlado. Em um paralelo, Tetris é como se colocasse em movimento as obras do pintor ucraniano Kazimir Malevich, cuja a teoria suprematista defendia que o objetivo dos objetos retratados era despertar ou potencializar sentimentos. Quase todos os quebra-cabeças derivados de Tetris conquistam o jogador ao tornar a experiência claustrofóbica, estressante e desafiante. Poucos títulos geram tanta tensão com tão poucos recursos.

Duas evoluções se destacaram. Rez, lançado em 2001, transformou a experiência bidimensional num desafio em perspectiva. Já Echochrome, de 2008, brincou com a própria perspectiva. Inspirado explicitamente no trabalho do artista gráfico holandês M. C. Escher, Echochrome deturpa as noções de profundidade e representação num ambiente geométrico em que só vale o que é mostrado. Por exemplo, em uma reta horizontal há um buraco. Se a câmera for posicionada de modo que uma coluna vertical cubra o campo de visão, o buraco será escondido e, com isso, deixa de existir. Só o que é visto é verdadeiro, o que vai contrário às normas cerebrais que insistem em completar as informações de forma condicionadas. São dezenas de ilusões de ótica programadas para criar pegadinhas no cérebro, tornando necessário um esforço extra para se enxergar uma imagem de uma nova maneira.

Os mesmo criadores de Echo­chrome, no entanto, acharam pouco e lançaram no mês passado uma nova versão que prometia ir mais longe. Echoshift, disponível para o portátil PSP e na loja online do PS3, inclui um elemento a mais na equação que une geometria e quebra-cabeça. Agora, o tempo vira o enigma. Os gráficos de Echoshift mantém a arte espartana de seu antecessor. Um boneco de poucas formas é conduzido num ambiente repleto de mecanismos que impedem que se chegue à porta final. Ao todo, são 30 fases com 45 níveis para serem desvendados. É um jogo para ser desfrutado sozinho, mas é necessário a ajuda de um terceiro, que neste caso é o próprio jogador em uma linha de tempo paralela. Exemplificando: com um boneco atinge-se uma plataforma que contém um obstáculo que só pode ser transposto ao se manter apertado um botão. Como não se pode pressionar o botão e atravessar o entrave ao mesmo tempo, é necessário recorrer há um segundo boneco operado momentos depois ou anteriores ao primeiro. A primeira ação fica registrada, o boneco aperta o botão. Na segunda linha temporal, o boneco atravessa o obstáculo e aciona um outro mecanismo, que ajudará o primeiro a também fazer a travessia. Complicado? Um pouco, mas a ideia central é que um mesmo personagem resolva uma série de quebra-cabeças interagindo com ele mesmo em tempos diferentes.

Echoshift é um quebra-cabeça único em sua proposta. Com um bom acabamento visual e sonoro, não representa, entretanto, uma evolução em relação aos outros jogos citados, mesmo com o ousado mecanismo de brincar com o tempo. A principal vantagem dele é, no fim das contas, o preço. Por cerca de R$ 20 (se adquirido na loja online do PS3) o jogador passará horas tentando decifrar os enigmas do tempo.

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