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Uma locadora muito louca
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Divulgação

Michael Gondry entrou para a história do cinema em 2004. E quase colocou tudo a perder dois anos depois com sua viagem ególatra chamada “Ciência do Sono”. Então veio o pequeno “Rebobine, por favor” e resolvi dar mais uma chance para o francês.

Para resumir o enredo: “A história de filme, cujo elenco é composto por Jack Black, Mos Def, Danny Glover e Mia Farrow, roda em torno de uma vídeo locadora que, acidentalmente, tem suas VHS apagadas. Para atender a clientela, o balconista da loja (Def) se junta ao amigo (Black) para refilmar de forma amadora filmes como “Os Caça-Fantasmas”, “Robocop”, “Conduzindo Miss Daisy” e “Hora do Rush”. Tal prática foi batizada de “sweeded” ou “suecar”. No Youtube, por exemplo, pode-se conferir vários filmes “suecados” por fãs do filme”, trecho chupado da Wikipédia.

O resultado é estranhamente interessante. Num primeiro momento pode-se pensar que o diretor está discutindo apenas os novos formatos brincando com os velhos. Explico. Os “fans movies” se tornaram febre desde o lançamento da internet. Hoje, é difícil negar o fato de que um filme caseiro consiga atingir milhões de pessoas. É só buscar os mais vistos do Youtube para comprovar.

Lógico que não há um retorno financeiro para isso, como o filme de Gondry mostra. Mas há uma grande procura por material produzido pelo próximo, sem passar pelas mãos dos departamentos de marketing de Hollywood. Como produto cultural, no entanto, o resultado dessas produções mambembe é péssimo. Divertido, porém. Até um site especializado em filmes suecados surgiu para catalogar o pior que está sendo produzido. Dá para se perder horas ali. Como a suecada de “Exterminator do Futuro 2”. Confiram:

Num segundo momento, começa-se a perceber que o diretor está usando de uma ironia contida para contar sua história e fazer um elogio para seus iguais. Ora, quem foram os primeiros na história do cinema que decidiram fazer suas versões para filmes hollywoodianos? Os franceses, lógico, lá no final da década de 1950, quando nem internet havia.

“Rebobine” é isso. Uma bela homenagem às mentes do Nouvelle Vague, movimento que surgiu como um contraponto ao que estava sendo feito até então. Jean-Luc Godard e François Truffaut, entre tantos, resolveram rediscutir a estética vigente e, ao mesmo tempo, homenagear os grandes filmes dos quais eram fãs.

“Acossado”, por exemplo, é um “film noir”. Nunca no cinema comercial uma perseguição havia sido interrompida por um problema mecânico, ou um pneu furado. Aí estava a graça. Além disso, o espectador era lembrado a cada minuto que se tratava de um filme. Só um filme. Era, digamos assim, refrescante.

Não havia Youtube e, com isso, os filmes não precisavam ter apenas dez minutos. Nem precisavam respeitar os 110 minutos padrão. Importava mais a vontade e a criatividade que o resultado em si. Não que o produto final fosse ruim. Eles só acreditavam que não precisavam se levar tão a sério, principalmente no caso de Godard, que há gerações é visto erroneamente como um diretor intrincado.

Umas das qualidades do longa de Gondry é justamente ter sido feito para não se levar a sério. Ver e esquecer. E deixar isso muito claro para o espectador. Honesto.

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