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Terminal Guadalupe – o retorno
| Foto:
Douglas Fróis
O novo Terminal Guadalupe; da esquerda para a direita: Felipe, Dartagnan, Diogo, Cláudio e Dary Jr.

O Terminal Guadalupe depois de um breve tempo fechado, está reformado, reestruturado e operando normalmente. Como este é um espaço dedicado à música paranaense, vocês sabem de qual Terminal Guadalupe estou falando. Daquele amado ou odiado, que esteve a um passo de uma consagração nacional quando foi abruptamente interrompido por motivos que nunca ficarão explicados totalmente pois na cabeça de cada um dos componentes da banda, ou de cada um dos fãs, ou de cada um dos detratores sempre haverá um motivo diferente. Mas a vida é assim, as coisas têm começo, meio e fim, poderia dizer o poeta. E depois de um tempo e uma mudança, Dary Jr. o vocalista, principal letrista e mentor intelectual da velha banda espanou a poeira dos destroços, emprestou a coragem de pai recente e refundou o TG, agora com nova formação, mas sob a mesma administração. Passado é passado, não vou me ater a ele. Vamos em frente,

A “nova-velha” banda fez um projeto trazendo convidados ao Guairinha e tocando ao vivo. Do projeto, surge o primeiro registro fonográfico da nova formação – Dary Jr. (voz e violão), Cláudio Farinhaque (guitarra, violão e vocal), Diogo Roesler (baixo e vocal), Phill (bateria) e Dartagnan Filho (teclados). Está no forno o EP “O explorador de telhados”, com quatro músicas – três inéditas na versão do TG e um bônus, que vem a ser justamente a primeira música feita por Dary para o Terminal e agora é revista e reinterpretada.

Vamos às músicas e suas respectivas letras – sim, Terminal Guadalupe, sem mostrar as letras é mostrar meio trabalho, meia banda. Vamos lá. Seguem as letras e depois os comentários:

1 – “O Gongo” (letra e música de Dary Jr.)

Para onde vai?
Quero ir também
Ou não
Faz tanto tempo que deixei de dar sentido
Ao que realmente me nutria
Cada gesto de ternura feito sob encomenda
Parecia uma tenda passional – um vasto lar

E a casa cai
Ainda bem
Razão
O pranto é exemplo de que a máscara chinesa
Pode bem ruir um dia
São estilhaços de amargura – forte, plena, óbvia, crua
A morte acena, toda pura, para a farsa terminar

Mas agora eu sou mentor
Nada é capaz de brecar o que a vida acelerou
A cria do mundo, sem arrimo, se converte em homem bom
Alguém saiu do tom

Se crescer dói
Que venha a dor
Drummond
Todo poeta sabe que ficar maduro
Leva tempo e traz perda
Eu beijo a lona enquanto posso, sobrevivo ao nocaute
E, apesar do golpe baixo, o gongo soa sem parar

Eis a senha, meu amor
Qualquer revanche só alimenta o ego arisco do rancor
Tristeza ou ódio, o que importa se uma linda história jaz?
Eu tenho o que me apraz

Dary dá todo o poder à letra, à poesia, e sempre tem um ponto de vista pessoal do mundo, do social, do político. A letra se esparrama sobre a música, se extravasa. A música tem pouca influência estética dentro da peça. É uma linha melódica adaptada para dar suporte à letra, esta sim, imponente. Não, não é uma crítica, Dary está em boa companhia, se vocês lembrarem, guardadas as devidas proporções, dos trabalhos de Bob Dylan ou Renato Russo, apenas para exemplificar.

2 – “Força” (Letra: Dary Jr. Música: Fábio Serpe)

Eu ousei viver
Ganhei o mundo como trovador
E quanto a você?
Condena tudo o mais por desamor

Se o tempo ainda corre a seu favor
Olhe menos para o calcanhar
O que não vem com sangue e suor
Tira o brilho do que faz sonhar

Confie em mim
Abra o coração
Mas seja forte até o fim
E acredite na canção

Pparceria com Fábio Serpe (ex-Sinhá Vitória, atual Supertônica). Uma balada/rock em que Dary dá força às palavras numa interpretação que começa suave e depois se torna carregada, gritada. Com uma produção mais limpa (mas que não tire a energia da canção), dá para tocar no rádio, na TV e fazer sucesso.

3 – “Sal de Fruta” (Letra e Música: Eduardo Cirino)

O meu passado arquivei em gavetas
Não quero mais olhar pra trás
Quero uma escada rolante que me leve para o ar
Sem nenhum contato com o chão
Com um walkman em minhas mãos ouvindo Enya

Elevadores são salas de espera
Levam pro inferno ou pro céu
Prefiro ficar no térreo e descobrir o meu papel
Nesse teatro sem explicação
Onde o cenário muda a toda hora
Como a tela da televisão

Vou pular, vou pular, vou pular
Numa piscina com água e sal de fruta
Que me dê motivo para flutuar
Vou me livrar dessa lei da gravidade
Que me puxa pra baixo
Quero ser do acaso

Dary nunca negou ser admirador da banda Poléxia e esta é uma homenagem a ela. Eduardo Cirino era tecladista desta que foi uma das principais bandas do cenário rock curitibano. No show, a música é apresentada como “um clássico do rock local”. Rock mais “pegado”, próximo do punk, com esta letra que transmite uma sensação de incompletude, de não pertencimento, e junta ao mesmo tempo a fuga e a busca. Um novo simbolismo no século 21.

4 – “Burocracia Romântica”
(Letra e Música: Dary Jr.)

Calei o peito
Travei a língua
Neguei a sede
Renunciei

Queria colo
Perdi a hora
No baque surdo
Me apequenei

Insensatez é desejar o que os nossos olhos mentem
O medo, sim, prevalece
E as almas nunca mais se encantam

Molhei a febre
Curvei os ombros
Passei vontade
Adoeci

Roí as unhas
Mordi os lábios
Pedi a trégua
E recuei

Coragem foi reconhecer que até os beijos nos separam
Em vão, busquei o grande amor
Aquele que jamais deu certo

Silenciei a dor
O verbo da paixão é mudo
Abala o nosso orgulho e pisoteia o coração
Quem vai me atirar pedras?
Ou nunca teve um pé atrás?
Se fui só ameaça
Então é o que lhe convém
Foi para o seu próprio bem

Como o próprio Dary descreveu: “Segue a última canção do EP, o bônus “Burocracia Romântica”, um canção que compus para a estreia do Terminal Guadalupe, em 2002. O novo arranjo tem uma introdução ao piano e, no fim, um trecho de “Ok Ok”, da banda goiana Violins. A letra é inspirada em crônica de Jamil Snege, “Para matar um grande amor”, publicada em 2000 na Gazeta do Povo. Em tempo: inicialmente, o EP só teria as três primeiras canções, mas esta versão ficou tão bacana que se impôs”

Agora é esperar que o trabalho venha a público. Ele está sendo mixado e em breve a banda colocará à disposição dos fãs.

A seguir, um depoimento de Dary Jr. sobre a nova fase do Terminal Guadalupe

Douglas Frois/Divulgação

“Trabalho com a banda na medida da minha realidade e da disponibilidade dos outros integrantes.

Eu e o tecladista Dartagnan Filho, consultor do Ministério da Educação, temos empregos fixos e famílias em Curitiba.

Os outros integrantes moram em São Bento do Sul (SC), onde seguem com o trio Monolito.

São eles: os irmãos Cláudio (guitarra, violão e vocal) e Felipe Farinhaque (bateria), jovens e bem-sucedidos empreendedores, e Diogo Roesler (baixo), na flor de seus 20 anos, culto e talentosíssimo, o único que se dedica exclusivamente à música.

Com eles, acredito, o Terminal Guadalupe conseguiu equilibrar mais a relação entre performance e execução.

Se o show ficou um pouco menos “explosivo”, também é verdade que os timbres tornaram-se mais claros.

Há, por certo, novos elementos na sonoridade.

O Dartagnan é fã de rock progressivo, Cláudio tem um pé no hard e no stoner rock, enquanto Felipe, surfista, curte música mais “ensolarada”.

Diogo ouve e toca tudo, além de cantar que é uma beleza.

Essas mudanças vão ficar mais evidentes conforme as novas canções ficarem prontas.

No entanto, o TG sempre será uma banda pop de garagem.

Não há grandes pretensões.

Agora, vamos lançar o EP “O explorador de telhados”, gravado no Teatro Guairinha em 8 de novembro, durante a reestreia do projeto “Terminal Guadalupe apresenta…”, nosso microfestival.

“O Gongo”, letra e música deste sacripanta, é uma canção que remete a OMD (pelo instrumental) e a Picassos Falsos (pela letra), e fecha o baú de referências oitentistas que marcaram grande parte da nossa produção.

“Força”, uma letra minha que Fábio Serpe (ex-Sinhá Vitória, hoje Supertônica) musicou, resvala nas baladas clássicas dos anos 70 e no britpop.

As letras seguem meu padrão “Ken Loach”, inspirado no cineasta britânico, de observar o mundo até quando se fala de amor, embora ambas tenham muito a ver com a tal resiliência, algo que só conheço de ouvir falar, mas que tenho vivido na prática desde sempre.

“Sal de Fruta” é uma pérola do rock curitibano e foi a primeira música a tornar a extinta banda Poléxia conhecida. O arranjo é totalmente diferente da versão original. Já era tocada pelas formações anteriores do TG e sempre pedida pelos fãs das duas bandas.

“Burocracia Romântica” entra no EP como bônus. Ela foi recentemente escolhida para o Top 3 das grandes canções do rock curitibano da década numa enquete promovida pelo publicitário Túlio Bragança, o mesmo do Pagodeversions. O arranjo também foi reformulado e contou com uma inclusão de um trecho de “Ok Ok”, da banda goiana Violins, de quem sou fã.

No dia 18 de dezembro, às 18:30, vai ao ar, pela TV Sinal (canais 16 da NET e 99 da TVA, em Curitiba), um especial sobre a banda.

Em 2010, queremos trabalhar no próximo álbum de músicas inéditas e voltar a circular pelo interior e por outros Estados.

As músicas desse futuro trabalho estão rascunhadas e devem gerar um disco duplo, “Massa/Crítica”.

Um grande abraço.”

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