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Homem Canibal devora Cartola com Samba Russo

Da coluna Acordes Locais, que sai às quartas-feiras, na Gazeta do Povo

A banda Homem Canibal está lançando o disco

A banda Homem Canibal está lançando o disco “Samba Russo”

Há algumas músicas que, generosas, se permitem gravar muitas e muitas vezes passando de um para outro cantor, deixando-se levar, volúveis e passivas. Há outras que ao encontrar um intérprete se entregam tão completamente a este amor que ficam para sempre marcadas por aquela interpretação definitiva. Em 1976, um dedilhado de violão e um fagote introduziram a voz inconfundivel de Cartola a cantar “Deixe-me, preciso andar / Vou por aí a procurar / Rir para não chorar…” Desde então, os versos de Candeia ficaram eternamente marcados como propriedade de Cartola.

Agora, uma banda de Curitiba ousa desafiar o eterno e conquistar para si o amor e o calor da canção clássica. No lugar do violão e do fagote, uma guitarra minimalista, uma cuíca e uma bateria seca. Em vez da voz rouca e singela de Cartola, uma voz roqueira. Sim, a banda Homem Canibal, que lança o disco “Samba Russo”, ousou e se saiu muito bem ao regravar “Preciso me encontrar”, que Candeia havia feito especialmente para Cartola e foi registrada no segundo disco do músico, gravado pelo selo Discos Marcus Pereira.

Pela estranheza, ousadia e excelência, “Preciso me encontrar” é o grande destaque do disco. Além dela, me agradam também a sequência do miolo. “O velho da mata”, uma espécie de catarse expulsando medos e pesadelos (abro parênteses para lembrar que essa música poderia estar presente no disco “Monstros que não existem, mas que eu acredito”, da banda Penitentes); “Mais do que a imensidão”, um esperto baião’n’roll; e “Samba triste”, que de triste não tem nada, e conta com a participação de um set especial de percussão, aproveitando que o percussionista Carlos Coelho Rocha é diretor de bateria de uma torcida organizada.

A façanha da Homem Canibal com “preciso me encontrar” só foi possível porque ela não é uma banda de cover, muito menos uma banda de samba, ou de MPB (clássico ou universitário). É difícil resumir em um rótulo o que é a Homem Canibal, que está no quarto trabalho de uma carreira prestes a completar dez anos.

O samba-elétrico ou o rock batucado, sambado da Homem Canibal se distancia do que costumou-se chamar de samba-rock brasileiro. A banda canibaliza várias linguagens para construir um som próprio. Pode ser um samba pesado com guitarras heavy e distorcidas do ótimo Gilson Fukushima, que assina a produção e a maioria dos arranjos, junto com o baterista Val de Oliveira. Pode ser rock impuro, com uma percussão com referências de umbanda, mas com mão pesada. Um baixo que passeia do melódico ao quebradiço.

É um disco forte e poderoso como a voz de Thiago Menegassi, o principal compositor do grupo, com sua dicção que decanta sílaba por sílaba mesmo nas faixas mais pesadas e guturais. Assim como o canto, o instrumental da Homem Canibal também é forte, pesado e ao mesmo tempo claro e bem definido.

**** Três passos atrás na Cultura

O velho ditado ensina que por vezes é preciso dar um passo atrás para avançar dois à frente. O governo Beto Richa está subvertendo esta lógica na pasta da Cultura e dando três passos atrás para avançar um à frente. Primeiro, tirou a Rádio e TV Educativa (E-Paraná) da Cultura para passar à Comunicação. Segundo, agora quer torná-la um serviço social autônomo, o que significa uma semiprivatização. Terceiro, propõe fundir as pastas da Cultura e do Turismo em uma só secretaria.

A justificativa nos três casos é a de baixar custos sem prejudicar o “bom” andamento dos trabalhos.

Os funcionários da Secretaria da Cultura e da E-Paraná já estão sobrecarregados, mal pagos e conseguem fazer um trabalho criativo e de boa qualidade. Por outro lado, os apaniguados, puxa-sacos e protegidos que não estão nem aí para o trabalho e só pensam em política e em agradar o chefe são cada vez mais prestigiados e bem pagos. Uma boa varrida nesses politiqueiros daninhos proporcionaria uma economia e tanto para o estado, que não precisaria sacrificar a Cultura.

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