• Carregando...

No post anterior questionei por que a música dos paranaenses não toca nas rádios do Paraná. Só em alguns programas especiais – normalmente em horários proibitivos – é possível ouvir a nossa boa música. É importante lembrar que não é porque é do Paraná que tem de tocar, mas porque é boa. Alguns leitores deixaram seu comentário e indicaram algumas possibilidades de se escutar, em programas e rádios específicos. O radialista e músico Mauro Mueller, com 26 anos de experiência no rádio local, tem muito mais a dizer e escreveu sua opinião, de alguém que vive os dois lados do problema. Leiam a carta dele e depois deixem seus comentários:

“LUIZ:

Sou radialista há 26 anos. Músico um pouco mais que isto. Esta sua pergunta no jornal do dia 9 nunca saiu dos jornais, rodas de conversa, estúdios, bares, palcos, debates de música, sempre ouço público, jornalistas, críticos e músicos fazendo:

Cadê a música paranaense nas rádios do Paraná?

Muitos músicos acham que eu, por ser músico, tenho obrigação de tocar música local na rádio para defender a classe. Por ser radialista, quando tenho um projeto de benefício aos artistas locais, os meus companheiros radialistas sempre falam: “Lá vem ele de novo pra fazer projeto de apoio música local”. Sempre convivi com essas críticas na maior tranqüilidade, seja na música, rádio, televisão (e agora no teatro, atividade mais recente).

Depois de ver muitas pessoas culparem público, empresas, instituições, governos, respondo: RÁDIO NÃO É PROJETOR, RÁDIO É REFLEXO… a rádio que mais tem resultados positivos é aquela que mais reflete o sentimento público do segmento a que se propõe. Seja qual for o estilo que a rádio faz. Óbvio, não? Mas nem sempre as pessoas estão preparadas para este óbvio. A rádio tem que estar ligada no movimento do mundo e executar as músicas, o entretenimento e as informações que refletem no sentimento e o movimento do planeta, seja ele cultural, social ou político. Se o artista paranaense fizer parte deste movimento, seja ele no gueto, na cidade, no underground ou no mainstream, a rádio precisa estar antenada e tocar.

Claro que a competência para saber valorizar este movimento fica à cargo do radialista. Mas os resultados de audiência e demais resultados da emissora são medidos pela opinião pública e ela não perdoa estes erros. Festivais, projetos de apoio, patrocinadores, parceiros, só vão existir se houver um circuito. O Circuito só vai existir se houver movimento. O movimento é feito pelo conjunto entre artista e público. Qual é a probabilidade de você sintonizar o rádio e ouvir um artista paranaense? Se muitos ouvintes ligarem para a rádio, o cara que faz a seleção musical vai se interessar em ir atrás do artista solicitado. Se o músico tiver levado a música na rádio, meio caminho andado. Se o artista tocar ao vivo, tiver um site, youtube, my space, blog e conseguir chegar a um número máximo de pessoas, a rádio vai atrás, só isso. Rádios alternativas, educativas e comunitárias tem um pouco mais de liberdade de tocar “menos” mainstream, porque falam para um público mais aberto à novidades e propostas fora da grande mídia. As rádios “pop” (que dependem de maior audiência) tem um play list menor, mas todas elas devem seguir o mesmo comportamento. Tocar o que o povo quer ouvir. Acho que você até esperou o clichê de falar que o artista deve ir onde o povo está. Mais uma vez a frase do artista genial é óbvia.

O radialista não pode enfiar seu gosto musical, sentimento ideológico, sua veia paranaense no ouvido do público. O radialista deve prestar atenção no movimento do mercado e obedecendo. Ah, mas se ele estiver agindo em favor do poder econômico, da gravadora, da produtora, do acerto, do jabá? Mesma coisa… este profissional estará fadado ao fracasso. O empresário idem. Perde audiência, faturamento, credibilidade, fecha… basta olhar a história e perceber as rádios que faliram ao longo dos tempos em Curitiba: Estúdio 96, Estação Primeira, Alternativa, Antena 1, Transamérica Hits Curitiba, entre outras. A 89 Fm de São Paulo resolveu mudar seu estilo para não fechar. E as rádios Fluminense Fm e a Cidade Fm do Rio… são tantos exemplos de manifestações que existiam com ideologia, mas sem estratégia de mercado fecharam. Qualquer proposta profissional deve atender as expectativas de um mínimo de público para existir. E sem ser anti-ético, tem rádio com data de vencimento em Curitiba, por não estarem focadas neste básico ciclo de comunicação. A quantidade de audiência e valores de resultados vão determinar o tamanho da entidade, empresa, instituição e vai dizer quanto tempo ele poderá existir.

Abraço,

Mauro Mueller
www.mauromueller.blogspot.com
www.palcomp3.com.br/mauromueller

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]